Remédio pode estar no lixo

Segundo dados da Embrapa, quase 30 toneladas de hortaliças são desperdiçadas no Brasil. São folhas, talos e cascas que podem prevenir, tratar e até mesmo curar a saúde de muitas pessoas. Curso levou orientação para participantes


O que você faz com folhas de couve-flor, casca de banana, chuchu, melancia, manga, abacaxi? Geralmente, o lixo é o destino final de grande parte de talos, folhas e cascas de frutas, legumes e hortaliças. Um grande desperdício que pode ser evitado através do "consumo inteligente", que, além de beneficiar o bolso, manda para o corpo inúmeros nutrientes, que podem prevenir, tratar e evitar desde infartos, derrames e câncer até um simples resfriado.

Mesmo sendo um dos principais produtores de alimentos do mundo, o Brasil ainda desperdiça mais de 26 milhões de toneladas de alimentos todos os anos. Os dados são do Centro de Agroindústria de Alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Só de hortaliças são 37 toneladas que vão para o lixo. Segundo a nutricionista Marilia Pimenta Martins Textor, a desinformação de grande parte da população é a principal causa de tanto desperdício.

Estimativas da Embrapa apontam que uma família de classe média joga fora mais de 180 quilos de comida todos os anos. Esse desperdício é suficiente para alimentar uma criança por seis meses. Na última semana, cerca de 80 pessoas de Rio Verde receberam as principais lições para mudar esses números.

Para dar fim a falta de informação e tirar de vez a idéia de que para se alimentar bem é preciso gastar muito dinheiro, Marilia, que atua como nutricionista há dois anos no Programa Saúde da Família no Posto de Saúde do Bairro Veneza, trouxe o "Cozinha Brasil" para Rio Verde.

O curso é uma parceria do SESI com o município que ensina a teoria e a prática básica do consumo inteligente. "As pessoas têm a oportunidade de conhecer a riqueza nutricional dos alimentos, provar o sabor das receitas e entender que não precisa gastar muito para ter uma alimentação saudável quando se sabe aproveitar e conhecer, frutas e hortaliças da época", ressaltou.

Por esse motivo, a nutricionista Cecilia Stefan Gebrin mostrou durante as aulas como aproveitar 100% de uma melancia, desde a polpa até a casca, incluindo a parte branca. "Nós fervemos a casca, que é muito nutritiva, e ralamos para usar em farofas. A polpa vira um doce misturado à gelatina e creme de leite, e a parte branca, suco misturada ao hortelã."

Casca de banana, chuchu, couve, todos ganharam lugar certo na mesa do almoço e a mandioca virou nada mais do que um brigadeiro. "Nós cozinhamos na pres­são, amassamos, misturamos leite em pó, chocolate e açúcar, com o mesmo sabor do doce tradicional e muito mais saúde e economia", enfatizou Cecilia.

A confeiteira Francisca Ivonete de Oliveira Silva estava atenta a todas as explicações. Depois de fazer uma reeducação alimentar e perder mais de 20 quilos, ela luta para dar aos seus clientes a oportunidade de conhecer receitas saborosas que reduzam a quantidade de um dos grandes vilões da alimentação saudá­vel: o açúcar. "Já faço cremes, alguns bolos, e a cada dia busco mais conhecimento sobre o assunto porque quanto mais natural, mais saudável", en­sinou.

Seguindo os passos da mãe confeiteira da saú­de, Nayara de Oliveira Silva, no primeiro período do curso de nutrição, saiu de um caso sério de desnutrição e mergulhou de vez no conhecimento sobre nutrientes, vitaminas e afins. "Com a simples mudança de hábito, consegui resolver. Cheguei à conclusão que queria ensinar isso para os outros", revelou a universitária.

O início do conhecimento acadêmico e as aulas do curso potencializaram o conhecimento da futura nutricionista. "Conhecer os nutrientes específicos de cada  alimentos traz uma possibilidade enorme de ajudar meus futuros pacientes." Maria de Fátima Silva já percorre o caminho para uma alimentação natural há mais de 20 anos. Sem fazer uso de qualquer espécie de carne, ovos, leite e derivados, a dona de casa pode durante as aulas enriquecer as opções de seu cardá­pio. "Valeu muito a pena aprender um pouco mais sobre propriedades e benefícios de alimentos, que às vezes deixamos de utilizar nas preparações, porque simplesmente não conhecemos ou não sabemos como fazer."

Por Marisa Coutinho – publicado no jornal Tribuna do Sudoeste

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