O armazém de alguém

O jornalista Fábio Trancolin conta um pouco da história de Rio Verde em crônicas


Atualmente se tem a facilidade de entrar em um supermercado e encontrar uma enorme variedade, marcas e mais marcas num colorido e cheiros que te confundem. E são muitos os empregados para fazer essa máquina girar, já fiz parte do quadro de funcionários de um supermercado e sei como é esta por detrás das cortinas. Rio Verde hoje tem mais de 50 supermercados. Nos tempos de menino tínhamos três, o Serve Rio Verde, o Líder e o Pegue Pague Moraes tinha também os depósitos do João Uberaba e o Ypiranga do Mauruzam, o resto era tudo armazéns, e eram muitos.

E falando dos amigos dos Secos e Molhados, muitos marcaram o nome na história da cidade, ‘Armazém do Tau’ que ficava na Rua Major Oscar Campos e depois passou a funcionar na Rua Coronel Vaiano, o do João Jaime por muitos anos esteve ali nas esquinas das Ruas Itagiba Gonzaga com Major Oscar Campos, o garoto Sirlim iniciou a função de atendente ali, dali também saiu o Juarez que abriu o dele na Rua Augusta Bastos. O Zé da Venda outro que era referência, nas esquinas da Laudemiro Bueno com Dário Alves de Paiva. O Armazém do Nelito na Augusta Bastos, que teve com funcionário o Lazinho Faria, que mais tarde viria abrir o Comercial Faria. O Armazém do Pedro Honório era ponto de discussões ficava nas esquinas da Avelino Faria com a Presidente Vargas, ali se reunia fazendeiros e outras personalidades, quando passávamos na porta lá estavam eles sentados, às vezes até em cima do balcão tinha gente. O Armazém do Zé Cipó na Rua Dario Alves de Paiva outro que também deixou saudades...

No Mercado Velho tinha os armazéns do Joaquim Cândido e João Quito, esse último ainda está de portas abertas, mas poucas coisas ainda têm lá. No chamado Mercado Novo onde hoje funciona a Secretária de Promoção Social também tinha os seus, numa ponta o do Joãozinho e no outro extremo o do Lucas, no meio tinha o seu Joaquim. Na esquina na rua de cima tinha o Armazém do Donaldo, ali o meu bom amigo Nevilton começou a trabalhar. No inicio da década de 80 os irmãos Neves resolveram abrir um comercial, e com o passar do tempo mudou o segmento e se transformou na loja de materiais para construção. No final da década de 70 o turco Mamed inaugurou um belo supermercado na ‘Presidente’ onde hoje é a loja do Novo Mundo, mas não foi longe, logo baixou as portas, o meu pai fez serviço para os dois, os Neves e o turco. Outro que veio abriu e não manteve foi o Minibox do Grupo Pão de Açúcar, ele ficava ali onde está hoje o Supermercado dos Calçados na Presidente Vargas, isso aconteceu em 1985, por um tempo eu prestei serviço para eles fazendo cadastro de cartão do Grupo Jumbo Eletro/Sandiz, eles implantaram a venda de eletrodomésticos por um determinado tempo, não emplacou naufragou. No Bairro Popular o armazém do Seu João, cresceu é virou Economia. No centro da cidade o comercial de secos e molhados do Sirlim, cresceu e virou Campeão.


Quase todos esses comerciantes tinha o hábito da caderneta, meu pai tinha conta no Armazém do Jacenil, ele ficava em frente à Escola Eugênio Jardim, muitas e muitas vezes eu e meu irmão fomos ali buscar as compras da semana. Uma vez lá íamos os dois subindo a Rua Laudemiro Bueno quando desceu um ‘monte’ de cachorros, eles estavam atrás de uma cadela no cio, eu fui atropelado pelos caninos desesperados, cai e bati a cabeça no poste, fiquei ‘grogue’... O Jairinho teve que levar as compras e me amparar, eu fiquei por um bom tempo tonto. Nas palavras dele ‘tonto eu não fiquei, tonto eu era’.

Na esquina da Avelino Faria e Augusta Bastos em frente à casa que eu morei e o caminhão destruiu, tinha o armazém do Seu Otávio do ‘Zé do mato’ e o cheiro desse estabelecimento nunca saiu da lembrança, era uma mistura de vassoura piaçaba e cordas e sacos de linhagem e outras especiarias. Outro que marcou foi armazém do Seu Zé Mineiro o Santa Rita na Rua Goiânia, o estabelecimento está no mesmo lugar, Seu Zé já partiu. O Rui o caçula dos irmãos assumiu o negócio, encerrou as atividades de armazém, hoje virou bar, as prateleiras o baleiro e o balcão ainda estão lá, mas, tudo está vazio, somente a memória é que está cheias das boas lembranças... Dos quatorzes filhos, 12 homens, pelo menos uns oito tiveram armazém, ainda dois tem as portas abertas.

Na Rua Augusta Bastos o Odilon ainda mantém o comércio dele aberto, está ali há 44 anos, comprei muito ali quando era garoto e morei na ‘Afonso Ferreira’, nos fim de tarde ia até lá comprar um doce de caju cristalizado. E por falar em doces, quantas ‘Maria Mole’ e suspiros cor de rosa e branco, ‘Zorro’, e outros doces eu saboreei, e como é bom lembrar o cheiro da rosca de coco e o pão que todos eles vendiam. Esses pontos eram lugar do bate papo e das rodas de ‘causo’. Todos eles tinham o baleiro cheio das balas coloridas, roda baleiro, roda... Para molecada armazém era meio faz de conta, pois ali tinha muitas surpresas por detrás do balcão... Em quase todos tinha um joguinho em que você comprava o direito de furar um tabuleiro, e a cor da bolinha que saísse determinava o prêmio que você ganharia na maioria das vezes saia à cor branca que não lhe dava direito a nada...  Como era legal comprar uma caixinha da sorte, era um brinquedinho ‘xexelento’ mas tinha lá a sua fantasia, bolinha de gude e bombinhas, a galinha azul e branca que botava ovinhos quando apertada, muitas dessas nós compramos no armazém do Seu Olguinol, na esquina da ‘Augusta’ com a ‘Almiro’. Na descida do campestre tem o Comercial Cabral do meu amigo Mosvaldo que desde os 15 anos esta atrás do balcão e há 45 anos serve a vizinhança, a Yasmin adora ir até lá e gastar todas as moedas em balas, chicletes e caramelos...

Sei que faltaram muitos outros nomes de armazém que compuseram a história no crescimento da cidade, os do Parque Bandeirante, Vila Maria e os da saída do Montividiu na Pauzanes de Carvalho, a lista é imensa, não da para esquecer o do Frederico na Rua Urcezino de Gusmão que o meu avô Francisco adorava comprar o fumo para o cachimbo, esse ponto depois passou para o pai da Rejaine, um pouquinho pra cima o Seu Oliveira pai do Carlinhos tinha o dele. O ‘Armazém do Rosa’ no Jardim Adriana, o do Garibaldi que ficava lá pra aqueles lados da ‘Carolina’. E como é bom recordar e sentir o cheiro de corda de bacalhau e fumo de corda, misturado com cheiro de querosene e cachaça servida no balcão e café moído na hora. Na lembrança ficaram os saudosos armazéns da infância que enrolo na memória no papel na totalidade avermelhada que ficava em cima do balcão ao lado da balança e da estufa...

Compartilhe

Comente: O armazém de alguém