Festival Gastronômico de Pirenópolis deixa saudades

Piri reuniu parte dos melhores experts em culinária; oficinas e show de Vanessa da Matta encantaram


Se para cada coisa há um lugar e se há um lugar para cada coisa, então, o IX Festival Gastronômico e Cultural de Pirenópolis se encaixa perfeitamente nesta premissa. Piri não é uma cidade perdida no tempo. E nem o tempo parou em Pirenópolis. No último fim de semana, a simpática “Piri” mostrou que, como cidade pitoresca, colocou os pingos nos “Is” – e também nos “Js”. A organização do evento soube ser pró-ativa ao aliar o astral da cidade, ao apelo gustativo que o evento enseja e acertou em aproximar a população local das novidades e experimentações oferecidas pelos chefs à cozinha local, comandada em geral por donas de casa que detêm sua “poções”, cujos ingredientes são arrancados ali mesmo, no fundo dos quintais de cada casa centenária que compõe o cenário de Pirenópolis. Vide o baru! Mas também houve vasto espaço para um mix de cozinhas internacionais, nacionais, locais, que misturaram tudo num caldeirão, e deram muito o que falar.

Mas nem só em tradições embasou-se o festival. A modernidade chegou via palestras, oficinas e demonstrações que contemplaram as novidades da gastronomia trazidas por chefs e experts na alquimia de transformar cores, cheiros, sabores e “sustanças” em lembranças eternas. A dona Roseli Maria Rosendo, 63, que vive em Pirenópolis, era uma das que estavam no sábado no espaço do Palco da Feira Gastronômica, por volta das 17h. Uma chef paranaense ensinava a fazer brigadeiro a partir da rapadura, lentamente derretida em um tacho de ferro – a “tachada”. Roseli supreendeu-se com a receita, pois para ela, rapadura era para ser consumida sólida, seca, e não pastosa em forma de “chocolate”. “Para mim isso é novidade”, declarou.

Enquanto no Palco da Feira Gastronômica pessoas esbaldavam-se com as novidades, nos fundos do Theatro Pyreneus rolavam degustações de vinhos, cervejas e brandies. Uma delas chamou a atenção, a tão comentada Colombina, cerveja goianiense há apenas dois anos no mercado, disponível em suas três apresentações: weiss, lager e indian pale ale. Também havia vinhos produzidos no Cerrado, alguns do Mercosul e os artesanais.
 
Ponto alto
Para os não iniciados em Gastronomia e afins, o ápice foi o encerramento do festival, com a apresentação da cantora mato-grossense Vanessa da Mata. Eu me refiro à galera que foi atraída ao evento não apenas pelo Festival, mas àqueles que foram lá para ver unicamente a atração artística que mandou ver excelentemente bem. Pessoas que comparecem ao evento não para tomar lições de como lidar com panelas e colheres, mas os que vão para deixar um pouco de sua renda na cidade, ao comer, beber, abastecer os seus carros, comprar uma coisinha aqui outra ali, enfim…

Vanessa da Mata foi uma escolha acertadíssma da Goiás Turismo e do Executivo do Estado de Goiás. Atraiu gente que viajou até 400 km para apenas vê-la, assistir a um dos seus shows, como uma professora de Educação Física que se abalou de Catalão para Piri só por causa dela, a Maria do Carmo. Vanessa mandou muitíssimo bem. Sua apresentação estava marcada para as 18h30, e ela subiu no palco às 18h36, atraso desprezível se comparado a astros mais conhecidos da MPB.

Vanessa cantou músicas do seu novo álbum, Segue o Som, arrepiou com os sucessos que a galgaram ao panteão das divas atuais da música brasileira, detonou com sua presença no palco, arrasou com seu figurino dourado e hipnotizou o público ao rodar sua saia áurea, como em transe, o que arrancou apenas uma das várias salvas de palmas e histeria coletiva que ela provocou ao longo do seu Show (com maiúscula mesmo). A nota distonante é que o grave do som comprometeu a apresentação da intérprete. Quem ficou a menos de 100 metros do palco só ouviu reverberações insanas, e não conseguia acompanhar o que da Mata cantava ou dizia. Vamos melhorar esta questão nas próximas edições, gente?

Por Adalberto Araújo – Publicado no Jornal O Hoje

Compartilhe

Comente: Festival Gastronômico de Pirenópolis deixa saudades