Catalão confirma crise e 'investimento zero'

Administração municipal enfrenta dificuldades e população não tem perspectivas de melhora nos serviços, segundo os próprios gestores


No momento em que os governos do Estado e do País buscam discursos e anunciam medidas estratégicas para amenizar a reação de revolta dos eleitores, indignados com a crise política que tomou o Brasil e com colapso financeiro que se anuncia, o prefeito de Catalão, Jardel Sebba (PSDB), vai na contramão do bom senso e decreta investimento zero para a cidade.

“A situação financeira está muito difícil. Tivemos que cortar serviços, gratificações... A exemplo da Mitsubishi de Catalão, que está demitindo funcionários por conta da crise, fizemos o mesmo na prefeitura para nos adaptar. Cortei tudo o que podia para adequar as contas e tentar chegar ao fim do ano sem dívidas. É o que podemos fazer”, disse ele em entrevista.

A perspectiva pessimista do tucano se estende pela equipe. O secretário-geral de Governo, César Ferreira, considerado um dos principais nomes da administração catalana, fez coro ao desânimo e à inevitabilidade da inação. “O custo da máquina pública de Catalão é muito alto. É difícil manter o que está em andamento, devido à grande demanda de serviços e baixa arrecadação. A prefeitura não consegue crescer na mesma proporção da cidade", afirmou à reportagem.

César considera o funcionamento dos serviços púbicos como investimentos possíveis. “Entendemos que manter os hospitais do município, as escolas, creches... é também investir. É preciso considerar que todas as cidades estão em crise e Catalão não está imune ao problema. O prefeito tem feito de tudo para conseguir cuidar da qualidade de vida do cidadão”, destacou.

A estratégia do Executivo frustra o morador da cidade, que levou a antiga oposição ao Poder em busca de saídas para as dificuldades. Nas redes sociais, o prefeito é questionado sobre soluções. Somente um grupo chamado “Catalão Real”, por exemplo, reúne cerca de oito mil pessoas da cidade, que criticam a gestão atual.

O desgaste ganha mais destaque pela pauta negativa levantada pelo próprio gestor. A lamúria vai de encontro à expectativa de um discurso positivo, como investe a presidenta Dilma Rousseff (PT), reforçando sempre o aspecto transitório da crise e a perspectiva de retomada do crescimento em curto espaço de tempo.

Jardel faz oposto também de Marconi Perillo (PSDB). Em meio a uma série de decisões impopulares, medidas duras de ajuste financeiro, o governador jamais abre mão do discurso otimista. Ele e Dilma partem de um pressuposto básico: os líderes devem puxar ciclos virtuosos e jamais pregar o caos e propagar a terra arrasada.

Oposição
Neste cenário, os líderes da oposição ganham força. Entre os vereadores oposicionistas, o ex-prefeito e deputado estadual Adib Elias (PMDB) é considerado vitorioso por antecipação. Com o enfraquecimento de Jardel, porém, outros nomes aparecem na disputa. O atual vice-prefeito, Rodrigo Carvelo, que rompeu com a administração logo no início do mandato, também se apresenta como pré-candidato.

Para o vereador Deusmar Barbosa (PMDB), que falou com exclusividade ao jornal, no ano que vem ambos deverão sair unidos. “Diante do desgaste do Jardel, que está destruindo a cidade, temos tudo para ter uma vitória histórica em Catalão e muito trabalho pela frente”, ressaltou.

Município deverá ficar sem água novamente

Outro anúncio negativo do secretario de Governo e superintendente da empresa de Saneamento de Água e Esgoto de Catalão (Sae), Cesar Ferreira, é sobre a falta de água. Os moradores já devem se preparar para outra temporada de seca. “Tudo indica que será um período duro de estiagem e, provavelmente, teremos falta de água”, alertou o secretário.

No ano passado, alguns bairros da cidade chegaram ficar mais de 20 dias sem o fornecimento de água tratada. Segundo Cesar, o problema se dá pela falta de fontes alternativas de captação hídrica. “Nos últimos anos não houve nenhum investimento na busca por novos rios. Nossa consumo é muito alto e a produção é baixa. Isso leva ao racionamento mesmo”, explicou.

A solução apresentada pela prefeitura no início do ano foi a terceirização da Sae. A proposta foi altamente criticada pela própria população, que mobilizou um protesto contra a concessão. “Seria a forma mais rápida e eficiente. As empresas poderiam apresentar soluções imediatas para o problema que a prefeitura não tem condições de arcar”, disse o auxiliar.

Diante da pressão contrária ao negócio, a administração recuou. Hoje, a esperança está no empréstimo de R$ 32 milhões junto a Caixa Econômica Federal para a construção de uma barragem. Segundo Cesar, o recurso já foi liberado e as obras devem começar em breve. “Esta era uma alternativa. Ela não vai resolver a questão em curto prazo, mas vai garantir que o problema seja evitado futuramente.”

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