Consultório virtual: maus hábitos

A psicóloga Kátia Beal fala aos leitores do Rio Verde Agora


O que fazer para meu filho PARAR de...
...roer as unhas,
...chupar o dedo,
...morder a roupa,
...enrolar o cabelo,
...mexer em machucados,
e abandonar comportamentos indesejáveis?


Seu filho ou sua filha tem algum hábito que esteja sendo difícil de eliminar? Se a resposta for SIM saiba que ele não está sozinho. Muitas crianças tem hábitos que desejariam perder. Mas os hábitos são mais fortes que os desejos. Os hábitos prendem-se na mente. E mesmo que se queira eliminar, se libertar, não é tão simples, não se consegue assim tão facilmente, sozinho.

Muitas vezes é preciso buscar ajuda.

Quantas vezes você já pediu para seu filho parar de fazer algo que você não gosta, que considera como um comportamento “feio” como roer as unhas, por exemplo? Você pode até mesmo já ter oferecido recompensas ou ameaçado com alguma punição, rispidamente. Ou então tenha tentado de maneira calma, com voz suave, ou ainda não falando nada, somente olhando com ar de reprovação. Pois fique sabendo que não fará diferença alguma.

Todos sabemos que é muito difícil ou quase impossível interromper um hábito. Pense no quanto é difícil não comer uma bala a mais. Não gritar com seus filhos. Não tomar aquele copo a mais de refrigerante ou ainda, não dar mais aquela voltinha no brinquedo do parquinho. Ou então você, adulto, que possui o hábito de fumar, o quanto é difícil abandonar um vício. Sempre aparece aquela vontade de “fumar só este cigarro para relaxar, porque depois eu paro”, “eu paro quando quiser”. Sabemos que não é bem assim, não é verdade?

É preciso ter uma determinação que às vezes é difícil de ter, é preciso um esforço de difícil sustentação. E mesmo quando dispomos de esforço e determinação, ainda enfrentamos uma série de dificuldades.

E se é difícil para os adultos, que tem toda uma bagagem de conhecimento e experiência de vida, imagine para as crianças, que estão se desenvolvendo e ainda não conseguem discernir o que é certo e o que é errado.

E os maus hábitos podem se tornar um problema para as crianças, causando extrema angústia e sofrimento, além de vergonha e sentimentos de baixa autoestima.

Crianças que roem as unhas, por exemplo, ficam com a cutícula inchada, que chega a sangrar, a doer e até mesmo a infeccionar. Quem chupa o dedo pode vir a ter prejuízo na formação da arcada dentária e problemas nos dentes, até mesmo envolvendo a fala e a dicção. Quem puxa o cabelo pode arrancar tufos ou ter o cabelo enredado. E não termina nunca, porque, apesar do estrago, da dor e da observação, comentários e questionamentos das pessoas, quem minam com a autoestima, as crianças continuam a puxar o cabelo, a roer as unhas, a chupar o dedo, até que se torne automático. E é aí que o mau hábito toma conta.

Mas então como PARAR?
Geralmente hábitos como os citados, são provenientes da ansiedade. Crianças que tem esse tipo de comportamento são mais estressadas que as outras e por isso desenvolvem estratégias, na tentativa de aplacar a preocupação e essa ansiedade que as acompanham. Necessitam de sensações físicas para regular seu equilíbrio interior. Esses hábitos, então, funcionam como calmantes para elas. E os maus hábitos são preocupantes, mas não necessariamente podem significar que seu filho esteja com problemas emocionais. As crianças podem simplesmente possuir algum desses hábitos para aliviar a tensão, muitas vezes, própria do crescimento e das dificuldades normais do desenvolvimento, e conforme vão crescendo eles vão desaparecendo. Contudo, algumas crianças podem não estar bem. Se você notar que seu filho anda muito preocupado, perfeccionista nas tarefas de casa, chorando excessivamente, com dificuldade pra dormir, brigando demais com os coleguinhas, com dificuldades de relacionamento, ou se você foi chamado na escola porque ele anda desmotivado ou apresentando comportamentos agressivos ou incomuns, pode ser que de fato ele esteja com um problema emocional e precisando de ajuda.

Nesse caso, procure um profissional especializado, o psicólogo, que irá ajudar seu filho a identificar as causas do seu estresse e dos problemas emocionais para daí então ajudar, por meio de técnicas especificas, a controlar/eliminar os sintomas e os comportamentos indesejados. O “roer as unhas”, “puxar o cabelo”, “chupar o dedo”, “morder as roupas” e etc.) são apenas sintomas de algo que não vai bem com a criança. Dessa forma, dizer PARE não resolve, pois quando os pais falam isso, eles estão querendo eliminar o sintoma. O psicólogo então, em outras palavras, vai ajudar a identificar a causa, a raiz desses sintomas para então ajudar na resolução dos problemas. Entre as possíveis causas podem estar: as perdas (de alguém da família, de um bichinho de estimação, separação dos pais, nascimento de um irmãozinho quando se perde o posto para o bebê que nasceu), até mesmo a adaptação em uma nova cidade, uma nova escola, dificuldades de relacionamento e socialização, medo, insegurança, entre outras inúmeras causas que o psicólogo irá identificar com a ajuda de técnicas, testes, jogos, brincadeiras e materiais específicos de terapia infantil.

Muitas vezes, a família também pode estar adoecida e precisando de uma orientação mais especifica e eficaz.  Nesse processo, o psicólogo também fará o que chamamos de “orientação de pais” auxiliando papai e mamãe, a ajudar a criança e também a adquirir repertório para propiciar uma criação e educação mais funcional para o filho.

Referências
Huebner, Dawn. O que fazer quando os maus hábitos tomam conta de você: Um guia para a criança parar de roer as unhas, chupar o dedo, morder a roupa e abandonar outros comportamentos indesejáveis. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Artigo originalmente publicado na coluna que assino para a Revista Materlife de São Paulo – SP, edição 81 de setembro de 2011 disponível em www.materlife.com.br

Dúvidas? Envie e-mail para nossa colunista, a psicóloga Kátia Beal katiabeal@gmail.com

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