PT goiano busca reestruturação

Depois de ficar em quarto lugar para governador e eleger o mesmo número de deputados federal e estaduais de 2010, o PT articula conversas ‘fora do contexto eleitoral’ com a sociedade e investe na formação política de suas lideranças


A expressão ‘vamos conversar’ fez parte do marketing político do então pré-candidato à Presidência da República, o senador tucano Aécio Neves (PSDB), em meados de maio de 2013. Agora, o chamamento não está em nenhuma campanha de marketing, ao menos por enquanto, mas traduz em parte a postura do Partido dos Trabalhadores (PT) em Goiás que pretende se aproximar do eleitor e deve aproveitar o quarto mandato consecutivo da sigla no País para melhorar o desempenho no Estado.

A iniciativa é compreensível, já que, apesar de estar há quase 12 anos no poder em âmbito federal, o PT estadual ainda não conseguiu eleger um governador em Goiás, assim como também não tem um representante no Senado. Na esfera municipal, o partido comanda 14 das 246 prefeituras (5,69%), inclusive as de Goiânia e Anápolis, o primeiro e o terceiro maior colégio eleitoral (27,21% dos eleitores no total) do Estado.

Esse número era 17 no final das eleições de 2012, mas o partido perdeu a Prefeitura de Rio Quente, por força de uma liminar. Em outubro, os prefeitos de Silvânia, José da Silva Faleiro, o Zé Faleiro, e o de Teresina de Goiás, Joaquim Miranda, foram expulsos do partido por ter declarado apoio à reeleição de Marconi Perillo.

Ao todo, 146 vereadores foram eleitos em cerca de 100 municípios. Recentemente, a morte de um vereador em Guarinos resultou no aumento de mais um vereador petista no Estado. O partido conta ainda com 140 diretórios municipais e mais de 50 comissões provisórias, que poderão vir a ser convertidas em diretórios municipais também.

Goiânia e Anápolis
Com aproximadamente 35 mil pessoas filiadas no Estado, o PT tem força em Goiânia e Anápolis. A capital foi palco das maiores disputas do partido como a ocorrida entre Darci Accorsi (PT) e Daniel Antônio (PMDB) em 1985, com a vitória do pemedebista; e conseguiu eleger três prefeitos: Darci Accorsi (1993-1996), Pedro Wilson (2001-2004) e Paulo Garcia (2010-2012 e desde 2013). Garcia foi vice-prefeito 2009 e 2010 até a renúncia de Iris Rezende (PMDB), que se candidatou a governador e perdeu.

Anápolis é a base eleitoral de Rubens Otoni, eleito deputado federal pela quarta vez consecutiva. Desde 2010, é o único representante de Goiás, pelo seu partido – Marina Sant’Anna, que havia sido eleita suplente, assumiu o mandato de 2011 a 2013. Seu irmão, Antônio Gomide, governou o município de 2009 a 2013, sendo reeleito em 2012. Gomide renunciou ao cargo no primeiro semestre de 2014 para se candidatar a governador. Em seu lugar assumiu o vice, o também petista João Gomes.

Desafio
O próprio Rubens Otoni admite que o grande desafio é criar condições para eleger um governador pelo PT em Goiás, mas, para que o PT se fortaleça em 2016, primeiro é preciso valorizar e investir na formação política de seus dirigentes. ”Esse grande desafio passa pela preparação do partido na formação de novas lideranças que possam preencher os espaços de ocupação política, com a eleição de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores preparados com competência”, resume.

Otoni comenta que tem incentivado e realizado cursos de formação política nas diversas regiões do Estado. O público-alvo dos eventos são as lideranças políticas e principalmente os jovens. “É preciso incentivar a inclusão de segmentos que participam pouco da política, como os jovens e as mulheres. O partido quer ser capaz de incluí-los na atividade política. Se conseguir isso, crescerá substancialmente”, acredita.

Debate
Na avaliação da ex-candidata a senadora e ex-deputada federal Marina Santa’Anna, o PT tem uma tarefa especial de avançar não só a partir dos processos eleitorais, mas também dentro de uma estratégia partidária. “Eu, pessoalmente, entendo que nós precisamos, com foco no que foi delineado no processo eleitoral nacional, de visões diferentes sobre a tarefa do Estado e sobre o que o Estado tem a oferecer, que o Partido dos Trabalhadores precisa elaborar uma atuação que ofereça aos cidadãos do Estado de Goiás uma perspectiva de poder em debate fora do processo eleitoral”.

Ainda de acordo com a análise de Marina, houve uma discussão no âmbito nacional na qual uma parte da sociedade (seja via alguns partidos ou agrupamentos) optou por um projeto de exclusão social. “Fez a opção por um projeto que diminui as funções de Estado e não aquele que está em curso nacionalmente, com a presidenta Dilma e antes esteve com o presidente Lula, que é o de cumprir a Constituição, universalizando serviços. O papel do Estado é largo e importante para diminuir as desigualdades sociais”, compara.

