Em cartaz: O imperador

Filme está em exibição no Buriti Shopping Rio Verde


Para um filme que consiste em um guerreiro vagabundo que se chapa para enterrar os pecados do passado, O Imperador (Outcast, 2014) é muito redondo. Não será motivo de espanto caso o mesmo seja visto sendo exibido na TV em um horário visado para fisgar um público pré-adolescente, fissurado em histórias comuns de guerreiros valentes sob a companhia de suas espadas. É um trabalho feito para vender, vestindo certa imagem de Akira Kurosawa (lembranças de Yojimbo – O Guarda-Costas [Yojimbo, 1961] e Sanjuro [Tsubaki Sanjûrô, 1962]) mais como uma forma de sabotar um produto para transformá-lo em fast-food. Prova disso é o curioso fato de que existem diversos povos retratados ao decorrer da trama, e todos falam inglês de forma limpa e clara – não que isso seja um problema para a forma de uma obra ficcional em sua teoria, mas neste caso serve para mostrar o toque enlatado existente aqui.

O mocinho é o Hayden Christensen, que basicamente troca o seu sabre de luz como Anakin Skywalker (lá da segunda trilogia Star Wars, naturalmente) por uma espada sob a pele de Jacob, personagem que um dia lutou em nome de Deus. É um personagem até interessante em toda a sua reflexão sobre a culpa e sobre a fé, mas foi inserido no filme errado – aqueles cenários cheios de capim, em contraste com as lembranças do guerreiro; algo interessante, porém utilizado pelas coxas. O Imperador é tão apressado que tenta se desenrolar sobre uma série de estranhas cenas de ação enquanto seus personagens apresentam sérios conflitos internos. Estranhas cenas de ação porque, apesar de bem violentas, o sangue em vários momentos parece ser poupado – preocupação com a faixa indicativa nos cinemas, talvez. É óbvio que Nick Powell surgiu apenas para tapar o buraco da direção (seu primeiro trabalho na área) a fim de entregar uma encomenda. Sem graça. Tão sem graça que o filme mata a esperança de uma daquelas surtadas do Nicolas Cage (que, utilizado de forma curiosa para atrair atenção do público, foi estampado como o ator principal, sendo que seu personagem só aparece no início e pouco após a metade), que fazem até mesmo a pessoa mais séria do mundo gargalhar.

O maior problema nem é a previsibilidade do enredo, que, no alto de sua cafonice em meio a todo o seu desenrolar sobre traições e ganância, nos entrega uma relação amorosa interracial para despertar os suspiros das donzelas: essa própria previsibilidade citada é fruto de um mal maior que assola a obra a quase todo o momento, a preguiça. É esse aspecto que demonstra a capacidade de O Imperador para subestimar a inteligência de quem o assiste, tentando enganar ao mesmo com uma série de cenas genéricas que tentam copiar boa parte de momentos clássicos do cinema asiático para converter no mais baixo padrão de filmes B oportunistas - os filmes da Asylum, por exemplo.

Falta ousadia, histeria. Falta muito mais sensibilidade para ir além da superfície, aproveitar melhor as influências para inserir uma carga significativa de marca no espectador; e quando se diz “sensibilidade”, é também no sentido de saber rir um pouco de si. É tudo tão comum que o espectador poderá ser pego questionando a si mesmo: onde está, por favor, aqueles gritos de “The beeees! AHHH not the bees!”, presentes em O Sacrifício (The Wicker Man, 2006)? Se há falha em praticamente tudo o que existe, um pouco de humor – involuntário ou não – não faria mal. O grande problema de O Imperador é que é um filme que se leva a sério demais, quando, na verdade, se trata de algo bem pueril. Um material desses necessitaria de alguém sacana, sem medo de meter a cara na poeira. Imagino nas mãos de alguém como a dupla Mark Neveldine e Brian Taylor...

O filme está em exibição no Buriti Shopping Rio Verde em versão dublada às 14h30 e às 19h40. Para assistir ao trailer do filme, clique no ícone “Vídeos”.

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