Consultório virtual: identificando vítimas de bullying

A psicóloga Kátia Beal responde perguntas dos leitores do Rio Verde Agora nesta coluna


Nesta semana, quero aproveitar o interesse dos leitores pelo assunto “bullying” que foi tema recente em minhas colunas, para informar aos pais e as pessoas próximas às vítimas do bullying como descobrir se o filho está sendo agredido, como podem ajudar e também como é possível superar a dor causada por essa prática de violência.

Como podemos ajudar as vítimas do bullying?
Uma das formas de lidar com esta questão é procurar a ajuda de um psicólogo e/ou psiquiatra. A psicoterapia irá ajudar a vitima do bullying a adquirir habilidades específicas nas relações interpessoais. Entre estas habilidades estão: assumir uma postura mais assertiva diante das provocações, na resolução de conflitos, na melhora da autoestima e na superação dos medos perante o estabelecimento de novos relacionamentos.

O trabalho com o psicólogo inclui ainda a elaboração dos traumas, evitando que se tornem ansiosos, inseguros, depressivos ou mesmo agressivos.  Tem ainda o objetivo de evitar que se instalem doenças e transtornos emocionais como: depressão, transtorno de ansiedade generalizada, fobias, psicoses, entre outros. O tratamento pode ainda associar psicoterapia com medicação prescrita pelo psiquiatra para combater os sintomas de transtornos emocionais que podem ter sido desencadeados pelos ataques de bullying.

Como superar?
A vítima pode ou não superar o trauma causado pelo bullying e essa superação vai depender das suas características individuais, do seu relacionamento consigo mesmo, com sua família e com seus amigos.
Para superar o bullying, é primordial não se isolar, e procurar apoio na família, com a escola e com os amigos em que confia.

Com os amigos nos sentimos mais fortes e mais autoconfiantes. Procurar pessoas que tenham algo em comum conosco, que gostem das mesmas coisas que gostamos pode ser uma excelente alternativa para superar os efeitos negativos e devastadores do bullying.

Conversar abertamente com os pais e pedir ajuda é fundamental, e por fim, procurar um profissional especializado que possa ajudar na aquisição de novos repertórios que proporcionem o aumento da autoestima é de extrema importância.

Se a vítima não conseguir desenvolver estratégias para superar o trauma, poderá ter sérios comprometimentos no seu comportamento e nas suas relações, tendo dificuldades de aprendizagem, baixo rendimento escolar, transtornos emocionais, entre outros já citados.

Como os pais podem descobrir se o filho está sofrendo bullying?
As vítimas do bullying normalmente dão sinais de que estão passando por problemas, e os pais e professores devem prestar atenção nas pistas: queixa de dor de cabeça, enjôos, dor de estomago, vômitos, problemas de apetite, dificuldades para dormir. Alguns desses sintomas se manifestam com grande intensidade nos momentos que antecedem a ida à escola.

Apresentam também mudanças freqüentes de humor, podem ter explosões de raiva ou de irritação, se comportam de maneira diferente do habitual. Geralmente tem poucos amigos, recebem poucos convites para festas. Gastam muito na cantina da escola, comprando presentes para os agressores, seja para agradar, na tentativa de evitar as agressões ou porque são coagidos a presenteá-los. Começam a apresentar diversas desculpas para faltar às aulas, Se queixam de doenças que podem de fato existir, por conta da somatização, que é quando um estado emocional pode provocar uma doença física. Até mesmo porque o bullying causa baixa imunidade e deixa a vítima com predisposição às doenças.

Podem ficar irritadas, ansiosas, tristes, infelizes ou deprimidas. Começam a apresentar notas baixas e baixo rendimento escolar.

O que os pais podem fazer para ajudar o filho a superar o trauma?
O bullying interfere na autoestima, na concentração, na motivação para os estudos, na dificuldade em se relacionar, contribui para o baixo rendimento escolar e pode causar problemas físicos e emocionais. Entre os problemas físicos podemos citar os psicossomáticos como diarréia, febre, vômito, problemas estomacais, cefaléia, bruxismo, alergias, entre outros. Entre os emocionais destacamos os transtornos de ansiedade e a depressão que pode gerar ideias suicidas.

Os pais devem procurar sempre o diálogo, principalmente para evitar o bullying, para prevenir. Sabemos que hoje em dia é tudo muito corrido e a competitividade no mercado de trabalho nos pressiona. Isso faz com que os pais tenham menos tempo para ficar com os filhos. Mas filhos são escolhas, e toda escolha tem seus ônus e seus bônus. Os pais precisam dedicar tempo na educação dos filhos, tempo para conversar, para saber como os filhos estão se sentindo, e devem principalmente participar ativamente da vida dos filhos. Desde muito cedo é importante que os pais reforcem com palavras e atitudes os aspectos positivos e os acertos das crianças. Fazendo dessa forma, as crianças se sentem mais seguras e autoconfiantes, e se por acaso se tornarem vítimas de bullying romperão mais facilmente as barreiras do silêncio e denunciarão os agressores.

Alguns pais agem de maneira totalmente desastrosa ao lidar com uma situação de bullying, diminuindo seus filhos e tecendo comentários irônicos, até mesmo responsabilizando o vitimado pela falta de competência em lidar com os abusos sofridos. Geralmente agem assim por não terem repertório suficiente e adequado para lidar com problemas ou estão apenas repetindo e reproduzindo experiências da sua própria infância ou mesmo da vida adulta. Por falta de conhecimento acreditam que dessa forma estarão educando o filho e incentivando-o a reagir. Mas, sem perceber os pais apenas estão alimentando a insegurança e o sentimento de inferioridade dos filhos e reforçando as atitudes dos agressores. Assim, a vítima permanece em silêncio e engrossando as estatísticas do bullying.

O ideal é que os pais procurem conversar com seus filhos, procurem a escola quando perceberem que algo está errado e se necessário encaminhem os filhos para acompanhamento com um profissional da saúde, que pode ser um psicólogo ou um psiquiatra.                

Grande abraço a todos...

Excelente semana!!!

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