A história de Lindomar Castilho

Há 33 anos o rio-verdense Lindomar Castilho deixava as paradas de sucesso no rádio e na TV para se tornar protagonista de um dos crimes de maior repercussão até hoje no Brasil


Na madrugada de 30 de março de 1981, a cantora Eliane de Grammont se apresentava no Café Belle Époque, em São Paulo, acompanhada no violão de seu novo namorado, Carlos Randall, quando Lindomar Castilho, da plateia, disparou cinco tiros contra o palco. Recém-separada de Lindomar, Eliane foi atingida nas costas e morreu. Carlos Randall, primo do cantor, foi ferido.

Lindomar tentou fugir, mas foi impedido por testemunhas. Por pouco, um dos cantores mais famosos do país naquele momento não foi linchado. Era o fim de uma das carreiras de maior sucesso da música brasileira e o início de um espetáculo montado pela imprensa e advogados. O julgamento, três anos depois, foi transmitido ao vivo pelo rádio.

O episódio serviu de vitrine para o criminalista Marcio Thomaz Bastos, falecido este ano e que viria se tornar ministro da Justiça. A acusação jogou uma pá de cal na alegação até então surrada de “legítima defesa da honra” como atenuante nos assassinatos de mulheres por maridos ou companheiros.

A comoção nacional em torno da morte de Eliane Grammont, que tinha uma filha de um ano com o cantor e tentava retomar a carreira artística, contribuiu para moldar os movimentos em defesa da mulher no Brasil e o surgimento dos atuais centros de atendimento e delegacias especializadas.

Lindomar foi condenado a 12 anos e 2 meses de prisão pela morte da ex-esposa e tentativa de assassinato do seu primo. Ele cumpriu a segunda metade da pena em regime semi-aberto e ganhou a liberdade em 1996. Nos anos seguintes, tentou sem sucesso retomar a carreira e realizou alguns shows em cidades do interior. Em 2000, no auge dos fenômenos do brega e do forró, lançou pela Sony Music o CD “Lindomar Castilho Ao Vivo”, gravado em Goiânia. Estigmatizado pelo crime, não conseguiu entrar na esteira das gravadoras que trouxeram de volta ao mercado artistas como Reginaldo Rossi e Wando.

Ídolo das Américas
Nascido em Santa Helena de Goiás há 74 anos, quando o município ainda era distrito de Rio Verde, Lindomar Castilho foi um dos artistas brasileiros que mais venderam discos ao longo de toda a década de 1970. Numa época em que a população ainda fazia a transição do meio rural para o urbano, a voz do goiano era uma das mais ouvidas nas rádios de todo o País. No interior e nas capitais.

Discípulo de Vicente Celestino e autor de clássicos do bolero – hoje catalogado como música brega no mercado – começou cantando nos cabarés da região e conseguiu sucesso internacional. Seus boleros e sambas-canções românticos eram lançados simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos.

Consagrado pela revista norte-americana Billboard como “El nuevo ídolo de las Américas”, o cantor foi campeão continental de vendas de discos em 1977. Nas contas do próprio artista foram mais de 10 milhões de cópias vendidas na carreira. Acolhido pelo público hispânico nos Estados Unidos, também fez shows no México, na Europa e em alguns países da África.

Lançado em 1974, o merengue “Eu canto o que o povo quer (estou com a maioria para o que der e vier”) virou uma espécie de hino dos ativistas do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Na capital, Luanda, foi construída uma estátua em homenagem ao cantor brasileiro.

Hoje com 74 anos e a saúde debilitada, Lindomar vive em uma chácara em Aparecida de Goiânia e evita a imprensa. “Ele não quer reviver tudo o que aconteceu”, explica um sobrinho do cantor. Até poucos anos atrás, ele era visto nas tradicionais romarias para Trindade. Hoje vive praticamente recluso. Sua última aparição pública foi em um documentário sobre a música brega chamado “Vou rifar meu coração”, título de um de seus sucessos. “Você é doida demais” fez parte da trilha sonora do filme “Domésticas”, dirigido por Fernando Meirelles e, em 2001, a música se tornou tema de abertura do seriado “Os Normais”, da TV Globo.

Por Fernando Machado, para a Revista King

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