Sobre as campanhas contra o abuso sexual

A pedagoga Caroline Arcari fala sobre educação sexual e outros temas polêmicos para os leitores do Rio Verde Agora


“FAZER SEXO COM CRIANÇAS É CRIME”: essa é a frase impactante de muitas campanhas nacionais que são veiculadas por ongs, projetos sociais e iniciativas privadas engajadas na causa do enfrentamento da violência sexual. O alerta é válido e as campanhas são bem intencionadas, sem dúvida alguma. Porém traduzem o despreparo e falta de informação da sociedade, perpetuando a idéia de que o abuso sexual só acontece quando a relação sexual é consumada.

Abuso sexual infanto-junvenil é um assunto perturbador, delicado, que gera desconforto pois implica na violação de valores sociais. Poucos sabem a dimensão que a violência sexual toma, principalmente dentro das casas de famílias que estão acostumadas com um ciclo de agressividade e impunidade. Estima-se que 30% das crianças estejam sofrendo algum tipo de abuso sexual. Pesquisas dos EUA indicam que 1 criança é sexualmente abusada a cada 4 segundos e que, durante uma vida, um pedófilo ativo abusa de aproximadamente 260 crianças e adolescentes. Os dados referentes ao Brasil assustam: 165 crianças e adolescentes sofrem abuso sexual a cada 7 horas.

Vale lembrar que em 80% dos casos, o abusador é um conhecido da criança, estabelecendo laços de confiança e amizade com ela (pai, padrasto, tio, avô, tia, mãe). Em apenas 20% dos casos o criminoso é desconhecido, estranho.

Como a natureza do abuso sexual é complexa, é necessário que médicos, psicólogos, educadores, conselheiros tutelares, autoridades envolvidas e a sociedade tenham conhecimento pleno sobre as formas de abuso, construindo uma rede de proteção às nossas crianças e adolescentes. FAZER SEXO COM CRIANÇAS É CRIME SIM, assim como vários outros atos, caracterizados pela presença ou não de contato físico: mostrar pornografia, expor os genitais, tirar fotos de crianças e adolescentes nus ou em posições e atividades sexuais, observar maliciosamente a vítima nua, telefonemas obscenos, propostas sexuais, exibicionismo (mostrar os órgãos sexuais para a vítima), exploração sexual.

O impacto das campanhas que reduzem a violência sexual à relação sexual propriamente dita desencadeiam um tipo de tolerância a essas outras formas de abuso, muitas vezes sem contato físico, como se fossem menos graves ou insignificantes a ponto de não serem denunciadas. Porém, a denúncia de toda e qualquer ação de teor sexual deve ser encaminhada a autoridades responsáveis, como o conselho tutelar, evitando assim a banalização de algumas formas de abuso, assim como a sua evolução para atos cada vez mais violentos. O serviço DISQUE 100 é uma opção para denúncias anônimas e tem outras funções como tirar dúvidas sobre qualquer tipo de violência ou exploração sexual. A ligação é gratuita e pode ser feita para o número 100 de qualquer cidade do país, de segunda a domingo, das 8 às 22 horas, inclusive nos feriados. O Disque 100, que não revela a identidade dos autores das denúncias e também recebe informações sobre o paradeiro de crianças e adolescentes desaparecidos.

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