Novo 'Tomb Raider' faz de Lara Croft a maior mulher nos games

Arqueóloga esbanja coragem, inteligência e independência em novo jogo. Aventura de Lara Croft é exclusiva do Xbox One e Xbox 360 até 2016


Da última vez que a vimos, Lara Croft sofreu. E sofreu muito. Depois de naufragar numa ilha cheia de fenômenos sobrenaturais, ela despencou de alturas inacreditáveis, se machucou em armadilhas de espinhos e viu seus amigos morrerem. Mas você acha que isso foi suficiente para impedir a srta. Croft? Pois Lara caiu. Mas voltou mais forte.

Determinada a decifrar a obsessão que tirou a vida de seu pai, ela vai agora até a Sibéria atrás do segredo da imortalidade. Esse é o pretexto de "Rise of the Tomb Raider", uma aventura maior e melhor que a anterior em muitos aspectos.

E se na década de 1990 a heroína era menos uma representante feminina nos jogos e (muito) mais um retrato sexualizado, a história tomou um rumo totalmente diferente nos últimos anos. A nova Lara Croft esbanja coragem, inteligência e independência e, em "Rise of the Tomb Raider", se confirma como a personagem mulher mais relevante dos videogames atualmente.

Ruína e ascensão

O caminho não foi fácil, porém. A série "Tomb Raider" precisou chegar ao fundo da tumba para a produtora Crystal Dynamics entender que quanto maior o decote de Lara, menos sentido ela fazia.

Esse processo de humanização começou no "reboot" de 2013, em que a arqueóloga passou por poucas e boas para fugir da ilha de Yamatai. Mas se naquela época tudo acontecia por acaso, e Lara precisava se virar nos 30 para sobreviver, em "Rise of the Tomb Raider" a arqueóloga põe a vida em risco de caso pensado. Ela é senhora do seu destino.

É nítido o esforço da Crystal Dynamics de empoderar (para usar um termo bem atual) Lara Croft desde o início e retratá-la como essa mulher confiante e madura que, apesar de ainda perturbada pelos eventos em Yamatai, está obstinada a ir até o fim do mundo para alcançar seus objetivos.

Logo no começo do jogo, por exemplo, Lara chega com Jacob, o personagem com quem ela mais interage, a uma área cheia de soldados. Sem nem dar tempo de supor que o homem assumiria a bronca, como acontece na grande maioria dos games, Lara vai pro pau e dá cabo de todos os inimigos.

Mais para frente, o mesmo Jacob pede ajuda e tenta persuadir nossa heroína a desistir de sua missão. Lara, como a pessoa segura que é, oferece seus esforços, mas nunca pondo em cheque suas motivações.

São detalhes como esses, salpicados ao longo da jornada de Lara Croft pela Síria e Sibéria, que, quando somados, e vistos sob a perspectiva atualíssima das discussões de igualdade de sexo e representativade, fazem toda a diferença. A Crystal Dynamics faz questão de desafiar estereótipos e se sai muito bem.

Lara agora é uma pessoa de verdade, ainda mais porque tudo isso é contado com uma naturalidade invejável, sem aquele tom que o povo do contra costuma chamar de "forçado". Ela é essa pessoa poderosa, que cria identificação, simplesmente porque é. E isso é ótimo.

O que muda no novo game?

"Rise of the Tomb Raider" não reinventa a fórmula, nem traz o frescor do jogo anterior. Mas isso não é nem de longe um problema. Com áreas maiores e novas atividades paralelas, o game traz ainda mais daqueles momentos gostosos de descoberta do outro "Tomb Raider".

Isso porque você não é forçado a acompanhar cegamente a história principal. Entre um trecho e outro obrigatórios, e lineares, é possível parar e explorar esses grandes mapas livremente em busca de algo para se fazer.

As atividades vão desde desafios (acerte oito alvos, por exemplo) até as novas missões, que nada mais são do que uma forma de revisitar áreas, enfrentar inimigos e ganhar experiência, armas e roupas.

Mas o principal e mais divertido objetivo secundário continua sendo as tumbas, que retornam em maior quantidade e com designs ainda mais charmosos. Explorar cada uma das nove áreas do tipo espalhadas pelos mapas de "Rise of the Tomb Raider" é garantia de deslumbre visual e muitas capturas de tela – pelo menos no caso do Xbox One (desculpa, Xbox 360).

Pelo fato de elas serem bem criativas e engenhosas, porém, ainda fica uma sensação de que as tumbas poderiam ter um papel mais central e nobre em "Rise". Alguns dos melhores momentos do game, e não só das atividades secundárias, estão ali. Mas como elas não são obrigatórias, muitos não saberão do que se trata.

No fundo, o mais importante é que a quantidade de tarefas de "Rise of the Tomb Raider" não sufoca o jogador, como alguns mundos abertos da Ubisoft mais notavelmente fazem. Aqueles mapas que você abre e vê tantas, mas tantas atividades, e muitas delas irrelevantes, que é soterrado e desestimulado a sequer começá-las.

Ela cresceu
"Rise of the Tomb Raider" colhe os frutos da mudança de filosofia implementada pela Crystal Dynamics em 2013. O novo game pega tudo que deu certo e melhora, sem deixar que uma ou outra novidade desvie a aventura do seu curso.

Lara Croft agora pode escalar árvores e ficar de tocaia para os inimigos? Sim. O sistema de criação de itens foi expandido, com novos materiais? Sim também. Mas isso, no fim das contas, é secundário na experiência de "Rise".

O que importa mesmo é que temos uma personagem forte, complexa e "badass" capaz de comer o pão que o diabo amassou para alcançar seus objetivos. E tudo isso enquanto ela cruza cenários grandes, interessantes e divertidos. Lara Croft está de volta à posição de influência que já teve, desta vez pelos motivos certos.

Fãs de PlayStation 4, aguentem firme. "Rise of the Tomb Raider" é exclusivo do Xbox One e Xbox 360 até o final de 2016. Mas a espera vai valer a pena.

G1

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