O fracasso dos programas de abstinência sexual

Caroline Arcari dá dicas de educação sexual no Rio Verde Agora


Um relatório elaborado pelo Centro para Prevenção e Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), a principal agência de saúde americana, revelou no mês passado que uma em cada quatro adolescentes americanas tem doenças sexualmente transmissíveis (DTS). A divulgação dos dados reacendeu a discussão sobre os programas educativos que incentivam a abstinência sexual nos EUA. O Congresso estuda agora se deve ou não cortar as verbas destinadas aos tais programas, que nos últimos anos cresceram de US$ 10 milhões para US$ 176 milhões por ano.
 
Estatísticas para provar o fracasso da metodologia da abstinência não faltam: um  relatório classifica os Estados Unidos entre os países com alto índice de gravidez na adolescência, sendo a  única nação rica que se encontra no meio do bloco do Terceiro Mundo, com 53 nascimentos por 1000 adolescentes. Estes dados, do Fundo Demográfico das Nações Unidas, colocam os americanos em situação constrangedora ao indicar que seus índices estão piores que Índia e Ruanda.
 
A deficiência dos programas de abstinência não está exatamente no conteúdo passado em sala de aula, mas na falta dele. Os conservadores defendem que quanto menos informação for passada ao jovem sobre sexualidade, menos incentivo para o início da vida sexual ele terá. Grande engano: de acordo com um estudo encomendado pelo Congresso, os estudantes americanos que freqüentam aulas que pregam a abstinência sexual não têm uma maior probabilidade de se absterem posteriormente de relações sexuais. A conseqüência desastrosa do incentivo sem fundamento a este tipo de abordagem nas escolas já começa a aparecer: 750 mil novos casos de gravidez precoce por ano.

Em contrapartida, podemos analisar os dados da Suécia. No mesmo relatório do Fundo Demográfico das Nações Unidas está entre os países com menor índice de gravidez na adolescência, somando 7 bebês a cada 1000 adolescentes. A Suécia foi o país pioneiro na implementação da Educação Sexual. Durante o século XIX e o início do século XX as doenças venéreas propagaram-se em grande escala neste país, chamando a atenção para a necessidade da informação para conter a epidemia. Em 1956 a educação sexual se tornou obrigatória nas escolas, embora ainda mantivesse uma natureza técnica e biologista. Atualmente, ainda como disciplina obrigatória, a Educação Sexual está mais abrangente, abordando aspectos como educação para a sexualidade, os afetos, os relacionamentos e a responsabilidade sobre as escolhas. De modo geral, os países do norte da Europa que têm programas nacionais de saúde reprodutiva para todos os jovens são os que apresentam os menores índices de gravidez entre jovens, bem como de DSTs e de abortos do mundo desenvolvido.
 
Está aí a lição de Educação Sexual para os americanos, que talvez precisem antes entender de matemática para que se convençam de que as estatísticas vergonhosas só levam para um caminho: a Educação Sexual baseada no silêncio não funciona.

Por Caroline Arcari – Disponível em www.edusex.com.br

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