Metal Gear Solid V valoriza estilo do jogador com total liberdade

Mundo aberto funciona e foi melhor coisa a acontecer na série 'Metal Gear'. 'The Phantom Pain' também conecta histórias de Big Boss e Solid Snake


"Metal Gear" é uma das maiores franquias dos videogames, e não é para menos. As intrigas geopolíticas protagonizadas por Solid Snake e Big Boss já duram 28 anos e, mais de uma vez, viraram de cabeça para baixo a forma como games são contados e jogados.

Na terça-feira (1º), a saga de espionagem e ação ganhou um quê de conclusão com a chegada de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain", jogo aguardado há muitos anos e um dos maiores lançamentos de 2015.

O elo perdido
"Metal Gear Solid V" é importante por vários motivos. Mas se você acompanha a série desde o princípio, a grande dúvida que nunca foi explicada (e olha que o Kojima gosta de explicar) é: como Big Boss, herói de guerra de "Metal Gear Solid 3: Snake Eater" (2004) e "Metal Gear Solid: Peace Walker" (2010), se transforma no grande vilão da parada? E é justamente isso que "The Phantom Pain" busca esclarecer.

O game se passa em 1984, entre os acontecimentos de "Peace Walker" e do primeiro "Metal Gear" (1987). Big Boss acorda de um coma de 9 anos só para encontrar seu exército de mercenários completamente destruído pela Cipher, uma organização secreta comandada por um ex-aliado seu.

O objetivo de Big Boss, portanto, é reerguer suas forças armadas, que agora atendem pelo nome de Diamond Dogs, e reconstruir Outer Heaven, sua base de operações. Sim, a mesma Outer Heaven para onde Solid Snake, herói do arco moderno da série, é enviado em "Metal Gear" para investigar o sumiço de um companheiro de esquadrão. Está criada a conexão final entre 28 anos de games, e o resto você só descobre jogando.

Soltando a cachorrada
Apesar da importância de "The Phantom Pain" na cronologia de "Metal Gear", o game será lembrado por ser o bilhete de entrada do pai dos jogos "stealth" em mundos abertos, como os de "GTA". Ou seja: você não precisa (nem deve) seguir uma ordem pré-determinada de missões, chefes e outros eventos, todos eles confinados em um mapa linear.

A novidade traz aquela sensação de que nada mudou, mas tudo está muito diferente. Isso porque "The Phantom Pain" ostenta sim o selo de qualidade Kojima: tem trama geopolítica complexa, cheia de drama, com muitos diálogos e personagens que esbarram num realismo fantástico bem particular do game designer japonês.

Por outro lado, os esforços cinematográficos de "MGS V" se focam menos nas longas cenas de corte e mais nos feitos do jogador dentro do game. A ambientação em um mundo aberto, com mapas no Afeganistão e Angola, permite que você dê o seu melhor, cumprindo objetivos da maneira que quiser: a mais divertida, fácil, difícil, sem matar ninguém, matando todo mundo, e por aí vai.

Essa sensação de empoderamento ganha muita nitidez por dois motivos. Primeiro graças ao novo esquema de controle da série "Metal Gear", introduzido no prólogo "Ground Zeroes". Agora, é muito mais intuitivo e fácil executar todo o arsenal de habilidades de Big Boss – se rastejar, se camuflar na areia, interrogar soldados e até enviá-los para sua base usando um balão portátil.

Segundo porque o game alivia a mão no julgamento que faz de seus jogadores. "Metal Gear Solid" é uma série sobre furtividade, é claro, e "The Phantom Pain" carrega essa tradição. Mas ao contrário de jogos como "Hitman", aqui é permitido empregar diversos estilos de partida (silenciosos ou não) e mesmo assim ser reconhecido e levado a sério.

Todo tipo de comportamento consegue ser valorizado de alguma forma em "The Phantom Pain" – seja com boas recompensas em dinheiro, seja por Big Boss ter vocação para momentos "badass" tanto na hora da surdina quanto no momento de dar uma de Rambo.

Com essa mudança, a nova obra de Kojima prova que o mais importante em um jogo do tipo não é analisar os jogadores sob alguns critérios bem exigentes. Mas sim ver como eles agem diante de fases bem desenhadas – característica de "Metal Gear" que está presente em força total – e com riqueza de recursos e liberdade.

Tchau, I have to go now
A relação entre Konami e Kojima estremeceu em 2015, o que fez a produtora retirar o nome do japonês de todo o material de "The Phantom Pain". Os motivos ainda são nebulosos, mas por "Metal Gear Solid" ser uma série tão autoral, tão a cara do Kojima, é impossível jogar "The Phantom Pain" sem ficar embalado por um tom de despedida e até de nostalgia. Ainda mais se você for fã antigo da franquia.

Sob um olhar mais subjetivo, é possível ver as trajetórias de Big Boss e Hideo Kojima se entrelaçando de certa forma. Eles são líderes e homens de visão, mas que têm suas trajetórias destruídas por uma antiga organização aliada.

De qualquer forma, sendo sua missão final ou não, Kojima conseguiu em "The Phantom Pain" maximizar o universo que o consagrou. Isso ao mesmo tempo em que esse universo não é mais o suprassumo do game, mas apenas a ferramenta para os jogadores criarem suas próprias histórias. "Metal Gear" está morto? Vida longa a "Metal Gear".

G1

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