Eu fui um 'menino de Kichute'

O jornalista Fábio Trancolin conta um pouco da história de Rio Verde em crônicas


Tem coisas que não saem da minha memória, elas estão bem recentes mesmo que tenham acontecido há quase 40 anos, elas fizeram parte da minha adorável infância, mas para muitos dos meus amigos, têm coisas que eles não usaram e nem ouviram falar. Recentemente, fui ouvir uma palestra e o conferencista citou o famoso ‘kichute’, acredito que a maioria das pessoas que estavam na plateia nunca viu um exemplar do mais famoso calçado da molecada da década de 70 e 80, era um misto de tênis com chuteira, e tinha como slogan ‘‘kichute, calce essa força’’. Foi o tênis da minha infância, aquele que te levava a todos os lugares, pois ele servia pra tudo mesmo, o tênis da escola, do futebol e de sair também... O “kichutão” quando estava novo era ‘preto petróleo’, vinha num saco plástico e tinha aqueles resíduos de borracha, que se assemelham ao pneu novo da bicicleta, a ideia era ir para quadra ou correr no asfalto para que elas pudessem desaparecer o mais rápido possível, e lavar para ele perder a cor.   Foram muitos anos usando o “pretinho básico”.

Passei pela fase da conga, tive uma azul e uma branca, porém elas fizeram pouco tempo das minhas andanças, depois veio uma que era um pouco melhor e, com cores mais variadas, a Conga Alcolor, também, usei, comprei alguns pares lá na Casa Lacerda. Esse tipo de calçado também vendia nos armazéns. O Kichute usava até acabar para poder ganhar outro, tempos difíceis, lembro-me de certa vez, o meu abriu na parte de baixo e estava uma lástima, o pai então fez um remendo com arame, era domingo e tinha jogo na quadra do TG, o pai disse “amanhã eu te compro outro, mas até lá, vai assim...” É claro virou piada... Mas, também, virou história. Eu fiz parte dos ‘Meninos de kichute’.

Em 1981, eu morava em São Paulo, meu pai comprou um Tênis Bamba na feira de sábado na Rua Enéas de Barros, sabe que esse era um sonho para quem só usava kichute, ele era mais sofisticado e elitizado, não se comparava aos ‘Rainhas’ e ‘Topperes’, mas calçava melhor e combinava com a calça jeans. E, em novembro daquele ano, eu ganhei o meu primeiro Tênis Topper, esse foi para ir ao casamento da minha prima Cosete... Era um belo tênis, em detalhe verde e azul e de nylon, adquirido no Romão Calçados na Avenida Celso Garcia.  Hoje, as lojas de calçados têm “trozentos” exemplares nas vitrines que fica até difícil escolher... Boas lembranças dos tempos em que se amarrava o cadarço na canela e era o velho e bom parceiro de bola.

No meio da década de 80 (lá pelos anos 85 e 86), as coisas estavam melhores financeiramente falando, então apareceu nos nossos pés o All Star, esse era Top! Fez parte da minha adolescência, foi febre na geração 80... Gostava dos tons azuis, mas teve amigos que chegaram a usar na cor laranja, amarelo e roxo, até rosa choque teve gente que chegou a usar, ou tinha aqueles que mesclavam uma cor com outra era chamado de “vários em um”... Quem esteve lá, nesse momento deu vontade de pegar o “DeLorean” e retornar ao mundo mágico da geração 80, ouvir as bandas de rock (nacional e internacional) do bom som da década de ouro. Calça jeans, tênis, camiseta de mangas dobradas e walkman nos ouvidos a fita cassete tocava RPM...

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