Aborrecentes?

A pedagoga Carolina Arcari fala sobre essa complicada fase na vida


 O comportamento oscilante, temperamental e facilmente influenciável dos jovens, comum nessa fase, é sempre criticado por pais e educadores que adoram reunir-se para expressar o quanto se incomodam com as atitudes dos futuros adultos. Este rótulo antipático costuma ser utilizado por quem provavelmente não entende o processo de desenvolvimento humano ou por quem já se esqueceu que foi adolescente um dia.
 
Transformações intensas, período de grande instabilidade emocional, de dúvidas, incerteza e insegurança, são aspectos que caracterizam a adolescência. É um período intrigante em que o jovem perde a condição de criança com seus privilégios e com a segurança proporcionada pelos pais, mas ganha a possibilidade de ingressar no mundo adulto com uma identidade própria e com a capacidade e os privilégios de ser um adulto. A peculiaridade desta faixa etária é que todas as transformações (físicas, emocionais, psicossociais, intelectuais e espirituais), acontecem ao mesmo tempo e rapidamente. A grande angústia familiar gerada pela adolescência, é mais complexa do que se imagina. O adolescer não é exclusivo do jovem. Ele implica os pais, que também vão viver um processo de mudança de seus papéis, deixando de ser os pais heróicos e admirados da infância, para ser apenas os pais reais, despidos do imaginário infantil e sob as lentes da nova visão e necessidade de independência do jovem.

“No meu tempo não era assim”, dizem os desavisados que não conseguem perceber que em apenas 50 anos passamos de um televisor preto e branco para computadores de alta tecnologia e interatividade, que se conectam ao mundo todo e fornecem informações em tempo real. Não, no nosso tempo não era assim e no tempo de nossas avós, aos 14 anos, elas já estavam provavelmente gestando nossos pais. Culturalmente, a adolescência vem se transformando e tomando novos significados, mas há uma dificuldade enorme por parte da sociedade em entender, acolher e respeitar a fase de transição que a juventude representa.
 
Cabe lembrar que a criança e o adolescente nunca foram adultos, porém, o adulto já passou pro ambas as fases e seu papel fundamental é acolher as angústias típicas de cada fase do crescimento. Talvez, se conseguíssemos resgatar as emoções que vivenciamos no passado pudéssemos estabelecer uma ponte de comunicação com o adolescente que está passando por essas experiências agora. Tempo, paciência, empatia, limites e compreensão é o que os adolescentes precisam, afinal, a fase em questão não é marcada apenas por dificuldades, crises e angústias. Ao se abandonar a atitude infantil e ingressar no mundo adulto, há uma série de acréscimos e a formação de um novo ser cheio de maravilhosas potencialidades.

AUTOR: Caroline Arcari

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