O bicho: piometra

A veterinária Mariana Paz Rodrigues dá dicas de como cuidar do seu animal de estimação


Piometra é um processo inflamatório do útero de cadelas e gatas, caracterizado pelo acúmulo de secreção purulenta no útero associada a uma infecção bacteriana. É a mais comum das doenças uterinas e sua importância está ligada à freqüência e à gravidade. O seu estabelecimento é resultado da influência hormonal à virulência das infecções bacterianas e à capacidade individual de combater essas infecções. A piometra resulta de alterações induzidas hormonalmente no útero, que permitem que ocorram infecções secundárias, associadas à piometra são causadas por bactérias normais da vagina.Ocorre geralmente durante o diestro, fase do ciclo ovariano dominada pelo hormônio progesterona. A progesterona é o hormônio feminino que atua para manter a prenhez, e portando todas as cadelas normais estão naturalmente expostas  a concentrações altas de progesterona 9-12 semanas após o estro ("cio"). Esse hormônio permite o acúmulo de secreções glandulares uterinas, que proporcionam um excelente ambiente para o crescimento bacteriano.

Animais de meia idade e idosos (a partir dos 4 a 5 anos) costumam ser acometidos com maior frequência, embora fêmeas jovens também possam ter esta infecção. Uma incidência aumentada de piometra está associada  com a administração de anticoncepcionais para evitar gravidez indesejadas, e por isso seu uso é contra-indicado.

Podem ocorrer duas formas da doença:

Piometra de cérvix aberta: ocorre corrimento vaginal através da cérvix, que pode ser sanguinolento a mucopurulento (mal cheiroso e com cor de pús), e em geral é observado de 4 a 8 semanas após o término do cio. Os cornos uterinos não estarão muito dilatados. Nestes casos as paredes do útero encontram-se espessadas.

Piometra de cérvix fechada: sem presença corrimento vaginal. Forma mais grave da doença, pois algumas fêmas afetadas ficam doentes antes dos proprietários perceberem que existe um problema. Por não haver drenagem do conteúdo uterino, pode haver rompimento, com extravasamento de conteúdo pra dentro do abdome, levando a um quadro de peritonite, com risco de vida.É mais provável que resulte em septicemia, que pode causar choque, hipotermia e colapso.

A desobstrução da cérvix (piometra fechada ou aberta) é uma influência importante na severidade da doença, no seu prognóstico e nas opções de tratamento que podem ser oferecidas, pois após certo tempo ocorre o fechamento da cérvix e, com o acúmulo do exsudato inflamatório, pode ocorrer a ruptura do útero e a liberação deste material na cavidade abdominal, levando o animal à morte em 48 horas. O organismo tenta eliminar a infecção por meio da filtração renal, porém devido ao excesso de secreção ocorre uma sobrecarga dos rins, levando a uma insuficiência renal e conseqüente morte do animal.

Em todos esses casos, é importante ficar atento aos principais sintomas para não perder tempo e aumentar o risco de vida do animal.Além do corrimento vaginal, os sinais clínicos clássicos de piometra são  perda de apetite, febre, letargia, perda de peso, aumento de volume abdominal, vômito, diarréia, aumento no consumo de água e quantidade de urina.

Os exames a serem realizados a fim de chegar ao diagnóstico definitivo de piometra são hemograma completo, radiografia e ultrassonografia abdominal.

A piometra é uma doença que, se não tratada corretamente, pode levar ao óbito devido principalmente ao quadro infeccioso e à insuficiência renal. Mas o tratamento mostra-se muito eficaz se precoce. Ele é cirúrgico, com a realização da ovário-salpingo-histerectomia (castração), no entanto, a maioria dos pacientes está gravemente doente e a cirurgia não é tão simples como numa cadela ou gata saudável. Geralmente é necessário estabilizar o paciente através da administração de fluidoterapia intravenosa antes e após a cirurgia. Adicionalmente, é realizada antibioterapia durante 1 a 2 semanas. Existe uma abordagem clínica ao tratamento da piometra: as prostaglandinas são um grupo de hormônios que diminuem os níveis sanguíneos de progesterona, promovem o relaxamento e abertura do cérvix e a contração do útero de modo a expelir as bactérias e o pús. Podem usar-se para tratar esta doença, mas nem sempre este tratamento é bem sucedido e existem algumas limitações importantes à sua utilização:

Não ocorrem melhoras clinicamente relevantes nas primeiras 48 horas e por isso as cadelas que se encontrem severamente doentes são más candidatas a este tratamento.

Como provocam a contração do útero, existe o risco de ruptura da parede uterina e disseminação da infecção para a cavidade abdominal.

Portanto, o tratamento de eleição continua sendo a cirurgia de esterilização. Inclusive é recomendado aos proprietários que não tenham fêmeas com fins reprodutivos que castrem seus animais antes do aparecimento da doença, quando elas ainda estão jovens e saudáveis, para diminuir os riscos associados ao procedimento cirúrgico. Donos de fêmeas não castradas devem sempre estar atentos ao aparecimento de quaisquer destes sinais clínicos e no caso de observação de qualquer deles procurar imediatamente o médico veterinário de sua confiança. Não se esqueça que a piometra é uma doença grave e potencialmente fatal, sendo, portanto, considerada como emergência clínica.

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