Secretariado de Marconi não atrai eleitos

Deputado teme que economia anunciada pelo governo deixaria pastas sem recursos


Os cobiçados cargos de primeiro escalão não devem ser tão disputados na próxima gestão do governador Marconi Perillo (PSDB). A previsão é de um parlamentar reeleito pela base aliada. Ele confessa que, mesmo que seja convidado, não está disposto a se licenciar do mandato para tocar qualquer pasta. O motivo seria o arrocho financeiro que já vem sendo anunciado, ainda que sutilmente, pelo governador. Assim, quem assumir as pastas não teria recursos para atender todas as demandas e poderia terminar o mandato pior do que entrou.

Com exceção das grandes pastas, como Fazenda e Gestão e Planejamento, que naturalmente têm mais autonomia e recursos, os demais cargos de primeiro escalão estariam sendo avaliados com cautela. De acordo com um apoiador de Marconi, na atual conjuntura, passar quatro anos legislando pode garantir mais retorno eleitoral em 2018. Ao contrário do que ocorreu com Giuseppe Vecci (PSDB), Alexandre Baldy (PSDB) e Marcos Abrão (PPS), que respaldaram as candidaturas e as vitórias nos trabalhos desenvolvidos em suas respectivas pastas, os novos auxiliares poderiam ter forças limitadas.

“Para que assumir uma secretaria? Pra ficar recebendo demandas e demandas e não poder atender a boa parte delas?”, questionou o deputado, apontando como exemplo o colega Henrique Arantes (PTB), que assumiu a Secretaria de Cidadania e Trabalho neste mandato, mas enfrentou sérias dificuldades. “Existe muita pressão e muita cobrança de todo lado, e a gente perde muito a liberdade. O governador é o que menos cobra”, explica Arantes, que reluta em colocar novamente seu nome à disposição. “Eu iria, se o governador precisasse de mim, mas, por iniciativa minha, não mais”, revela.

Para Henrique, as desvantagens de cargos no primeiro escalão ultrapassam as questões financeiras. “Pra mim, foi bom, porque tive experiência administrativa. E não acho que tenha interferido negativa ou positivamente na minha reeleição. Mas acaba que você tem de deixar o universo de deputado de lado, o que pode prejudicar seu trabalho político”, explica ele. De fato, alguns parlamentares que deixaram o mandato para assumir pastas de governo não mais conseguiram reaver votos para nova temporada na política. “Pode ser que prejudique, porque você fica meio travado”, considera o petebista. A não ser que seja uma pasta representativa, o risco de não ser bem-sucedido é real.

O mesmo não se aplica a nomes que se lançam na política por meio do trabalho no governo. Nas eleições de 2014, isso ficou bem claro com as eleições de Giuseppe Vecci, Alexandre Baldy e Marcos Abrão. Experiente como auxiliar, Vecci nunca havia concorrido a cargo eletivo, mas a exposição no governo o levou a conseguir vaga na Câmara federal com mais de 120 mil votos. Nas primeiras experiências como auxiliares, Baldy e Abrão também conseguiram projeção suficiente para obter 107 mil e 92 mil votos, respectivamente.

Conforme lembra Robinson Almeida, professor de Ciência Política na Faculdade de Ciências Sociais da UFG, as secretarias ou mesmo cargo de direção em empresas estaduais, em alguns casos, são a porta de entrada para partidos que apoiam o candidato vencedor e que, a partir da condução da pasta, pode galgar espaço político nas eleições seguintes. Esse teria sido o caso de Abrão, que emplacou mandato na Câmara a partir da exposição que teve frente à Agência Goiana de Habitação (Agehab). Para os deputados que já possuem mandato, porém, a ideia de deixar o certo pelo duvidoso estaria sendo analisada com cautela.

Em recentes entrevistas, o governador Marconi Perillo tem dado sinais de que o próximo mandato poderia ser mais enxuto. Aliados comentam, inclusive, que a possibilidade de fusão de secretarias, para cortes de gastos, não estaria descartada. Para um parlamentar reeleito, o trabalho nas secretarias pode ser ainda mais difícil porque o governador estaria com mais liberdade de execução de medidas de corte. “Agora que ele não vai tentar mais a reeleição, pode ser que faça uma gestão mais dura”, prevê. Dos deputados federais eleitos em 2010, três se licenciaram para assumir pastas. Na Assembleia, o número de licenciados foi de apenas um.

Por Flávia Guerra – Publicado no Jornal O Hoje

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