As casas por onde passei

O jornalista Fábio Trancolin conta um pouco da história de Rio Verde em crônicas


Renato Russo disse, “Já morei em tanta casa, que nem me lembro mais... Eu moro com meus pais”... Eu morei em tantas casas e sabe que eu me lembro de todas, eu casei e moro com os meus pais. Sentado na porta de casa na sombra de uma árvore eu e o pai conversávamos e resolvi contar as casas que eu me lembrava em que moramos, e foram muitas, trinta e três casas, isso sem contar as que eu não lembro, mas me recordo de cada uma, suas portas e janelas, quintais e fachadas... Mistérios e fantasmas. 

A primeira ficava na Rua Geraldo Jaime, a casa da Dona Maria Baiana, próxima ao Colégio do Sol, nessa época, eram apenas dois filhos eu e o Jairinho. Lembro-me do circo passar na porta e o palhaço da perna de pau que nós morríamos de medo, a mãe pra nos colocar para dentro, dizia que ele nos levaria pra lavar as longas calças dele (maldade). Depois, mudamos para a Avenida Presidente Vargas, ali nasceu o Marcello, essa casa ficava onde hoje está a Sirlene Imóveis, tinha um pé de laranja imenso no quintal, tínhamos um coelho branco, logo abaixo, tinha uma vozinha que benzia, era uma casa cheia de árvores, a mãe sempre nos levava lá. Depois, fomos morar lá na Renovação em frente à caixa d’água, na porta era rota de boiada (Sul goiana), lembro que certa vez houve um estouro, e elas entraram no quintal da nossa casa, e assistíamos tudo da janela, pode imaginar o desespero da mãe... Nessa época, o pai trabalhava na marcenaria do Antônio Menezes, e vinha de bicicleta subindo a BR.

A próxima da lista, foi a da Rua Viela Jataí, é a casa da esquina com a Costa Gomes, onde ficava o lava-Jato, ao lado tinha o café Rio Verde e seu aroma delicioso nos finais de tarde.  Dali, mudamos para o ginásio, passamos um tempinho ali onde era a marcenaria, hoje está o Colégio Oscar Ribeiro. Nessa época, a quadra no Martins Borges não tinha cobertura e era imenso o pátio, as mamonas e os torrões vermelhos de terra... Mudamos então para o Afonso Ferreira, que nem asfalto tinha, lembro-me de colocarem as manilhas na Rua Augusta Bastos e era uma alegria correr por entre elas, e as mães com suas histórias fantasiosas sobre algum menino que foi enterrado quando estava brincando (isso só pra não deixar a molecada entrar nos buracos e valas...).

Quando fomos morar na casa azul da Rua Almiro de Moraes, esquina com a Presidente Vargas, a rádio difusora ficava em frente. Período ruim ali, época das doenças, passamos uns maus pedaços, os quatro filhos internados, muitas injeções... E a perda de um dos membros da família, o irmão caçula o Marcos retornou ao Plano Espiritual nessa época. E o meu aniversário de cinco anos, eu ganhei um belo bolo, porém estava doente, e escutei o desfile de dentro de casa, não pude ver.   
 
Depois, voltamos a morar na mesma casa da Afonso Ferreira, a casa da Dona Dulina, tinha um pé de jabuticaba na porta de casa, nesse tempo, foi o ano em que fui para a escola e o asfalto chegou à porta de casa. Nessa casa foi o natal de 74 em que ganhei o meu autorama o FITTI-SHOW (relatado na crônica da Casa das louças). Em 77, mudamos para a casa azul da Rua Avelino Faria esquina com a Augusta Bastos, aquela em que o caminhão desgovernado passou por cima. Sendo assim, tivemos que mudar, e dessa vez, a casa foi ao lado do Grupo Escolar Alfredo Nasser na Rua Coronel Vaiano, pouco tempo depois, fomos para o casarão da Rua 12 de outubro, o belo quintal com os pés de jabuticabas, pés de mangas, goiabas. Foi uma das melhores épocas da bela infância, os amigos, a quadra do Tiro de Guerra, quando eu fui morar ali, não tinha asfalto, tudo era cascalho. Mudamos para a casa da Praça Ricardo Campos atrás da cadeia velha, era um quintal de quatro casas, moramos numa e, depois, passamos para a dos fundos, casa essa que num temporal as telhas se foram com o vento. (pensa num “trem” feio, o vento assobiando e as telhas voando, e todos debaixo da mesa). 

