Será que é namoro?

Quando a menina pode saber que um rolo virou namoro? Quais as principais diferenças de cada um dos tipos de relacionamentos e como ela sabe o quanto pode cobrar do menino?


Bem, embora sejam parecidos, existem algumas diferenças entre o “rolo” e o “namoro”, e nisso eu ainda gostaria de incluir o “ficar”. É necessário definir ou explicar o “ficar”, pois este antecede o “rolo”. Como se bem sabe, ficar é dar uns beijos e uns amassos em alguém, e como quem não quer nada, nem precisar ter que falar com a pessoa no dia seguinte, ou simplesmente fingir que nada aconteceu. Para os adolescentes essa é uma prática bastante comum, sobretudo nas festas, nas baladas, onde se torna mais popular quem “fica” mais, ou seja, quem beija mais. Uma, duas, três, quatro, dez meninas ou meninos na mesma noite. Atualmente, querendo ou não, acaba-se valorizando mais a quantidade do que qualidade (especificamente nesse ambiente).

O “rolo” é quando você fica com a mesma pessoa mais de uma vez, ou seja, começa a existir um envolvimento, porém nada mais sério ou de maior compromisso como o namoro.

O que acontece no “ficar” é mais algo de pele, tesão, desejo, atração física. No “rolo” é como se a relação subisse um nível ou um degrauzinho na escada, existindo uma proximidade, um carinho maior, e uma atração diferente, que muda de plano, nesse caso a atração passa a ser pela pessoa que o outro é, pelas idéias, pela conversa, pelo papo, mas ainda não é um namoro.

O NAMORO é quando existe um compromisso maior, vontade de dividir experiências, aprendizados, conquistas de vida. É quando você consegue algo e pensa primeiro em falar para a pessoa, dividir com ela. É quando atração física, tesão, desejo e vontade de construir uma relação mais afetivamente duradoura se juntam. Poderíamos até pensar assim: o ficar e o rolo são mais coisa de pele, a paixão, e o namoro é uma paixão que vai se tornando amor.

Muitos adolescentes acabam “ficando” mesmo sem ter noção do que seja, mesmo sem vontade, na maioria das vezes por pressão dos amigos. Os meninos, na maioria das vezes, ficam, com as meninas, pra impor respeito, pra serem aceitos pela turma, até mesmo para a sua auto-aceitação, para ter o sentimento de fazer parte de um grupo. Bem sabemos, que a adolescência é a fase da descoberta, da aceitação, das dúvidas, e nesse período, as amizades tem uma parcela de influência no comportamento dos adolescentes.

Nossa cultura ainda valoriza muito a menina que se “preza”. Por mais que algumas meninas queiram também ficar com vários meninos, o que se percebe, é que elas procuram cuidar um pouco mais da imagem, para evitar que saiam “mal faladas”. As meninas, buscam ficar quando tem vontade, na maioria das vezes, porque estão “gostando” do menino, e não simplesmente por ficar.

Já para a maioria dos meninos, vale a regra do “quanto mais, melhor”. Lembrando, é, claro, que isso não é regra, calma meninas, existem sim, garotos que ficam com as meninas porque gostam e porque querem viver um sentimento.

A regra de ouro é nunca cobrar o menino. Cobranças só geram desgaste. Se o menino quiser, ele vai assumir compromisso mais sério, ele vai querer namorar. E isso vale pra qualquer faixa etária. Uma relação deve começar espontaneamente, deixando acontecer será mais prazeroso para ambos, pois existem pesquisas que comprovam, quanto mais eu cobro, mais eu afasto o outro, que se sente sufocado. Quando não há a cobrança, o outro vem, porque gosta, porque está a fim, porque realmente quer. Talvez cobrando, ao invés de tê-lo pra mim, eu o afasto. Meninas, NÃO à forçação de barra!!!!!!!!! hehe, cobrar nunca é bom, bom mesmo é deixar acontecer naturalmente... Talvez uma maneira de cobrar seja indireta (encoberta) com toques sutis de que está a fim, como começar a falar de algo que fez, como “nossa, queria dividir o sucesso do meu projeto de química com você”.

