Consultório virtual: estresse infantil

A psicóloga Kátia Beal fala sobre as crianças que ficam estressadas


O estresse não é uma exclusividade da vida adulta. As crianças também podem se sentir estressadas. Isso, porque o estresse é uma reação natural do organismo diante de qualquer estímulo que nos desafie ou nos force a uma adaptação momentânea; e o organismo infantil funciona da mesma maneira que o do adulto, ou seja, precisa se adaptar ao ambiente.

O estresse, ao contrário do que se pensa tem seu lado bom, seu lado produtivo na formação do emocional de uma pessoa. Ele nos ajuda a enfrentar as situações que iremos nos deparar ao longo da nossa vida.  Desde bebê a criança passa por situações de estresse quando fica longe da mãe. Depois, provavelmente ficará estressada durante os primeiros dias na escolinha. E como dissemos o estresse não é necessariamente ruim: na infância, quando encararamos as primeiras situações de estresse, estamos vivenciando um aprendizado de como lidar com a tensão e os problemas na vida adulta.

Quando as tensões e as adversidades não cessam e a criança permanece estressada por longos períodos é que deixa de ser um aprendizado, de ser normal e se torna um problema. É aí que surgem as dúvidas dos pais. A Dra Kátia Beal, terapeuta cognitivo-comportamental, para esclarecer algumas delas:

Será que meu filho está estressado? Como saber?
As crianças não sabem expressar seus sentimentos como os adultos. Então é preciso que pai e mãe fiquem atentos aos sinais. Os pais geralmente interpretam agressividade e birra como simples falta de educação; já o isolamento costuma ser atribuído à timidez. Muitas vezes, porém, essas reações podem ser uma maneira que a criança encontrou para pedir ajuda. Os pais que acreditam que criança não tem estresse provavelmente não enxergam esses sinais e, consequentemente, não tratam seu filho da melhor maneira nessas situações.

Que situações podem estressar uma criança?

Entre as possíveis fontes de estresse na infância, algumas são facilmente identificáveis: separação dos pais, morte de alguém da família, mudança de cidade ou de escola, doenças. Mas existem outras situações que podem estressar a criança e seus pais nem se dão conta. Um exemplo bastante comum é a agenda cheia: natação na segunda-feira, inglês na terça, balé na quarta... Às vezes fica difícil para a criança conciliar tantos compromissos e atender às expectativas dos pais. E, para piorar, com a agenda lotada sobra pouco tempo para brincar, que é quando as crianças encontram espaço para a socialização e ensaio da vida adulta, para descansar, para dormir. O resultado disso? Estresse.

Como evitar o estresse infantil?
Não existe uma receita pronta. Até porque evitar é praticamente impossível: não dá para controlar tudo o que ocorre ao nosso redor. Superproteger os filhos contra as adversidades, seja privando-os de informações sobre as situações, seja enchendo-os de presentes, costuma ter efeito contrário ao desejado. Primeiro porque sofrer estresse em níveis adequados é necessário, pois desenvolve no organismo a capacidade de se ajustar às mudanças. Segundo porque as crianças, apesar de ainda terem uma visão “primitiva” do mundo, ficam mais ressentidas quando são privadas da verdade. Se o vovô morreu, por exemplo, o melhor é explicar a situação (de forma delicada, porém clara) em vez de fingir que nada aconteceu.

E como tratar
Diante de um filho estressado, os pais, em geral, se estressam também. Então, num primeiro momento, é importante manter a calma. Depois, analisar o motivo do estresse. Se não houver nada aparente dentro de casa, vale conversar com professores e observar o comportamento fora do convívio familiar. Identificada a situação que aflige a criança, há basicamente dois caminhos a serem tomados. O primeiro, quando possível, é tentar eliminar a causa: se a criança estiver sobrecarregada de atividades, por exemplo, reduzir o número de compromissos semanais ajuda muito. Deixe que a criança escolha somente uma ou duas atividades para fazer, converse com ela sobre o que mais lhe agrada, o que ela mais gosta e sente prazer. Se os pais estiverem se separando, é fundamental que eles evitem discutir na frente do filho. Quando não há como proteger a criança da situação, o importante é conversar, ouvir seus anseios, dar suporte. Independentemente da situação, o diálogo é sempre muito importante. Caso sintam necessidade, os pais devem procurar ajuda profissional.



Dúvidas? Envie e-mail para nossa colunista, a psicóloga Kátia Beal katiabeal@gmail.com

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