Outra mudança e, dessa vez, para a Rua Augusta Bastos, nós tínhamos um pássaro preto que era criado solto e era o xodó do pai, no primeiro dia na casa, um gato pegou ele, ruim... Muito ruim... A próxima mudança não foi só de casa, foi de cidade, de estado, fomos para São Paulo. Por certo tempo, ficamos na casa da tia Neide na Rua Enéas de Barros, lugar bom... Primeira namorada e de boas lembranças. Ai veio a casa da Rua Embiruçu e o retorno para o Planalto Central e, dessa vez, ficamos em outra casa de parente, a da Tia Dina na Augusta Bastos, moramos ali na copa do mundo de 82, ali eu presencie a tragédia do Sarriá, mudamos outra vez só de casa a rua permaneceu a mesma.  Dessa casa começou um período ruim, fui morar numa casa que perseguiu os meus sonhos por muito tempo, não gostava dela. Era na Rua Goiânia, era uma casa de 12 mt², apenas um cômodo, não tinha água encanada, foram 32 meses... Mas, isso ajuda o crescimento espiritual. Hoje, vejo com outros olhos. Depois a Rua 11, Dario Alves de Paiva, Laudemiro Bueno e a casa da Rua 10, essa teve uma mudança inusitada, mudamos de carroça, eu o primo João que me ajudou e, numa determinada viagem a carroça soltou-se do cavalo e quase que os três foram ao chão, não caíamos, porém o cavalo seguiu sozinho...

Outra mudança interestadual, voltamos para a capital paulista, outra estadia na casa da Tia Neide na ‘Enéas’, e depois a Rua Corin, na Vila Ré. Então veio um período maravilhoso na Rua Tobiaras na Vila Esperança (E foi um tempo de esperança e mudança). O sobrado da Aquiraz, de grandes alegrias (Quando o Palmeiras goleou o Corinthians por 4x0 na final do Paulista de 93, morávamos ali, rua de corintianos, pensa numa alegria). Foram cinco anos ali, até o dia que atravessamos o pontilhão do metrô e fomos morar no sobrado da Rua São Donato, o lugar era bom, os vizinhos não, mas ali conheci a moreninha (Silvia Marly) da locadora Paraíso Azul e, em novembro de 98, ali nasceu o Victor Hugo.

Em março de 99, o retorno para centro do país, voltamos para Goiás (como diz a música “quando eu quero mais eu vou pra Goiás”). Numa viagem de 36 horas, com dois cachorros dentro de uma cabine apertada... Mas, cheguei à terra do pequi, da pamonha e outras deliciosas iguarias e dos bons amigos da bela infância. A casa azul da Rua Luis de Bastos, depois a Rua 03 no Jardim América, uma casa que eu adorava a beleza da árvore sete copas que ficava no quintal e o belo entardecer no fim da rua. Mudei, pois a casa foi vendida, e fui obrigado a deixar a casa. Mudei para a Rua Ataliba Ribeiro e, uma semana depois da mudança, nasceu a “Flor branca” esse o significado para Yasmin, a nossa princesinha. Outra mudança até então a última, e aqui estou, nessa, dia 14 de dezembro completou 10 anos, a casa que por mais tempo fiquei... “Já morei em tanta casa, que nem me lembro de mais... (Porém eu lembro e como me lembro de cada uma...)... Eu moro com meus pais”, e posso afirmar que é bom demais...

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