Como saber se virou namoro: Existem muitos sinais de que a relação está fluindo e caminhando pra um namoro, como por exemplo, quando ambos percebem o quanto um e o outro estão fazendo questão de incluí-los sempre nos momentos, de freqüentar lugares mais juntos, de fazer mais programas juntos, quando começam a falar da família do outro, de conhecer. O ciúme, apesar de em muitos casos, ser destrutivo, em certo grau pode ser um indicador de que a relação está ficando mais séria, quando um começa sentir ciúme do outro, nesse caso, pode ser um sinal de um aumento do afeto, da intimidade. Demonstrações de amor, de fidelidade, declarações, pequenos detalhes nas falas e demonstrações (atitudes) de cada um que apontam pra uma vontade de ficar com o outro e não ficar com outras pessoas. Normalmente, as pessoas SENTEM quando a relação é mais séria.

O que significa ter um "namoro saudável" nessa faixa etária? Existe pode isso, não pode aquilo?
Namorar é sempre saudável e importante em qualquer faixa etária, é parte do nosso desenvolvimento. Na adolescência o namoro ganha destaque especial, pois é a partir daí que começa a atração física pelo outro, o corpo muda, a “cabeça” muda, enfim, é um período de muitas transformações e sentimentos à flor da pele. O equilíbrio das emoções e o sentimento de aumento de auto estima são possíveis resultados de um namoro, proporcionando ao adolescente que ele amadureça e construa boas relações afetivas e sexuais na idade adulta.
Namoro saudável eu diria que é quando existe o respeito um pelo outro, valorização e respeito pelas diferenças, empatia (se colocar no lugar do outro – “como será que eu me sentiria se o outro fizesse isso comigo...”

Namoro saudável também é aquele que não te impede de cumprir com suas obrigações de estudante, de filho, de amigo. Namoro saudável é o que acrescenta e não o que te tira, não o que sufoca, o que deixa a pessoa presa ao relacionamento, mas o que respeita o outro como ele é. Quanto mais eu deixo livre, mais o outro volta pra mim.
 
Bem sabemos que a vida sexual está começando mais cedo. Mas um namoro saudável, não quer dizer, necessariamente que tenha que ter sexo. Muitas vezes o que as pessoas querem em um namoro é a sensação de ser amado por alguém, de trocar carinhos, confidências, cumplicidades. Nem sempre o namoro é pautado somente por sexo. Contudo, para aqueles que se sentem preparados para o contato mais íntimo, nunca é demais dizer que a prevenção acima de tudo. Em minha prática clínica, percebo que muitas vezes o adolescente inicia um namoro e os pais (principalmente os pais de meninas) ficam preocupadíssimos sobre o filho ou a filha estarem transando, quando, no entanto, o adolescente pode estar apenas querendo trocar carinhos, ficar junto, beijar, ter a sensação de pertencer a um grupo, se sentir bonita e atraente. É claro, que muitos deles querem transar sim, e aí nessas horas, vale ter uma conversa sobre sexo, prevenção, vantagens e desvantagens, coisas boas, e consequências de ser ter uma relação sexual, e isso vale em ambas as direções (de filho para pais e de pais para filhos).  Uma coisa é certa, quanto mais se vigia, mais prende, mais instiga a fazer, pois o proibido costuma ser mais gostoso, e não podemos esquecer também que quanto mais existe tabu sobre sexo, mais surgem dúvidas na cabeça dos adolescentes e podem gerar problemas na vida adulta. Explico: quanto mais a mãe fala pra menina evitar de transar, que sexo é feio, etc, na idade adulta, ela poderá vir a ter problemas sexuais, como dificuldade de sentir prazer, dificuldade de sentir desejo, etc). Muitas pessoas procuram o consultório com estas questões.

