Dorme Neném.... que a cuca vem pegar

As cantigas de roda e de ninar na formação da personalidade das crianças


Recentemente tive a oportunidade de ler um texto da psicanalista Betty Milan na Revista Veja em que ela discorre sobre um assunto bastante recorrente entre os psicólogos e educadores: os medos impostos pelas canções de ninar.

Quero aproveitar a leitura deste texto e a proximidade do DIA DAS CRIANÇAS para discutir com os papais e mamães internautas do Rio Verde Agora um pouquinho sobre a educação dos nossos filhos.

Entre os recursos que utilizamos quando colocamos uma criança para dormir, estão as canções de ninar, na tentativa de acalmar, induzir ao sono e trazer aconchego. O que nem imaginamos é que algumas das músicas mãos conhecidas podem provocar medo e insegurança nas crianças.

“Dorme neném que a cuca vem pegar, papai foi pra roça, mamãe foi passear”.

Esta canção, por exemplo, aparentemente inocente, pode provocar insegurança nos pequenos. Sem ter consciência do poder das palavras, elas soam como uma ameaça para o bebê, que ouve o pai e a mãe dizer que se ele não dormir, a cuca (um bicho papão, uma espécie de bruxa feia, malvada e de unhas compridas, com forma de jacaré) vem pegar, vem assustar, vem fazer mal. E pior, que papai e mamãe não estão ali para ajudar, pois um foi pra roça e a outra foi passear. Com os pais ausentes, quem defenderia a criança? Isso pode gerar insegurança e até mesmo sentimentos de solidão, de não ser amado, podendo até mesmo causar problemas no futuro, tornando-se um adulto inseguro e carente.

Outro exemplo:

“Boi, boi, boi. Boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta”.

Boa parte das canções de ninar tem conteúdos agressivos, tristes, violentos como em alguns exemplos:

“Atirei o pau no gato-to-to, mas o gato-to-to não morreu-reu-reu, dona Chica-ca-ca admirou-se-se do berro, do berro que o gato deu”.

Essa música querendo ou não estimula a violência. Alguns educadores, hoje, preferem utilizar outra versão:

“Não atire o pau no gato-to-to, porque isso-so-so não se faz-faz-faz. O gatinho-nho-nho é nosso amigo-go-go, não devemos maltratar os animais”.

Observamos ainda outros exemplos que estimulam sentimentos negativos:

O Cravo e a Rosa (o cravo brigou com a rosa...)

Sabiá lá na gaiola (a menina chorou, chorou, chorou...)

Marcha Soldado (se não marchar direito vai preso pro quartel...)

Pai Francisco (foi pra prisão...)

Ciranda, cirandinha (o amor era pouco e se acabou...)

Fui no Tororó (Mariazinha, entrarás na roda ou ficarás sozinha...)

Escravos do Jó (guerreiros com guerreiros...)

O que falamos às crianças tem um peso enorme. A educação começa no berço, e as primeiras palavras tanto podem abrir quanto fechar caminhos. O educador (pai, mãe, babás, escolinha), devem prestar muita atenção no que diz, deve medir as palavras.

Ter filhos é uma escolha. Atualmente as pessoas não se sentem mais tão obrigadas a terem filhos, como já foi um dia. Mas quem escolhe tê-los, deve saber que é pra vida toda, que é preciso muita disposição, dedicação e mais que tudo, amor. Criar filhos é uma tarefa linda e abençoada, porém que exige muito empenho na criação e na educação. Os pais são o exemplo, o espelho, e responsáveis pela pessoa que estão preparando para o mundo. A tarefa de educar não deve ser transferida a outras pessoas (escola, babá). Estes ajudam, mas o privilégio de EDUCAR é dos pais.

Se cuidarmos da educação, oferecermos bons exemplos, e bons modelos de comportamento na infância, evitaremos muitos problemas no futuro.

Precisamos lembrar que devemos nos questionar sobre a criação de nossos filhos e não simplesmente repetir o que aprendemos na nossa infância. Prevenção e inteligência emocional são as palavras-chave.

Dúvidas? Envie e-mail para nossa colunista, a psicóloga Kátia Beal katiabeal@gmail.com

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