Em cartaz: Homem de Ferro 3

Filme está em exibição no Shopping Rio Verde


Muito se especulou sobre quão dramático seria o enredo de Homem de Ferro 3, projeto responsável por, dizem, fechar a participação do astro Robert Downey Jr. na franquia que apresentou o Universo Marvel aos cinemas. Na verdade, foi até um alívio notar que, enfim, a fórmula iniciada há 5 anos poderia ganhar um novo tom, denotando não apenas o amadurecimento de seus realizadores, mas também a criatividade que, afinal de contas, sempre os caracterizou nos ótimos quadrinhos do herói.

Mas tudo não passou de uma questionável estratégia de marketing. Toda a responsabilidade nas mãos de um ótimo protagonista; cenas de ação que esbanjam poderio criativo e financeiro; humor capaz de transformar a projeção numa descompromissada viagem por inúmeras (e egocêntricas) referências a um universo querido: tudo remete ao frescor visto em 2008, quando fomos apresentados à versão em carne e osso de Tony Stark. Essa explosiva forma de reciclagem, no entanto, se torna um problema cada vez maior por demonstrar que desenvolver variadas formas de se contar histórias não é o verdadeiro objetivo ressaltado pela franquia. O que importa aqui é gerar a maior bilheteria enquanto se defende uma zona que há muito se tornou de puro conforto.

Dessa vez, o roteiro concebido por Drew Pearce e Shane Black (também diretor) nos mostra um Stark (Downey Jr.) fragilizado pelos recentes encontros com os Vingadores. Vítima de constantes ataques de ansiedade, o playboy, filantropo e herói encontra em suas criações uma válvula de escape que o faz se afastar do comando de sua empresa, cargo que fica sob responsabilidade de Pepper Potts (Gwyneth Paltrow). Enquanto isso, os devastadores ataques de um terrorista conhecido como Mandarim (Ben Kingsley) fazem com que a figura do Homem de Ferro seja cada vez mais necessária, ainda que tudo de mais importante que Stark  possui clame pelo contrário.

Assim como os vários cartazes, trailers e clipes lançados, a premissa do projeto dá a ideia de que nosso herói, enfim, enfrentará desafios à altura de sua canastrice, sendo envolvido por dificuldades que vão muito além de explosões, ferimentos e armaduras danificadas. Ora, até mesmo temas políticos fazem parte deste capítulo, ressaltando tanto o clima de medo gerado pelos inúmeros ataques terroristas sofridos pelos USA nos últimos anos quanto o envolvimento da mídia para que o mesmo clima de tensão seja disseminado sem o mínimo de responsabilidade. E o que dizer de uma arma de guerra que, pintada com as cores de uma bandeira, se transforma instantaneamente num símbolo controverso de paz e segurança?

Mas boas premissas precisam de bom desenvolvimento, sendo esse o motivo pelo qual Homem de Ferro 3 causa seus maiores embaraços. Ao, por exemplo, nos depararmos com o plano de Killian (Guy Pierce), fica difícil não nos contorcermos de vergonha por conta das reais intenções do personagem, culminando num clímax que envolve até mesmo cenas dentro de um avião presidencial (ataques do tipo ainda representam a maior ameaça de um país?). Ou seja, em detrimento de uma história infinitamente mais interessante, o filme deixa de lado o pouco de atualidade que os vídeos do Mandarim incitam (e que, vale dizer, surgem como a escolha mais interessante de Pearce e Black). Além disso, fica difícil torcer quando todos os perigos enfrentados pelo nosso herói parecem muito menores do que realmente são. Pois ver Stark se safando sem grandes dificuldades de quaisquer ameaças (e abusando do sarcasmo durante todo o tempo) faz com que a doença criada “nas coxas” pelos roteiristas surja genérica em sua tentativa de dar ao personagem características mais humanas.

Já o Shane Black diretor encontra inquestionável sucesso quando tem em mãos sequências grandiosas de ação. Proporcionando ao público a chance de acompanhar com clareza os hipnotizantes voos do herói, bem como compreender as divertidas batalhas orquestradas (com destaque para o intenso resgate no ar), Black é hábil ao mesclar planos abertos e fechados como forma de situar o espectador em meio aos confrontos vistos, demonstrando, ao contrário dos Michael Bays da vida, se importar com a nossa participação durante tais momentos. Assim, é uma pena que, no restante do tempo, ele transforme Homem de Ferro 3 em mais do mesmo e, de quebra, contribua para que o filme reforce a imagem de produto a ser esquecido assim que as luzes se acendem. É incrível, inclusive, que o diretor utilize tantas vezes um recurso tão conveniente como o deus ex-machina ao perceber que seu protagonista corre perigo, além de ser difícil entender como um filme que transforma o fantasioso Mandarim numa figura absolutamente crível é capaz de conceber a inacreditável imagem de um homem soltando fogo pela boca (!).

O que nos leva ao elenco do projeto. Novamente dando a Robert Downey Jr. todo o direito de brilhar, o filme parece encontrar em Gwyneth Paltrow a mulher de impacto que seus antecessores já sugeriam, proporcionando à atriz bons momentos como empresária e (pasmem!) heroína, inclusive no sentido literal da palavra. Já Don Cheadle, Rebecca Hall e Guy Pearce tornam-se apenas irrelevantes em suas participações esquecíveis, ao passo que o último surge como um dos vilões mais óbvios, caricaturais e dispensáveis já criados. Ben Kingsley, por sua vez, é quem cria a segunda figura mais interessante do projeto, apostando numa composição surpreendente que surge alucinada e ameaçadora em sua constante irresponsabilidade. Nas mãos de realizadores mais ambiciosos, fica claro que seu esforço poderia até mesmo se tornar marcante por conta da pertinência que abraça.

E isso é apenas mais uma prova da fragilidade narrativa deste Homem de Ferro 3, obra que não se incomoda em desperdiçar a forte, atual e ambiciosa premissa que possui. Ao preferir ficar em sua zona de conforto, a franquia deixa apagar a chama que a fez ser bem recebida em 2008, assumindo se conformar com os milhões de dólares novamente conquistados nas bilheterias americanas e que, claro, conquistará ao redor do mundo. Pior para o público, também composto por pessoas que, ao entrarem num cinema, esperam mais do que referências vazias e repetitivas lançadas de qualquer maneira na grande tela.

O filme está em cartaz no Shopping Rio Verde, na sala 3D em versão dublada às 14h10, às 16h30 e às 19h. Às 21h30, é exibida a versão legendada do filme. Para assistir ao trailer, clique no ícone “Vídeos”.

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