Na questão do isto pode, isto não pode, vale cada um fazer o que tem vontade, sempre com responsabilidade, claro, mas levando em consideração que não devemos fazer coisas somente para agradar o outro, isso vale em qualquer situação na vida. Transar só porque o outro quer, por exemplo. É necessário que ambos queiram. Fazer o que o outro quer, ao contrário de mostrar amor, é mostrar insegurança, dependência e baixa auto estima, falta de amor próprio, sugestionabilidade. Ou você transaria sem camisinha com o namorado, só pra provar que o ama?, por exemplo. Ou você teria relação mesmo sem estar a fim, preparada? Ou só porque todo mundo da turma já transou? É preciso que haja sempre o diálogo, pois somente através de muita conversa é que delimitamos o que pode e o que não pode, o que faz bem pra mim, e o que faz bem para o outro.

Quando colocar a família no meio do namoro?
Bom, o ideal mesmo seria que não houvesse segredos entre pais e filhos. É claro, que a pessoa tem direito à sua individualidade. Mas nos tempos em que vivemos, não podemos ter certeza se a pessoa que estamos nos envolvendo é realmente idônea. Sem querer ser careta, mas sou a favor que pais e filhos tenham uma relação aberta, franca e direta, e que filhos escutem pai e mãe, pois por terem mais experiência de vida, conseguem observar coisas que muitas vezes, os adolescentes não percebem. Esconder coisas de pai e mãe nem sempre é uma boa. Namoro saudável também é isso, namorados e família convivendo tranqüilamente.
 
Conhecer a família também é um bom teste para saber como seu namorado (a) se comporta com eles, e como poderia ser se a relação fosse mais longa.

Nesse caso, acredito não existir um momento ideal, mas sim, quando ambos sentirem que querem dividir mais de si com o outro, o que não precisa necessariamente  marcar um encontro formal para pedir a mão da moça, mas um encontro mais tranqüilo, no clube por exemplo, ou ser gentil com a mãe do menino quando ela for buscá-lo na escola... são algumas estratégias para ir conhecendo e “entrando” na família, como forma de conhecer melhor o outro.

Como equilibrar sair com as amigas e sair sozinha com ele?
Namoro que impede de sair com as amigas, ao contrário do que se pensa, que é legal ficar junto, aproveitar cada segundo, vira grude. O ideal é sim reservar um tempo não só para sair com as amigas, mas para sair com os pais, para visitar os avós, para fazer as lições de casa, para fazer uma atividade física. O legal da relação é ter o que contar para o outro depois dos programas. Permitir que o outro tenha suas amizades é também muito importante, para que quando fiquem juntos possam ter muitas coisas para dividir e/ou somar com as experiências. Sair com outros casais de namorados também é válido, pois podemos aprender com o outro, como é uma relação. Namoro que impede de sair com as amigas vira monótono, pegajoso e patológico, pois a pessoa precisa viver outras relações também, não só a amorosa. Uma boa dica para equilibrar é reservar horários na semana para ir ao cinema com a amiga, para ir ao shopping. A mesma regra vale para os meninos, que devem sair com aquele colega para uma partida de futebol, para ir à academia, ou para ir a uma festa que é daquela turma da outra escola que ele estudava ou do time de futebol da escola e que você pode deixá-lo ir sozinho para “matar” a saudade dos colegas, e que você se sentiria um peixinho fora d’água, deixando-o grudado em você, por não estar enturmada com a galera.

A base de uma relação é a confiança. Se vocês não fizerem programas separados por puro medo da traição, sinto dizer, mas a relação está fadada às cobranças, ao controle, à possessividade e ao fracasso, pois o ser humano é um ser de relação e precisa ter contato com outras pessoas, para sua própria necessidade pessoal. Sufocar o outro impede que ele cresça e faz com que pouco a pouco ele se desapaixone.

O importante mesmo é não esperar que a felicidade venha do outro, se estivermos felizes conosco, estaremos também com o outro e não depositaremos toda a expectativa da nossa felicidade nas mãos dele.

DICA DE FILME:
ELE NÃO ESTÁ TÃO A FIM DE VOCÊ
 Esse filme mostra alguns sinais quando o menino está ou não a fim de você, e de ele vai ou não ligar pra você.

*Texto derivado de minha entrevista concedida à Revista Capricho para matéria da edição 1075 publicada em 19 de Julho de 2009.

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