O bicho: velhice de cães e gatos

A veterinária Mariana Paz Rodrigues dá dicas de como cuidar do seu animal de estimação


Sempre comparamos caninos a humanos, e agora é a vez dos animais velhinhos que ficam debilitados e mais sensíveis, perdendo independência e exigindo muita atenção e cuidados. O primeiro sintoma de idade avançada é a diminuição de atividade e entusiasmo para atividades físicas e do interesse pelo que acontece à sua volta.

Hoje, os animais são alimentados com rações balanceadas e recebem cuidados médicos básicos, como vacinações e exames clínicos periódicos e, por isso, a expectativa de vida de um animal, que, em média, era de dez anos, agora vai bem além disso. Podemos dizer que aos 7 ou 8 anos, eles começam a envelhecer.  Existem animais que podem viver muito mais do que a média. Os fatores envolvidos que justificam a longevidade desses animais são predisposição do organismo e cuidados que ele receberá quando começar a envelhecer.
 
O processo de envelhecimento ocorre de forma gradativa e silenciosa. As alterações atingem vários sistemas ao mesmo tempo: o sistema imunológico vai ficando confuso e ineficiente, o metabolismo já não é mais o mesmo, o sistema músculo esquelético vai se modificando (há diminuição da massa e força muscular e aumento do depósito de gorduras), há um desgaste articular importante (mais evidente e comum em animais obesos e sedentários), os ossos estão mais frágeis, os dentes já sofreram desgastes e assim por diante. Com relação a atividade e interesse, a maior parte do tempo que antes era utilizado para brincar e explorar o ambiente, agora é preenchido com o sono. A diminuição da acuidade visual, da audição e do interesse no ambiente, também vai acontecendo gradativamente.

Doenças comuns na prática veterinária geriátrica são: calcificações nas vértebras da coluna ("bico de papagaio"), hérnia de disco e artrose; alterações cardíacas; catarata; insuficiência renal crônica; diabetes; tumores; tártaro e perda dos dentes.

Quando o cão passa a ter dificuldades em reconhecer pessoas, lugares e objetos, apresenta diminuição da memória e capacidade de atenção, regressão no aprendizado adquirido (como defecar e urinar em locais impróprios), problemas de orientação espacial (tem sede e não encontra o local do seu bebedouro, por exemplo), alterações no ciclo de sono e vigília (dorme muito durante o dia e acorda muito ou fica agitado a noite), ele pode estar apresentando uma disfunção cognitiva (DC), muito semelhante a Doença de Alzheimer dos humanos. Agressividade, comportamentos compulsivos (como andar em círculos, uivar ou chorar ou gemer em excesso) e diminuição na interação com a família, são achados comuns nos portadores desta disfunção. É importante ressaltar que a DC é considerada uma doença específica e já existem mecanismos terapêuticos estabelecidos para retardar e controlar a evolução do processo degenerativo causado pela doença e desta forma melhorar a qualidade de vida do animal afetado. Cerca de 60% dos animais com mais de 11 anos de idade e 86% dos cães com 15-16 anos apresentam sinais de DC. Fêmeas parecem ser mais afetadas que os machos.

Além das terapêuticas medicamentosas, é importante orientar o proprietário quanto à reeducação do paciente geriátrico e medidas que facilitem o seu bem estar dentro de suas novas limitações melhorando desta forma a interação animal-cuidador-meio ambiente:

- Previna o stress ambiental mantendo a rotina do animal e evitando mudanças no ambiente para que ele possa se localizar no espaço sem obstáculos que possam provocar acidentes ou desconfortos (mudança na localização dos móveis, da caminha dele, do bebedouro e comedouro,etc.). Você também pode facilitar a vida dele utilizando rampas de acesso no lugar de escadas e para sofás ou camas, diminuição da altura dos móveis que ele utiliza para deitar desta forma mantendo a autonomia do animal;

- Ajude-o com os cuidados de higiene, escovando-o com escova macia, banhando-o quando necessário;
-Não utilize produtos com odores fortes nem nele, nem no ambiente para não desorientá-lo ainda mais;

- O estímulo aos exercícios moderados como caminhadas e jogos também fazem parte do tratamento. Renovar os laços já existentes e muitas vezes adormecidos é importante. Incentive-o, elogie-o, premiações motivacionais são importantes para reacender as relações e manter o cérebro ativo.

- Se ele vive mais tempo dentro de casa, não esqueça de chamá-lo regularmente para as necessidades no local adequado. Os gatos devem ter mais bandejas de areia à disposição, em locais estratégicos da casa.

A adoção de um programa de saúde geriátrico acompanhado pelo veterinário responsável por seu bichinho de estimação é indicada, já que muitas doenças da terceira idade, quando diagnosticadas no início podem ser tratadas e outras mesmo evitadas. Por último, não esqueça que esse é o momento de você retribuir todos os momentos de atenção, carinho, companhia e adoração que ele compartilhou com você. Esses amigos incondicionais, agora necessitam da sua colaboração, paciência e um pouco mais de atenção e cuidados.

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