Esgoto e água em Goiás entre os mais caros do país

Preço foi o que atraiu a Odebrecht a atuar no estado, incluindo Rio Verde


A tarifa de água e esgoto praticada em Goiás é uma das maiores do País e isto teria gerado o interesse da Odebrecht Ambiental pelo Estado, conforme o conteúdo da delação premiada do ex-diretor da empresa, Alexandre José Lopes Barradas. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), vinculado ao Ministério das Cidades, a tarifa goiana, nos últimos anos, esteve sempre entre as quatro maiores do Brasil (veja quadro abaixo).

Em 2015, no último levantamento, o valor chegou a R$ 4,04 por metro cúbico, a terceira maior entre os estados, atrás apenas de Rio Grande do Sul (RS) e Distrito Federal (DF). A Odebrecht Ambiental atua desde 2013 como subdelegatária da Saneago em quatro cidades (Aparecida de Goiânia, Jataí, Trindade e Rio Verde).

O contrato de concessão do serviço de esgoto, segundo delatores, teria sido a contrapartida do caixa 2 pago pela empresa a políticos goianos. E por ser concessionária, com cobrança em boleto único, ela adota o mesmo valor praticado pela Saneago.

Além de a tarifa ser uma das maiores do País, a Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (AGR) aprovou, no ano passado, o aumento linear de 9,16% do valor cobrado.

Alexandre Barradas referiu-se, ainda, durante a delação, ao valor do ticket médio pago pelos goianos. “Porque o Estado tinha muita potencialidade nessa área, pela inaptidão da Saneago e um ticket médio bom”, explicou ele sobre o porquê do interesse da empresa por Goiás.

Ticket médio é o valor médio das contas de água e esgoto. A Saneago informa que, no Estado, hoje, esse valor é de R$ 53,17. “Acho que é o maior ou o segundo maior, só perde para São Paulo. É um lugar que você tem condição de fazer muita coisa porque tem um ticket médio alto”, delatou o executivo.

Diretor de Relação com Investidores, Regulação, Novos Negócios e Governança da Saneago, Elie Chidiac pondera que, nos últimos anos, somente três empresas do segmento fizeram a revisão tarifária, dentre elas a Saneago. As demais devem fazer o reajuste nos próximos anos, o que, na visão dele, vai acarretar mudanças no ranking das tarifas mais caras. “As outras vão aumentar em torno de 30%. Nos próximos três anos, todas deverão passar por isso e, certamente, essa posição da Saneago vai mudar”, diz. Ele defende, ainda, que a metodologia de cálculo adotada pela companhia privilegia as pessoas mais carentes.

O que foi delatado, no entanto, é que o interesse da Odebrecht em Goiás era ainda maior do que o efetivado. O obtido com o contrato de subdelegação em quatro cidades é considerado concessão pequena. Reportagem do POPULAR publicada na última sexta-feira (14) mostrou que o objetivo maior da empresa envolvia municípios do Entorno do Distrito Federal, vistos como rentáveis por causa da densidade demográfica.

O contrato fazia parte de suposta negociação de doações ilegais às campanhas do governador Marconi Perillo (PSDB) e do senador cassado Demóstenes Torres (sem partido), mas não foi levado adiante, na época, por causa da Operação Monte Carlo. Existia, ainda, a possibilidade de inserção de Anápolis, mas o município não aderiu.

O Popular

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