Marconi defende supremacia do PSDB

Aos aliados resta apoiar a escolha, se tiverem juízo


O governador Marconi Perillo defendeu de forma transparente o papel preponderante do PSDB nas eleições municipais, especialmente em Goiânia. Didaticamente claro e politicamente objetivo, Marconi declarou: “com todo respeito aos demais partidos da base aliada, mas isto é inegociável”. Estava arrematada a argumentação que teve início na incisiva afirmação – insólita para uns, oportuna para outros – de que seu partido terá, em 2016, um candidato tucano para disputar a prefeitura de Goiânia. O governador põe fim a 15 anos de abstinência tucana, de vez que sempre apostou em composições, dando prioridade a nomes de partidos aliados e colecionando fiascos.

A sucessão de recuos cristalizou um ciclo de vulnerabilidade política do governo no maior colégio eleitoral. As experiências com Sandes Júnior, duas vezes, e Jovair Arantes, uma vez, compõem um tempo de amargas lições.

A prevalência do governador como centro de gravidade do partido, vencedor de cinco eleições sucessivas para comandar o Estado, foi ali reafirmada.

É dessa condição de catalisador político que o tucano explicita a determinação de apontar um nome. Subliminarmente está dito: manda quem pode, obedece quem tem juízo. O candidato emergirá, seja por razões políticas, pessoais ou por dívida contraída na longa parceria.

Um recado de forma tão explícita tem implicações políticas que serão mensuradas no decorrer do tempo, até o momento em que a convenção tucana sacramentar o nome do candidato.

Até lá o governador estará avaliando o quadro político, prospectando os riscos de defecções para concluir com quais companheiros poderá contar em face do desafio de fincar a bandeira tucana num colégio onde a oposição se consolidou num contraponto à forte hegemonia estadual, cristalizada no fenômeno identificado por marconismo, que surgiu em contraposição a outro fenômeno – o Irismo.

A oficialização do tucano de incipiente plumagem (Rafael Lousa) para a presidência do Diretório Metropolitano do PSDB é um dado elucidativo de como o governador se empenha na renovação dos quadros partidários. Está identificado o parâmetro para se chegar a um nome, também surpreendente, a ser ungido para o batismo das urnas em 2016.

O governo estará jogando uma decisiva cartada num colégio onde, tradicionalmente, sua força foi sempre questionada. Diante da oportunidade de redimensionar sua expressão política, para efeito das fricções partidárias de 2018, o domínio do maior colégio do Estado emprestaria à liderança do governador maior densidade política.

O histórico de insucesso do governo na Capital não é um fenômeno político recente, mas se acentuou em face da aglutinação das oposições, que conseguiram estruturar um espaço de sobrevivência, consolidando na Capital o pólo de resistência que avançou para Anápolis e Aparecida de Goiânia, contrabalançando o domínio tucano no comando do Estado.

Da contestação desse quadro partirá o governador para consumar uma boa costura nas áreas de sua influência, de modo a preservar a unidade de uma ampla base de apoio para tentar quebrar a velha escrita. Irá o governador esmerar-se na condição de condutor do processo eleitoral e valer-se de todo o poder de persuasão a fim de conter os bolsões de resistência que se esboçaram na mesma solenidade em que traçou o roteiro da sucessão na Capital.

Na sequência do pronunciamento do governador ecoaram os protestos dos deputados João Campos e Waldir Soares, ambos tucanos, mas com o bico torcido para arranjos que consideram geradores de “prefeitos construídos em laboratórios”.

Sem explicitar nomes, o protesto bem calibrado dos dois delegados de Polícia atinge simultaneamente a autoridade do governador e a comodidade um de seus auxiliares. Justo o que mais se movimenta no sentido de fortalecer as pretensões de ser a solução consensual para disputar a prefeitura de Goiânia.

Jayme Rincón, na condição de presidente da Agetop, a quem cabe a tarefa de construir e recuperar estradas, teve uma posição destacada desde o início da atual gestão. O governador fixou como meta prioritária a recuperação e expansão da malha viária do Estado e delegou a Rincón a tarefa. Cumprida, ela passa a ser a melhor carta de apresentação de quem quer disputar um mandato. A orquestração deu resultado, pois governador e tocador de obras se entendem por telepatia quando o foco é Goiânia.

A reação dos deputados tende a atrair outras lideranças que recusam a tese da renovação por entendê-la como pretexto para privilegiar um nome da sua cota pessoal.

Para estes núcleos tucanos, há clara e antecipada sinalização rumo ao presidente da Agetop, premiando-se o auxiliar menos por suas potencialidades eleitorais e mais por sua proximidade com o governador. O livre trânsito junto às empreiteiras, nicho por excelência para o sucesso das onerosas campanhas eleitorais, seria sua única credencial, a julgar pelos protestos, explícitos ou camuflados, mas dosados no veneno da maledicência.

Pelo que se deduz, antes de o governo superar o desafio de bater as oposições, em Goiânia, terá ele a dura missão de afinar o discurso de seus companheiros. Nem todos ignoram a vulnerabilidade de um pretenso candidato que é mais conhecido por sua fruição no meio empresarial. E tudo que a oposição mais anseia é ter um adversário abrigado sob um amplo telhado de vidro.

O Hoje

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