Contando histórias: No vai e vem da pá, o grão dourado, vira aqui e vira pra lá

O jornalista Fábio Trancolin conta um pouco da história de Rio Verde em crônicas


No vai e vem da pá, vira aqui e vira pra lá... E nesse vai e vem o arroz ia secando... Serviço árduo que era realizado nos outonos dos anos 70 e que foi até 83/84 nas ruas de Rio Verde... Nem todas as ruas recebiam os grãos dourados, as mais utilizadas eram a João Belo e a Augusta Bastos, naqueles tempos o trânsito era ‘devagar’ e a quantidade de carros era bem menor (e põe menor nisso), mas, outras ruas também recebiam os caminhões e seus chapas, nas proximidades do estádio Mozart Veloso do Carmo e mais algumas.

Lembro do meu Tio Lázaro da Silva (Tio Zuza) no seu velho e bom Chevrolet 64 fazendo frete e transportando a safra, lá ia ele na roça no volante do ‘brutu’ buscar a colheita. Então entrava em cena os ‘chapas’ que eram contratados para descarregar os caminhões, e as poucos iam distribuídos os grãos na via, em pouco tempo ela estava praticamente tomada, deixavam um corredor para que os carros pudessem passar... E lá ficavam expostos, e os trabalhadores de hora em hora iam revirando o arroz com seus rodos enormes.  E suando em bicas, protetor solar, eles nem sabiam o que era isso. O cheiro invadia o ar, com o passar dos tempos descobriram que aquele pó expelido pela palha faziam um mal danado, o meu pai sabe bem o que isso, na minha casa fez estrago na saúde dos meninos.  

O final da tarde vinha se aproximando e era a hora de começar a recolher, rodo que vai e rodo que vem, juntava aos montes no meio da rua, então entravam em cena as latas de 18 litros, que mergulhavam na montanha dourada, e era despejada nas bocas abertas dos sacos de linhagem, em pouco tempo ele já estava de pé na espera da agulha e do fitilho nas mãos hábeis do ‘costureiro’. Terminada a amarra os sacos eram tombados, a espera da turma que amontoaria as pilhas que faria a alegria da molecada. Eu fiz parte dessa molecada, como escalei essas pilhas. E no outro dia tudo de novo, espalhavam o ‘agulhinha’, e vai e vem, vira que vira... Depois da secagem os caminhões levavam para o beneficiamento.

Em algumas vezes ocorriam problemas, e o pior que poderia acontecer para essa turma, era um drama chamada chuva, quando ela vinha de repente, causava estrago. E os grãos desciam na enxurrada e eram despejados no córrego Barrinha. Mas, na maioria das vezes tudo corria dentro previsto. E depois de ser beneficiado a ‘Oryza Sativa’ alimenta mais da metade da população mundial. É a terceira maior cultura cerealífera do mundo, o Brasil é o 9º maior produtor de arroz do mundo. Hoje Rio Verde não produz mais arroz, perdeu espaço para o milho e a rainha da vez a soja. Tem aquele produtor que planta para o consumo. E depois de tanta labuta e de toda a via sacra ele chegava na mesa das famílias para formar o casal perfeito, ‘Arroz e feijão’...

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