Lava Jato baixa em Goiás por desvios na Norte-Sul

Juquinha das Neves é preso mais uma vez; desdobramento da Lava Jato, a Operação O Recebedor apura desvios relacionados à Ferrovia Norte-Sul na ordem de mais de R$ 630 milhões apenas em Goiás


A Polícia Federal realiza desde o início da manhã desta sexta-feira (26) uma operação baseada em dados obtidos em etapas da Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobras. Em Goiás, a Operação O Recebedor revelou a prática de cartel e lavagem de dinheiro ilícitos obtidos por meio de superfaturamento das obras públicas. Somente no estado de Goiás foi detectado desvio de cerca de R$ 630 milhões, considerando-se somente trechos executados na construção da ferrovia Norte-Sul.

Os alvos dos mandados em Goiás são as empresas Elccom Engenharia, Evolução Tecnologia e Planejamento Ltda, Heli Dourado Advogados Associado e o Consórcio Ferrosul, além do advogado Heli Lopes Dourado, do ex-presidente da Valec José Francisco das Neves (Juquinha), Marivone Ferreira das Neves (mulher de Juquinha), Jader Ferreira das Neves (filho de Juquinha), Rodrigo Ferreira Lopes Silva, Rafael Mundim Rezende (empresário), o ex-deputado Josias Gonzaga Cardoso e o dono da Elccom e diretor Administrativa da Associação Goiana das Empreiteiras Juarez José Lopes Macedo.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, os investigadores concluíram que empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e mais duas empresas sediadas no estado de Goiás, utilizadas como fachada para maquiar origem lícita para o dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas. O delator da Lava Jato forneceu provas documentais e indicou testemunhas contra outras empresas e pessoas que também teriam participado do esquema criminoso apurado pela “O Recebedor”.

Agentes cumprem mandados judiciais em outros cinco estados (Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais). Entre os alvos de busca e apreensão estão a sede da Odebrecht, no Rio de Janeiro, a da Constran, em São Paulo, além da casa de um ex-funcionário da Serveng, empresa que atua nas áreas de engenharia e construção, mineração e energia.

Trata-se do segundo desmembramento da Lava Jato. O primeiro foi a Operação Cratons, realizada em dezembro de 2015, sobre crimes ambientais e comércio ilegal de diamantes extraídos de terras indígenas da etnia dos cinta-larga, em Rondônia.

O Recebedor
Em razão do acordo de delação na Lava Jato, a Camargo Corrêa, que confessou a prática de cartel, corrupção, lavagem de dinheiro e crimes de licitação, além de se comprometer a restituir aos cofres públicos R$800 milhões, dos quais R$65 milhões destinados a ressarcir os danos acusados à Valec, entregou provas documentais e testemunhais contra as demais empreiteiras integrantes do esquema, bem como contra o ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves.

As diligências que estão sendo realizadas nesta sexta tem por objetivo recolher provas de pagamentos de propina a ex-diretores da Valec, por empreiteiras contratadas para construir as ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, da prática de cartel e lavagem de dinheiro, revelados pela Camargo Corrêa.

Os investigadores buscam, ainda, robustecer o acervo probatório de investigações criminais encerradas ou em curso na PF/GO, assim como procedimentos investigatórios em curso no âmbito do MPF/GO, que tratam a respeito de prática de sobrepreço, superfaturamento, crimes contra a Lei de Licitações, a exemplo de formação de cartel, corrupção passiva, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, praticados pela empresa estatal VALEC – Engenharia, Construção e Ferrovias em razão das obras da Ferrovia Norte-Sul, havendo ainda indícios da prática dos mesmos crimes com relação à Ferrovia de Integração Leste-Oeste, durante o período em que foi presidida por José Francisco das Neves, o “Juquinha”.

O trabalho investigativo até então realizado apontou prejuízos aos cofres públicos estipulado em R$ 631.544.676,51, considerando-se somente os trechos executados na construção da Ferrovia Norte-Sul, no âmbito de Goiás.

Em síntese, o método utilizado para o recebimento de propina consistia na realização, pelas empreiteiras executoras das obras, de pagamentos a um escritório de advocacia e para mais duas empresas sediadas em Goiás e indicadas por “Juquinha”, sendo que os pagamentos não se referiam a serviços efetivamente realizados, utilizando-se contratos de fachada para dar aparência de legalidade aos pagamentos feitos pelas empreiteiras em benefício de “Juquinha”.

A Camargo Corrêa admitiu haver pago mais de R$ 800.000,00 em propina para Juquinha.

O nome da operação é uma referência à defesa apresentada por José Francisco das Neves no Caso Trem Pagador, na qual seus advogados alegaram que "se o trem era pagador, Juquinha não foi o recebedor".

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