Jataí: Terror tramado pelo celular

Com celular e WhatsApp, presos trocam mensagens e organizam atentados como os que assustaram jataienses na terça-feira


O aplicativo WhatsApp é o mais utilizado hoje por presos do regime fechado para se comunicar com pessoas do lado de fora das cadeias e tramar atentados como os de Jataí, na noite de terça-feira. Celulares são entregues aos detentos de diversas maneiras. Entre elas, arremessados sobre os frágeis muros das prisões do interior e até introduzidos nas partes íntimas de companheiras que fazem visitas semanais nas prisões. Outro meio de entrada é pelas mãos dos agentes prisionais que se corrompem em troca de dinheiro.

Um agente ouvido pela reportagem (e que pede para não ser identificado) destaca que este último caso é bastante comum. Ele relata que o baixo salário pago, principalmente aos vigilantes penitenciários temporários, é o principal motivo. Os presos pagam entre R$ 500 e R$ 1 mil por cada aparelho, muitas vezes já com o chip da operadora. O agente ou vigilante corrupto fica responsável por adquirir o aparelho e entregá-lo na cadeia. Os mais caros são de marcas melhores. Mas a exigência é o acesso à internet.

Pelo aplicativo, eles mantêm contato com familiares, outros presos e até comandam as quadrilhas de roubo e tráfico. Em Jataí, uma mensagem de WhatsApp circula com orientações de pessoas que, supostamente, estão dentro da cadeia. A recomendação é para que a pessoa leia e delete as informações. Também há sugestão de que mais crimes serão cometidos em retaliação ao posicionamento do diretor da unidade prisional do município, apontado como duro.

Motivação
Superintendente de segurança penitenciária, João Carvalho Coutinho Júnior detalha que a insatisfação dos presos se deu após a transferência de quatro detentos apontados como “lideranças negativas” na unidade. Ele informa que as mudanças têm o aval do Judiciário e que novas transferências poderão ser realizadas para garantir a ordem dentro das unidades não apenas de Jataí, mas de todo o Estado. “Não alteraremos o tratamento aos presos. Mas vamos garantir o cumprimento da lei.”

Ele informa que novos equipamentos adquiridos em parceria com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) serão instalados em pelo menos 50 unidades prisionais nos próximos dias. Além dos detectores de metal de banquetas e bastão, serão disponibilizados portais e esteiras de raios X. A intenção é ampliar os métodos de segurança e garantir que o mínimo de objetos ilícitos, especialmente celulares, cheguem às mãos dos presos. Até servidores terão de passar pelos detectores.

No complexo prisional de Aparecida de Goiânia, os bloqueadores de celulares não funcionam adequadamente. O superintendente diz que a empresa contratada ainda não forneceu o serviço completo e, por isso, nem está sendo paga. Novas medições de bloqueio de sinal estão sendo realizadas, mas não há data para que o bloqueio definitivo seja feito. “Esperamos que seja o mais rápido possível.”

Vistorias

Ele destaca, porém, outras ações para impedir o acesso de celulares. Entre as principais medidas, Coutinho Júnior fala dos treinamentos dos agentes prisionais e das ações dos grupos especiais. De surpresa, estes grupos fazem vistorias em celas e presídios em busca de equipamentos ilícitos. “Em todas as vistorias são recuperados objetos.” As ações são orientadas pelo serviço de inteligência do sistema prisional, além de denúncias que podem partir dos próprios presos e dos agentes penitenciários.

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