O bicho: doença do trato urinário dos felinos

A veterinária Mariana Rodrigues dá dicas de como cuidar do seu bichinho de estimação


Essa enfermidade compreende várias desordens do trato urinário inferior dos felinos (bexiga, ureteres e uretra). A incidência de doenças do trato urinário inferior dos felinos foi relatada nos anos 70 e 80 como de aproximadamente 0,5 a 1%. Dados mais recentes da incidência giram em torno de 7% de relatos. É muito frequente em animais jovens, geralmente com idade entre 02 e 05 anos, mas pode aparecer em animais de qualquer idade.A probabilidade é igual para machos e fêmeas. Porém, devido à anatomia da uretra do macho (longa e estreita), a propensão do aparecimento da forma obstrutiva da doença é maior e, geralmente, ocorre na porção peniana da uretra. O fato de o animal ser sedentário tem muita relação com o aparecimento dos sintomas, pois animais com pouca atividade física podem ficar obesos, ingerir menor quantidade de água e procurar com menor frequência a caixa sanitária para fazer suas necessidades. Isso leva a uma maior concentração da urina, predispondo então a precipitação de cristais. A castração, tanto de machos como defêmeas, pode levar à obesidade e à conseqüente diminuição da atividade física, o queparece predispor à doença.

Os sinais clínicos incluem micção em lugares inapropriados na casa do dono, hematúria (sangue na urina), disúria (dor ao urinar) e polaciúria (várias micções com pouca quantidade de urina por vez). Estes sinais não são específicos e dão poucas informações quanto à sua causa principal. Uma avaliação diagnóstica mais detalhada deveria ser efetuada para tentar estabelecer as causas dos sinais em casos individuais.  A obstrução da uretra está presente em 36% dos casos e aproximadamente 100% dos gatos obstruídos são machos. As causas mais comuns de obstrução são tampões uretrais (provenientes de cristais, células inflamatórias e material coloidal) e cristais. Outras possibilidades de obstrução são inchaço inflamatório, espasmo muscular da uretra, anormalidades anatômicas, problemas comportamentais, neoplasia e acúmulo de restos de sangue ou células de defesa do organismo na uretra. Em alguns gatos, a causa especifica não pode ser identificada, particularmente em gatos sem obstrução.

Dois tipos de cristais predominam na doença do trato urinário inferior dos felinos: oxalato e estruvita.

O diagnóstico é baseado em exame de urina, radiografia e ultrassonografia.

A conduta inicial em gatos com obstrução depende da causa que iniciou o problema e pode envolver terapia de dieta de longo prazo, especialmente se a causa parecer ser associada com a formação de estruvita no trato urinário inferior. A primeira consideração para gatos com obstrução da uretra, com duração menor que 24 a 48 horas, é o alívio da obstrução. Isso geralmente exige anestesia, pois gatos com essa duração de obstrução de uretra sentem muita dor e não permitem manipulação. Se a obstrução estiver presente por mais de 24 a 48 horas, a conduta do caso será complicada pelos efeitos de uremia (aumento da concentração de uréia no sangue, levando a sinais clínicos de intoxicação). A uremia é caracterizada por depressão, anorexia, desidratação, vômito e diarréia periódica.A uremia conduz aocoma e morte entre 2 a 4 dias. A terapia objetiva a correção desses defeitos bem como o alívio da obstrução do aparelho urinário. Sendo assim, os objetivos terapêuticos adicionais são os de corrigir os desequilíbrios corporais decorrentes do acúmulo de uréia do organismo e a desidratação com uma terapia apropriada de reposição de líquidos. Após o alívio da obstrução (e estabilização do paciente com obstruções prolongadas), deve-se considerar a causa primária da doença. A conduta médica, incluindo a modificação da dieta, pode ter um papel a desempenhar na redução ou prevenção da recorrência em alguns desses gatos.

A modificação da dieta forma uma base para o controle da formação de estruvita no trato urinário inferior. Portanto, pode ser aplicada na prevenção de uma nova formação de urólitos de estruvita após a remoção, na prevenção de obstruções. O princípio da conduta de doença do trato urinário inferior de felinos associado à estruvita é produzir  acidificação da urina, aumento do volume de urina e restrição da ingestão de cristaloides (matérias primas para a formação de cristais). Em relação à estruvita o ponto mais importante é o pH da urina, pois facilita a dissolução do material, evitando a formação de cristais. Dietas comerciais formuladas com essa finalidade estão disponíveis. Uma alternativa, se preferida, é a seleção de uma dieta com perfil apropriado de nutrientes, avaliar o pH urinário resultante (que varia de gato para gato) e depois ajustar com um acidificador urinário como cloreto de amônia, vitamina C ou DL-metionina. Outra boa opção é utilizar alimentos com alta digetsibilidade e teor maior de umidade (rações úmidas ou adição de água em alimentos secos). Já nos casos de formação de cristais de oxalato de cálcio, ainda não está totalmente estabelecida uma forma de dissolução dos cristais através da dieta e, por isso, substâncias que inibam o crescimento e a aglomeração de cristais tem sido estudadas recentemente. Nos casos de doença sem causa definida, chamada de doença idiopática do trato urinário inferior de gatos, a conduta permanece como um importante desafio, pois apesar dos sinais clínicos terem a tendência de se resolverem espontaneamente dentro de 5 a 7 dias, eles podem ressurgir após períodos variáveis. Algumas tentativas, como antibióticos, acidificantes urinários, corticóides, antiespasmódicos e antidepressivos podem ser utilizadas a fim de alcançar benefícios a estes animais.A maioria dos casos de cristais na urina de gatos .não está relacionada a processos infecciosos e não necessitam do uso de antibióticos.

Ofereça ração de qualidade ao seu gato, estimule sempre seu animal à ingestão de água e esteja atento ao aparecimento de quaisquer destes sintomas a fim de prevenir ou até mesmo reverter o problema a tempo. Em caso de suspeita de doença do trato urinário inferior, não espere, entre imediatamente em contato com o médico veterinário de sua confiança para que vocês possam ajudá-lo da melhor maneira possível!

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