Marina Sant’Anna acredita que o PT tem como tarefa política ampliar esse debate com a sociedade, levando em conta os elementos que permearam a campanha eleitoral. Para ela, o Estado tem a obrigação de cumprir a função de diminuir as desigualdades sociais, promover o desenvolvimento com cuidados ambientais e com abertura para a cultura política do Estado. ”Em Goiás, há um esvaziamento do papel do Estado, uma busca de privatização ou terceirização de serviços”, critica.

Partido deve indicar nome para sucessão em Goiânia
O deputado federal Rubens Otoni destaca que cabe ao diretório regional do partido definir as estratégias para as próximas eleições, mas afirma ver com tranquilidade a possibilidade de o Partido dos Trabalhadores vir a indicar o nome de um petista para disputar o Paço Municipal. “Acho natural que o PT, que hoje tem o Paulo Garcia na Prefeitura, se mobilize e prepare para indicar um candidato à sucessão”, comenta.

Otoni preferiu não falar em possíveis pré-candidatos, alegando que a capital tem excelentes nomes, como Adriana Accorsi, Edward Madureira, Mauro Rubem, Humberto Aidar, Marina Sant’Anna. “Ainda estamos concretizando o processo eleitoral de 2014, fazendo prestação de contas. Depois vamos planejar 2015”, esquiva-se.

Sobre a atual crise da Prefeitura de Goiânia, financeira e administrativa, agravada pelo debate acirrado sobre aumento da alíquota do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), tanto Otoni quanto Marina demonstram confiança na capacidade de recuperação do prefeito Paulo Garcia nos próximos dois anos.

“Não tenho dúvidas de que o prefeito Paulo Garcia, que todos reconhecem como pessoa séria na administração da cidade, trabalhará para a solução dos problemas e chegará a 2016 muito fortalecido e que as ações tomadas são fundamentais para o resgate da governabilidade de Goiânia”, declara.

“A reação do PT, junto com os partidos aliados, para promover o desenvolvimento de Goiânia, será demonstrada. A população vai passar a sentir a diferença entre o momento de crise e o que virá pela frente. Mas isso cabe ao prefeito anunciar a cada momento”, pontua Marina Sant’Anna.

A deputada afirma que outra tarefa do PT para os próximos dois anos, visando as eleições municipais, é debater o desenvolvimento urbano em cada município, principalmente naqueles que atualmente são administrados pelo partido. Ela conta também com a consolidação dos novos nomes surgidos nas eleições de 2012, que provavelmente deverão se habilitar para concorrer em 2016. Tanto entre os prefeitos e vereadores em exercício quanto novos nomes ainda que não foram tratados como candidatos, por serem pessoas de visibilidade pública.

Aliança com o PDMB é tratada com cautela
Representantes de duas tendências distintas do PT Goiás, Rubens Otoni (do grupo PT pra Vencer) e Marina Sant’Anna (Movimento Cerrado) têm posicionamentos diferentes, mas não opostos, sobre as alianças partidárias. O deputado federal declara que o diretório regional certamente receberá orientações básicas da direção nacional do partido sobre a formação de alianças. A exemplo do que já vem acontecendo, a tendência é que o PT estadual tenha a liberdade de escolher os seus parceiros dentre os partidos da base de apoio da presidente Dilma.

Rubens Otoni frisa que alianças só acontecem quando os dois lados querem e se ocorrer nas condições necessárias. “Tanto em Goiânia quanto no interior, a tendência é buscar construir aliança com partidos que apoiaram o governo federal. Se não for possível com um, vamos buscar outros. Em algum lugar com certeza vai se aliar ao PT”, comenta quando perguntado se ainda há a possibilidade de o partido se unir ao PMDB em Goiânia, que neste ano compôs a chapa com o Solidariedade e acabou elegendo o democrata Ronaldo Caiado senador.

A deputada está na torcida para que seja feita uma reforma política “séria” e que o PT consiga fazer boas alianças de acordo com a legislação que estiver em vigor. A expectativa de Marina Sant’Anna é a de que o PT faça o debate dentro do campo de centro esquerda, pois é o que espera a população que apoia o partido, com siglas que compartilhem da perspectiva de que o projeto federal de desenvolvimento com inclusão social está correto. Tanto do ponto de vista participativo quanto do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida das pessoas.

“Se o PMDB de Goiás tiver essa mesma posição que o Michel Temer e o partido têm nacionalmente, espero que estejamos juntos. Do contrário, será difícil. O DEM é nosso adversário nacional, é contra todos os projetos, programas e ações que diminuem as desigualdades sociais.”

O Hoje

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