Marconi e Caiado em rotas paralelas

A coincidência da ascensão dos dois figadais adversários parece uma trapaça do destino


O governador Marconi Perillo chega ao quarto mandato com tudo a favor. Tem o controle da situação na Assembléia Legislativa e estendeu sua influência até a Câmara Municipal de Goiânia. Imaginar que tudo é mera coincidência é aceitar ser ele néscio em política. Quem desconhece o nexo entre a extensão do domínio e a cobiça da cadeira do prefeito de Goiânia?

Bem, estamos divagando sobre o futuro e é lá que está a incógnita. Sem dons premonitórios, o governador aposta na sua capacidade de promover arranjos que ampliem possibilidades de conquistas. Agora é esperar pelos imprevistos. Por imprevistos subentende-se o resultado de uma estratégia que extrapole as fronteiras de Goiás.

Marconi, como se sabe, está pronto para novos saltos e só assim tentará dar sequência à sua saga de insaciável colecionador de vitórias.

Se o futuro político de Marconi é uma incógnita, sua decisão de desvendá-lo está tomada e não haverá recuo. Ele sabe que para liderar é preciso juntar ousadia e coragem para enfrentar os novos desafios. 2018 será o marco zero do exercício de liderança nacional do governador que, até lá, tentará alargar seu espaço na constelação tucana, onde reluzem as estrelas Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves, Tasso Jereissati e Beto Richa.

Por fatores imprevistos pode-se considerar também a coincidência entre a intenção do governador de se instalar definitivamente no cenário nacional e a ascensão de Ronaldo Caiado ao Senado Federal. É mais que coincidência, é uma ironia do destino. No momento em que o governador mira o plano federal, um de seus mais notórios adversários político passa a dono de uma poderosa tribuna. De lá consegue dar repercussão ao discurso de condenação do governo do PT e potencializa sua voz na tentativa de desconstruir a imagem do governador Marconi.

O novo senador por Goiás se coloca no centro das decisões políticas dada à disposição de criticar adversários, ter um discurso contundente e estar sempre aberto ao choque das ideias, exibindo incomum opção para o embate. Caiado vem se notabilizando pela contundência de suas críticas direcionadas aos dois mais expressivos adversários: PSDB e PT. É, por conseqüência, voz emergente de uma hipotética terceira via.

Sua metralhadora giratória não chega a traçar uma circunferência, limitando-se apenas a uma oscilação de 180 graus para atingir, nos extremos, seus alvos prediletos: os governos de Dilma Rousseff e de Marconi Perillo. Preserva, assim, outros partidos, possíveis aliados no futuro. A conquista da única vaga em disputa no Senado dá elementos para ele avaliar a possibilidade de uma candidatura ao governo do Estado, em 2018. Isto, se não tentar a presidência da República pela segunda vez.

Em princípio, será irresistível a tentação de concorrer com o respaldo da capilaridade de um PMDB que terá descoberto o atalho, na aliança com o DEM, para tentar abater a hegemonia tucana. A experiência da última eleição reforça a corrente peemedebista que já aceita o fato de que capilaridade não é pressuposto de vitória eleitoral com candidato próprio.

O senador não só se deixará levar pela oportunidade de montar um portento cavalo arreado à sua frente como empunhará um chicote mais grosso para devolver ao lombo adversário as chibatadas que recebeu lá atrás. Ao recebê-las, não deixou de também proferir acusações ao ex-parceiro, equilibrando a troca de ofensas que ao longo do tempo permitiu às partes acumular um mútuo sentimento de rejeição.

Eles estarão presentes na campanha de 2018 quando os fatos podem conduzir a outra coincidência: Caiado e José Eliton, vice-governador, poderão estar em raias paralelas na disputa do governo. Eles também já foram parceiros, aliados fraternos até, mas o tempo arma as mais curiosas surpresas. Tanto quanto tece as mais tentadoras oportunidades das desforras. 2018 pode oferecer a arena para a prova.

Para Caiado haverá um ganho adicional na decisão de disputar o governo em 2018 já que, independente do resultado, terá cumprido apenas 50 por cento de seu mandato de Senador. Será, então, bem-vinda a oportunidade de uma eleição majoritária, tal qual foi a grande chance de disputar a presidência da República, embalado pela ascensão da União Democrática Ruralista, em 1989.

Claro que não logrou êxito, mas propagou sua mensagem, sentiu o pulso de cada município e passou a verbalizar um slogan que teria contribuído para suas sucessivas vitórias como deputado federal. “A força vem do interior”, insistia Caiado, arvorando-se de fiel intérprete dos anseios das cidades e dos campos, como porta-voz do poderoso agronegócio.

Até 2018, Marconi e Caiado estarão em trajetórias paralelas buscando maiores projeções no cenário político nacional. Deste patamar será maior a influência de cada um nas disputas regionais. O que os embala é a convicção de que prosseguem com seus princípios e divergências. O que os empolgam, na troca de farpas, é a certeza de que seus caminhos jamais se cruzarão. As paralelas só se encontram no infinito.

Jornal O Hoje

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