Gravidez não planejada na adolescência

Caroline Arcari fala sobre sexualidade para os leitores do Rio Verde Agora


A puberdade abrange as modificações biológicas do corpo guiadas pelas alterações hormonais intensas. A adolescência é um conjunto de mudanças bio-psico-culturais e se processa de maneiras diversas, de acordo com a cultura em que o adolescente está inserido. A diferença entre os dois processos é que a puberdade tem aspecto biológico e universal e a adolescência apresenta o elemento social que reflete as expectativas da sociedade sobre este processo. A sexualidade é um dos importantes aspectos da adolescência por que é nessa fase que a identidade sexual está se formando e os impulsos sexuais mostram-se mais intensos. A gravidez na adolescência tem sido alvo de discussões e debates entre profissionais de saúde, educação e órgãos públicos.

Considerada uma situação de risco, a gravidez precoce mostra seus índices: segundo os dados do IBGE, desde 1980 o número de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas aumentou 15%, ou seja, cerca de 700 mil meninas estão se tornando mães a cada ano no Brasil. Os índices de atendimento do SUS demonstram o crescimento do número de internações para atendimento obstétrico nas faixas etárias de 10 a 14, 15 a 19 e 20 a 24 anos. As internações por gravidez, parto e puerpério correspondem a 37% das internações entre mulheres de 10 a 19 anos no SUS (BRASIL, 2003).  De acordo com o INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO - FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A MULHER, a epidemia de AIDS entre adolescentes e jovens cresceu, de modo que a prevalência de AIDS entre adolescentes de 15 a 19 anos passou de 0,6% até 1990 para 2,0% de 1991 a 2000, e de 2,4% para 10,5% entre jovens de 10 a 24 anos, no mesmo período.

Sabe-se que a Educação Sexual refere-se a um conjunto de valores transmitidos por diversos elementos sociais: família, escola, amigos, religião e percorre toda a vida, contando ainda com a influência cultural do contexto em que o indivíduo está inserido.  

O atual contexto familiar de relações mais abertas, a busca por uma educação mais liberal, o acesso à informação, o apelo do sexo na publicidade, nas novelas, na mídia de modo geral, geraram a necessidade (e possibilidade!) da orientação sexual o quanto antes. Os pais e educadores precisam e devem atender às curiosidades da criança para que ela tenha sempre uma fonte segura de informações corretas agregadas a valores morais. Oportunidades para conversar sobre o assunto são inúmeras. Cabe aos adultos orientadores aproveitar as ocasiões para conversar com naturalidade e sinceridade.

As concepções sexuais ainda recebem o reforço da mídia e do núcleo social, e nos permite incorporar valores, símbolos, preconceitos e ideologias. Assim, a educação sexual acontece a todo momento. Terrível engano da instituição escolar que acredita que uma palestra anual sobre sexualidade dirigida à adolescentes, fornecida por um médico ou enfermeiro, possa ser chamada de Educação Sexual. Eu chamaria de Deseducação Sexual, pois transmite a idéia simplista de que a sexualidade humana faz parte de um conteúdo de biologia, quando na realidade, ela é elemento fundamental da nossa personalidade. Talvez seja esse o problema relacionado às estatísticas citadas acima.

Esse aumento da taxa de fecundidade e doenças sexualmente transmissíveis entre adolescentes é um forte indicador de que as políticas de educação preventiva não têm atendido adequadamente esta faixa etária. A função da escola não é passar informações aos alunos, mas garantir estratégias de mudança de comportamento através de uma formação positiva, encarando a sexualidade como dimensão de saúde e fortalecendo a auto-estima dos adolescentes e jovens enquanto sujeitos sociais. A Educação Sexual não é um conteúdo, não é uma disciplina. É uma necessidade diária de desenvolvimento de senso crítico e valores éticos e morais, que orientarão as escolhas e ações dos nossos jovens.

AUTORA: Caroline Arcari

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