Em cartaz: O Concurso

Filme está em exibição no Shopping Rio Verde


Se você é daquelas pessoas que acreditam em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa ou que um candidato à Juiz Federal vai, caso não passe na prova para o cargo, ter que pedir esmolas para sustentar a família, então vai gostar sem dúvidas deste O Concurso. A película nacional é dirigida por Pedro Vasconcelos, que ostenta no currículo, e com muito orgulho, a direção de obras como A Favorita, Sete Pecados, Malhação e Escrito nas Estrelas (Sim! Novelas). Melhor seria que tivesse continuado na outra terra dos folhetins globais do que se aliado aos LG’s (Bayão e Tubaldino Jr.), velhos mantras das desgraçadas comédias nacionais, e criado mais uma besteira irrelevante para o nosso cinema. E ainda pior, colocando toda a culpa em filmes como Se Beber, Não Case, que segundo o diretor, foram as maiores inspirações para a criação do enredo e do desenvolvimento da obra em questão.

O Concurso aqui é para o cargo de (tchanram!!) juiz federal e os candidatos classificados para a última fase da seletiva foram: Caio (Danton Mello), Rogério Carlos (Fábio Porchat), Freitas (Anderson de Rizzi) e Bernardo (Rodrigo Pandolfo). Seus nomes são apenas acessórios. Cada um deles representa, na realidade, um estereótipo do nosso país. O primeiro é o carioca bonachão e corrupto. O segundo é um gaúcho homossexual. O terceiro é um nordestino cheio de superstições e crenças. E o quarto é um paulista interiorano dono de um sotaque bem típico de sua região. Após introduzir bem seus personagens, concedendo elementos para que o universo de cada um fosse reconhecido de forma intencional, Pedro os une de forma rápida e canhestra, através de cortes rápidos e secos, e minutos depois os quatro já estão juntos jurando fidelidade “ao grupo”.

A ideia de criar uma comédia sobra a “turma de amigos que se mete em confusões” não seria tão infeliz, como foi, se ao menos a premissa inicial da própria ideia fosse cumprida. Mas ela não foi: OS CARAS NÃO SÃO AMIGOS. Eles se conhecem, percebem como seus mundos são diferentes uns dos outros e MESMO ASSIM decidem sair por aí confiando em um desconhecido que, por acaso, é concorrente direto à vaga e que, por acaso, porta drogas na bolsa e que, por acaso, já conseguiu um jeito de ter acesso ao gabarito da prova. O roteiro possui todas essas loucuras que nós já estamos cansados de falar sobre em cada nova estreia de comedia nacional. Mas aqui o ponto dos “diálogos sofríveis” precisa ser ressaltado na medida em que as seis mãos que escreveram o roteiro do longa esquecem da infinidade de factóides a serem abordados por um filme de nome O Concurso e se fecham a um globo que agrega críticas depreciativas à homossexualidade e regionalismo juntamente a personagens bizarros como os anões que chefiam o tráfico do Rio de Janeiro e a atiradora de facas ninfomaníaca (ou apenas “uma garota apaixonada”, como ela se autodenomina) interpretada pela estreante Sabrina Sato, que realmente mostrou para que veio (isso da forma mais negativa possível). É Sabrina a responsável pelas coisas mais toscas da produção, como repetir infinitas vezes a mesma fala: “Ou você me come… ou eu te mato”, além de exalar amadorismo durante todo o seu tempo em tela, provando o interesse dos produtores em apenas fisgar mais uma dezena de milhares de espectadores pela presença da beldade nos cartazes do filme espalhados por aí.

Mas se por um lado Sabrina escorrega por não ser atriz e na verdade interpretar uma atriz fazendo o papel de alguma coisa, o restante do elenco não tem essa mesma desculpa. Danton Melo, assim como o diretor, mostra que seu lugar é mesmo na TV. Falta carisma para conseguir despertar o interesse, a torcida, o ódio, ou qualquer que seja o sentimento do público para com o seu personagem. Anderson penetrou nos cacoetes de sua persona e criou o cara mais interessante do grupo. Mesmo assim, as situações as quais se envolveu e o desfecho de seu Freitas o prejudicam pela grandiosa impossibilidade, que chega a beirar as fronteiras do racional. Rodrigo Pandolfo sofre com a limitação dada pelo roteiro ao seu personagem. Convenhamos, não deve haver nada pior do que ter que interpretar alguém que é perseguido por Sabrina Sato. Fábio Porchat faz da maneira de sempre o que tava no script. Como o que tava no script era a relação de dominação coronelista e intolerantepai/filho duelando com uma descoberta sexual surgida da forma mais inusitada possível, tudo isso em um defeituoso paralelo criado pela montagem, o que vemos em tela é uma bagunça em todos os níveis, que já não nos acostumamos mais a ver depois de conhecermos o Porchat meticuloso e crítico do Porta dos Fundos.

Tecnicamente falando, o filme é engessado. O orçamento não é alto, então, uma festa no morro tem o número de figurantes contados, os planos gerais da “galera” não são tão gerais assim, até na praia prima-se mais por fechar nas expressões dos personagens do que abrir e mostrar a tal beleza da cidade citada por um dos membros do grupo num dado momento. A trilha é monótona e repetitiva, recorrendo ao samba e a trechos de músicas semi-novas de suspense em momentos esporádicos. A direção de arte de Zé Luca também sofre pelo orçamento não tão alto da produção e procura reduzir-se ao máximo. O fato dos ambientes serem quase todos pobres de objetos não é apenas um recurso narrativo.

A montagem guarda para o final a maior decepção do filme. Uma quebra da quarta parede de uma forma, se pouco, vergonhosa, se muito, desonesta. E pior… Não para contar uma surpresa e sim para mostrar o que todos já sabiam bem antes da projeção acabar.

Enfim. O Concurso é um filme que fala sobre várias coisas e até tenta dar uma lição de moral, mas no final das contas não tem moral nenhuma e se torna mudo na medida em que nos apercebemos da grande nulidade de seus discursos que giram, giram, giram e não saem do lugar. Não faz rir e perde grandes chances de refletir sobre e até satirizar a indústria dos concursos, que é tão mafiosa e audaz em nosso país. Além disso tem Sabrina Sato estreando “com tudo” como atriz e pagando o maior mico de sua vida, mesmo que já seja especialista em atitudes vexatórias devido ao seu programa dominical na TV aberta. As participações especiais estão garantidas e adicionam mais rostos conhecidos ao filme, como o de Carol Castro, que se perdem na trama insólita que, dada as suas resoluções fáceis e previsíveis, deixa aquele gostinho ruim de novalgina na boca. CHEGA de Pedro Vasconcelos tentando ser Todd Phillips a pulso. Um Todd Phillips no mundo já é muito mais do que suficiente.

O filme está em exibição no Shopping Rio Verde, às 19h20 e às 21h20. Para assistir ao trailer, clique no ícone “Vídeos”.

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