Contando histórias: A tabacaria do outro lado da rua

O jornalista Fábio Trancolin conta um pouco da história de Rio Verde em crônicas


Quando eu era garoto tinha certo fascínio pela fumaça do cigarro, o cheiro atraia e encantava.  Via os amigos da marcenaria do pai com aquele ar e pose para acender um cigarro. Via o Waldomiro e o Messias acenderem seus cigarros com o isqueiro que imitava o maço de cigarros, Hollywood e Minister, nossa como era bacana. E pensava, ainda vou ter um desses... Os maços de cigarros mexiam com o imaginário da molecada, naquela época, fazíamos coleções de maços, eles valiam pela beleza e a dificuldade de encontrar determinadas marcas de cigarro. O tempo passou, eu cresci e quando eu disse que teria um desses, tive. Aprendi a fumar (reconheço que foi um tremendo erro), mas, naqueles tempos não era (pensávamos assim). Era charme, Hollywood o sucesso e era um raro prazer ter um Carlton. As melhores propagandas eram as de cigarro, quem é que não se lembra do cowboy do Marlboro e as belas mulheres e os esportistas no sucesso do Hollywood com seus windsurfes, ultraleves, motos e Jet Skys...Ao som dos ‘Classical Metal’, Whitesnake ‘Love ain't no stranger’, Survivor ‘Burning heart’, Journey ‘Don't stop believing’, ‘Jump’ do Van Halen… Isso convencia, e como convencia...

E porque falar de cigarro? Algo que faz tão mal... Mas, a ideia é recordar ‘a tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, e à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro... (Fernando Pessoa)’. A Tabacaria Leandro desde 1976 está no mesmo endereço na Rua Rui Barbosa e o casal amigo o Laurício Parreira e a Dona Luiza estão ali, com os santos, essências, e os cheiros de incensos que há quase 40 anos invade as narinas de quem a visita. E eu a visitava para comprar cigarros diferentes, pois só lá encontrava Parlíament, JPS, Camel e um que eu ‘adorava’ Chanceller...  Isso era quando tinha grana, pois esses eram mais caros, barato era o Montreal, Plaza e por falar neste, foi o primeiro maço que eu comprei. Ainda me lembro o dia que entrei noArmazém do Nelito que ficava ali na Rua Augusta Bastos e pedi um maço, isso foi em 83, a ideia era comprar um Carlton, mas, a grana não deu... Cheguei em casa e o escondi na casca de uma bananeira que tinha na porta. Foram uns três anos até o pai descobrir que eu fumava (eu fui o único lá em casa a fazer isso)... Depois ele aceitou meio a contra gosto.

Em 88 decidi que iria parar, aquilo estava me fazendo mal, nessa época eu fumava Free, morava em São Paulo e eram uns dois maços por dia. Não foi fácil deixar, passar na porta de padaria o cheiro era convidativo a um café e um cigarro. Fui diminuindo, parando ao poucos, quando ia trabalhar, saia do metrô e passava numa banca que vendia cigarro ‘picado’ em frete a Biblioteca Mario de Andrade na Rua Xavier de Toledo e comprava um cigarro chamado Benson & Hedges, e subia a Rua da Consolação com aquele longo cigarro de sabor adocicado... E fui deixando e acabei largando.

Mas, a ideia de contar essa história foi simplesmente uma maneira de homenagear os proprietários da Tabacaria Leandro, um comércio que ao longo dos anos não fechou a suas portas e sempre ao passar em frente o cheiro te remete ao passado. ‘Cada um na sua, com pelo menos alguma coisa em comum’. E com ‘uma classe a mais’ é um ‘raro prazer’ contar histórias, isso é ‘o sucesso’.

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