Polícia Civil fecha clínica de reabilitação

De acordo com a polícia, os pacientes sofriam maus-tratos e eram torturados. O dono da unidade e o gerente foram presos


A clínica Associação Portal da Vida, de reabilitação de dependentes químicos, foi fechada na madrugada desta quinta-feira (29), em Cachoeira Dourada, cidade a 237 quilômetros de Goiânia. A interdição do local ocorreu durante operação conjunta da Polícia Civil (6ª Delegacia Regional de Polícia) e do Ministério Público, denominada Monte Cristo. De acordo com a polícia, os pacientes sofriam maus-tratos e eram torturados. O dono da unidade e o gerente foram presos.

Segundo o delegado Lucas Finholdt, titular do 2º Distrito Policial de Itumbiara, as investigações começaram há cerca de um ano, quando denuncias contra o proprietário e funcionários chegaram à polícia. “Recebemos relatos de maus-tratos, sequestro, cárcere privado, tortura, aplicação de remédios controlados sem receita médica e ainda exploração de trabalho sem remuneração”, disse.

De acordo com o delegado, a comunidade terapêutica funcionava há cinco anos e abrigava, atualmente, 55 pessoas. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram menores de idade trancados em um quarto com grade e com cadeados pelo lado de fora, pessoas com deficiência mental e os demais internos todos trancados no interior do imóvel.

Foi localizado nas dependências da clínica um cassetete que seria usado para espancar os internos. “Vários pacientes relataram que após serem dopados eram levados para um cômodo chamado de “quarto da tortura”, onde eram agredidos, inclusive com o cassetete”, afirmou o delegado.

Uma grande quantidade de cigarros, que seriam contrabandeados do Paraguai, foi localizada no depósito da clínica e na residência do gerente da comunidade, Daniel da Costa Garcia, de 40 anos. “Esses cigarros eram vendidos a preços exorbitantes aos internos e inclusive aos menores”, informou. A polícia também localizou medicamentos controlados sem receituário médico.

Cárcere privado
Grande parte dos internos relatou aos policiais que foram internados e mantidos na clínica contra a vontade e quase nenhum deles estava amparado por ordem judicial de internação. “Segundo a Anvisa esse tipo de comunidade terapêutica se torna irregular pois não poderia trabalhar com a manutenção dos internos de forma compulsória”, disse.

De acordo com Lucas Finholdt, os familiares de alguns internos chegavam a pagar mais de mil reais mensais para a clínica. “Acreditamos que nenhuma família desconfiava das agressões, já que poucos podiam receber visitas e os telefonemas só podiam ser realizados no viva voz”, disse.
O delegado afirmou ainda que encontrou no local contratos que provam que os internos trabalhavam sem remuneração e de forma forçada em obras externas na cidade de Cachoeira Dourada, o que mostra que os mesmo estariam sendo reduzidos a condição análoga a de escravos.

Prisão

Daniel e o dono da clínica, Pedro Ceshim de Moraes, de 31 anos, que negam as acusações, foram levados para o 2º Distrito Policial de Itumbiara. Eles foram autuados em flagrante pelos crimes de tráfico de drogas, cárcere privado, receptação – dos cigarros contrabandeados – e pelo fornecimento de substância que causa dependência, no caso cigarro, aos menores. Pedro já teve uma clínica para tratamento de dependentes químicos, mas havia sido fechada pela Vigilância Sanitária.

Até a noite desta quinta-feira, os internos estavam sendo ouvidos. O delegado informou que eles serão entregues a familiares. “Aqueles que os parentes não forem localizados serão destinados à assistência social”, informou.

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