A despedida da cegonha

Caroline Arcari fala sobre educação sexual para os leitores do Rio Verde Agora


Gravidez precoce, AIDS, violência e abuso sexual – desafios do mundo atual que pressupõem novas reflexões sobre a formação do ser humano. Embora estejamos no século XXI, as informações sobre sexualidade fornecidas para as crianças (quando fornecidas) são muito parecidas com as do século XIX: incompletas, fantasiosas, desconexas. A velha história da cegonha continua sendo a explicação mais popular utilizada pelos pais ainda hoje. Existem outras teorias curiosas inventadas pelos adultos para explicar de onde vêm os bebês: “a mamãe engoliu uma semente”, “os bebês nascem sob pés de couve”, “te achei no hospital”.

Semana passada, ouvi uma teoria curiosa, mais moderna, contada pelos pais durante um treinamento. Eles disseram que, para fazer uma atualização nas mentirinhas, contam que os bebês vêm em um avião fretado, cheio de recém-nascidos, e são entregues às famílias. As explicações são deveras criativas, não há como negar. Porém, façamos uma reflexão sobre as mensagens transferidas à criança, cada vez que as “mentirinhas” entram em cena: não é surpresa que a maioria das pessoas tenha dificuldades com sua auto-estima, afinal, cresceram achando que se originaram de puro acaso, em que um avião cheio de bebês perdidos vai distribuindo aleatoriamente os filhos em lares quaisquer. Não é novidade que muitas pessoas não se achem especiais, já que acreditaram durante algum tempo que foram “achadas no hospital”, como se acha uma moeda de 10 centavos no chão ou um grampo de cabelo. Desse modo, a ânsia para entender o sentido da vida, o sentido da existência, é negado à criança, que relaciona a sua origem a puro acaso ao a uma horta de couves. Além disso, é uma contradição. Os pais querem que seus filhos sejam inteligentes e espertos, mas atentam contra o desenvolvimento do raciocínio lógico e do entendimento das leis naturais, ao convencerem a criança de que um pássaro medonho teria a capacidade de carregar um bebê de 3, 5 quilos em seu bico.

Esta reflexão é apenas um convite para que os pais pensem sobre seu papel fundamental na formação da personalidade infantil. A curiosidade sobre questões sexuais aparece antes mesmo do desenvolvimento da linguagem, quando a criança olha curiosa para os genitais do coleguinha do sexo oposto, tentando entender diferenças e semelhanças. Em torno dos 4 anos, as perguntas infantis são claras e diretas. Elas querem saber sobre a origem da vida, sobre o nascimento, sobre como o bebê foi parar dentro da barriga da mãe. A tarefa do adulto é explicar com honestidade e simplicidade a relação sexual, o desenvolvimento do feto, os tipos de parto. Para os defensores do silêncio, um aviso: informação sobre sexo não incentiva iniciação sexual nem a erotização precoce. Muito pelo contrário: crianças bem informadas crescem fazendo escolhas mais saudáveis e responsáveis, além de estarem mais protegidas contra o abuso sexual infantil. Se os pequeninos não têm conhecimento sobre os órgãos genitais, sobre o que é a atividade sexual adulta, sobre as partes privadas do corpo, ficam mais suscetíveis aos perigos da pedofilia e da violência sexual.

Portanto, nada como uma conversa franca e respostas honestas para explicar a origem dos bebês e quaisquer outros assuntos sobre sexo. E nada melhor do que saber que em um relacionamento de amor, em que um homem e uma mulher trocaram carinho, respeito e afeto e uniram corpo e alma, produziram algo único, especial e incomparável: VOCÊ! Pense nisso.

Por Caroline Arcari

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