Em cartaz: O Regresso

Filme está em exibição no Buriti Shopping Rio Verde


Existe o risco real de O Regresso passar os próximos meses sendo associado a chance de Leonardo DiCaprio finalmente conquistar um Oscar após cinco indicações. Mas é importante destacar que o filme não é apenas Leonardo DiCaprio. Sua atuação é arrebatadora e tudo leva a crer que o ator realmente pode levar uma estatueta para casa, mas se isso não acontecer, não há motivo para o filme ser desvalorizado ou esquecido. A qualidade do longa (e de nenhum longa) não deve estar relacionada ao bom desempenho em premiações. Independente do número de troféus que irá acumular na temporada de premiações, uma coisa é certa: trata-se de um filmaço.

Diretor de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), Alejandro González Iñárritu se coloca definitivamente entre os grandes nomes de Hollywood. O cineasta mexicano tinha vista a carreira dar uma esfriada após Babel, mas agora está de vez na nata do grande cinema americano.

Se Birdman era uma preciosidade sobre a jornada de sucesso, decadência e esquecimento de um artista, O Regresso é uma obra ainda mais radical sobre o homem, sua luta para sobreviver e seu desejo por vingança.

Ainda vamos falar muito de DiCaprio e Iñárritu, mas agora é hora de destacar o principal nome da produção: Emmanuel Lubezki. Premiado pelos trabalhos em Gravidade e Birdman, o diretor de fotografia caminha para seu terceiro Oscar seguido. Ele tem trabalhos primorosos em obras como A Árvore da Vida e Filhos da Esperança, mas nunca filmou tão bem quanto em O Regresso. O trabalho em Birdman, quase todo em plano-sequência é especial, sem dúvida, mas ali também falamos de uma técnica de montagem. Aqui, em se tratando de fotografia, o resultado é fabuloso. Mesmo contando com algumas sequências pesadas e fortes, o filme é de uma beleza estonteante.

The Revenant (no original) talvez esteja ao lado de A Árvore da Vida e Sangue Negro como alguns dos longas mais belos da última década. Independente do momento em que escolher dos 156 minutos de duração, se parar o filme, tem uma grande chance de se deparar com uma bela tomada. Basicamente, cada frame é um wallpaper. E isso vale não apenas para as muitas tomadas da natureza, com rios, montanhas, florestas e neve, mas as cenas de ação também possuem uma beleza estética impressionante, como uma perseguição em plano-sequência que vemos no meio do longa.

Sim, Lubezki não abre mão dos planos-sequências, o que é ótimo, afinal ninguém utiliza a técnica como ele. São vários os momentos do filme em que temos grandes cenas sem cortes, algumas de dificuldade imensa, como a perseguição citada ou a cena de ação logo no início da produção, que já funciona como uma espécie de cartão de visitas para mostrar do que o filme é capaz.
DiCaprio interpreta Hugh Glass, um forasteiro que atua como guia para americanos que caçam animais em uma região perigosa e pouco acolhedora dos Estados Unidos, em 1820. Atacado por um urso, ele fica bastante ferido e acaba abandonado para morrer pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy). Glass, no entanto, acaba sobrevivendo e luta para sobreviver com um único objetivo: ir atrás de Fitzgerald.

Ainda que o nome de DiCaprio seja, merecidamente, mais comentado, afinal ele é sim o fio condutor da produção e entrega uma performance inesquecível, cabe destacar que todo elenco está muito bem. Hardy é muito mais do que apenas o vilão. Trata-se de um homem complexo, com medos e objetivos. Domhnall Gleeson e Will Poulter também surgem em com atuações intensas e bem desenvolvidas.

Parcialmente baseado em obra de Michael Punke e escrito por Iñárritu e Mark L. Smith, o filme mescla como poucos ação e contemplação. Possui um bom ritmo e cenas empolgantes, sem deixar de oferecer momentos de respiro ao espectador, que assim como o personagem de DiCaprio é obrigado a confrontar a beleza e vastidão da natureza.

Vencedor do Oscar pelo trabalho em O Último Imperador, Ryuichi Sakamoto cria uma trilha sonora muito bonita, que toca o filme sem querer roubar a cena, mas mesmo assim se faz presente de forma significativa. A trilha, por sinal, é apenas mais uma virtude de um trabalho sonoro perfeito da produção. Os efeitos sonoros, o som e a mixagem do longa são incríveis. O público se sente em meio àquele cenário, ingressando quase em uma experiência sensorial.

A montagem de Stephen Mirrione (Traffic) também é digna de aplausos. Não é fácil evitar quedas de ritmo em um filme com mais de duas horas e meia de duração. Ele mescla cenas com personagens e momentos da natureza sem soar contemplativo demais. Tudo é muito natural e está ali por um motivo.

Cenários, figurinos, direção de arte, design de produção... Tudo no longa é de primeira qualidade. Um trabalho praticamente irretocável que tem tudo para agradar o público e marcar história. No início de sua carreira, Iñárritu geralmente era menos destacado que Guillermo Arriaga, seu roteirista em Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. Com o final da parceria, o cineasta parecia destinado ao esquecimento, mas aqui ele mostra mais uma vez que não vamos nos livrar tão cedo dele. O que é ótimo. No novo trabalho, Iñárritu inova ao quebrar, ainda que delicadamente, a quarta barreira. Não, DiCaprio não faz como Kevin Spacey em House of Cards e conversa diretamente com o público, mas o diretor faz a câmera ser notada em alguns momentos, não apenas recebendo gotas de sangue ou água. Em pelo menos duas cenas, a câmera chega tão perto do protagonista que a respiração do mesmo embaça a lente.

O filme será vendido por muitos como mais uma obra de homem contra a natureza, mas é mais que isso. A luta pela sobrevivência é parte importante da história, mas não mais importante que a poesia visual. O espectador é confrontado com cenas absolutamente brutais e muito realistas, algumas de fazer se revirar na poltrona, mas o que fica mesmo é o belo.

Iñárritu sempre levou entre três e quatro anos trabalhando entre um filme e outro. É curioso que no período de apenas um ano tenha entregado duas obras tão distintas e fantásticas como Birdman e O Regresso. É esperar pelo próximo projeto, ainda não anunciado, do diretor.

O Regresso é um dos mais belos filmes dos últimos anos, uma obra tensa, envolvente e deslumbrante que traz uma atuação visceral de um dos atores mais brilhantes da atualidade. Se vai ser reconhecido com o Oscar, eu não sei. Se não for, azar do Oscar.

O filme está em exibição no Buriti Shopping Rio Verde. Para conferir os horários, acesse http://www.cineflix.com.br/programacao/buriti-shopping-rio-verde/ . Clicando no ícone “Vídeos”, você assiste ao trailer do longa.

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