Contando histórias: A Rural do Waldomiro

O jornalista Fábio Trancolin conta um pouco da história de Rio Verde em crônicas


Sempre que recordo da minha infância me lembro das aventuras que marcaram e não foram poucas, hoje lembrei da velha Rural do Waldomiro. Era uma Rural branca e azul, o assoalho dela foi consumido pelo a ferrugem e isso originou alguns buracos que eram verdadeiras crateras. E nos finais de semana que geralmente eram prolongados lá íamos nós para o cerrado. Às vezes a procura de pequi, cajuzinhos, madeiras e na maioria das vezes era só por ir mesmo, sempre tinha uma fazenda ou beira de rio, os tempos das porteiras abertas e a receptividade do pessoal da roça em te ver, eles ficavam felizes de verdade.

Falando da Rural ela só tinha os bancos da frente, atrás eram um vão e o assoalho era forrado com compensado que não ajudava, pois a poeira invadia o ambiente. Para sentar eram colocados tamboretes, caixas e pedaços de madeira. Lembro que uma vez fomos no veiculo ou melhor na ‘condução’ para o chapadão (pois ela ia e voltava) a fazenda era aquela ‘Muito além do horizonte da terra vermelha do sertão’ vinte e duas léguas rumo a Serra do caiapó, ela sempre foi e voltou, nunca deixou o condutor na mão. Ela também chegou a conhecer a beleza da cachoeira do Montividiu, naqueles tempos era de livre acesso, e todos tinham o direito de conhecer umas das belezas do cerrado, hoje os cadeados impendem à presença.

O caminho mais utilizado por ela, era a GO-174, rumo ao Ribeirão do meio ou o córrego das abóboras, o pai e o Waldomiro sempre andava por aquelas bandas a procura das toras de sucupira, elas eram muito aproveitadas para fazer as colunas das mesas de jantar e outras peças da bela arte da marcenaria. Tanto um quanto o outro eram exímio artesão na arte de trabalhar com a madeira. E também na aquela região tinha a fazenda do amigo o Seu Rosalvo. Todos os parentes de São Paulo que veio nos visitar, tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Era um ‘boa praça’ contador de ‘causo’ (cada caso, um pior do que o outro... Aquilo era mentira mesmo, uma pior do que a outra, geralmente de assombração) mas, aquilo era pura diversão.

E numa dessas idas para aqueles lados na volta aconteceu algo inusitado. O pai todas as vezes que voltava, subia no capô da velha Rural e viam no meio da estrada poeirenta. E dessa vez, lá estava ele na frente da ‘xebrosa’ parecendo aquele cisne que fica de enfeite em alguns caminhões. Porém nesse dia, o Waldomiro foi acender um cigarro e olhou para atrás para pegar o fósforo com a Cleuzinha, e perdeu o controle da direção e marcou o rumo das desbarrancadas... Caramba, no momento o ‘trem’ foi feio, depois virou farra. O pai ficou uma ‘arara’, chamando o ‘Wardo’ de irresponsável e sem noção, dentro da Rural foi um ‘furdunço’ tamborete virando, moleque caindo, choro de alguns, gritos de outros, mas no final tudo voltou à ordem, apenas arranhões e escoriações leves, uma delas foi o primo que veio de São Paulo o Marquinhos, ele era o menor que estava no meio, e acabou sendo atingido pelo pé do banco e isso deixo a testa inchada.

A Rural deixou saudades. Todas às vezes no retorno dos passeios, voltamos com o cabelo duro, e só o branco do olho o resto era só pó, ‘comemos’ muita poeira sertão a fora. Mas as lembranças nos trazem grandes recordações de um tempo bom e de pessoas melhores ainda.

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