Sobram vagas no campo

É cada vez mais difícil encontrar trabalhadores dispostos a irem para a zona rural


No dia 25 de maio é comemorado o Dia do Trabalhador Rural. Os produtores não negam a importância desse profissional para manuseio das roças e criações de animais. Mas a mudança de hábitos da sociedade tem assustado agricultores e pecuaristas que a cada ano tem se deparado com dificuldades em encontrar trabalhadores dispostos a irem para o campo.
Ivan Roberto Brucceli é agricultor, cultiva soja e milho. Regularmente chega a ter 10 profissionais, mas durante o período de plantio e colheita emprega até 20 funcionários. "Esse trabalhador é muito importante, pois tudo na lavoura depende dele: o manuseio de máquinas e aplicação de fungicidas, por exemplo. Eles merecem um tratamento especial", destacou Brucceli.

Conforme o produtor, nos períodos de plantio e colheita, quando aumenta o número de vagas temporárias,  os profissionais contratados realizam cursos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), e Sindicato Rural de Rio Verde. "Eu sempre falo que eles precisam saber usar o celular, pois é um passo para aprender a manusear GPS e outros equipamentos tecnológicos. A cada temporada que contrato novos profissionais, eles têm de fazer os cursos", informou.

Segundo Brucceli, os trabalhadores rurais vão para o campo principalmente pelo salário. "Ninguém vai para a roça para ganhar menos do que ganhariam na cidade e também tem uma questão cultural. Geralmente o pai trabalhava no campo e o filho foi criando junto com ele. Então já tem contato com aquela realidade", narrou.

Mas de acordo com o produtor, tem se tornado cada vez mais difícil encontrar profissionais, principalmente jovens, que querem trabalhar em lavouras. "A facilidade da vida na cidade, de ir para o trabalho e toda tarde estar em casa, mesmo o salário sendo mais baixo, tem feito com que os jovens desinteressem cada vez mais pelo trabalho no campo", exclamou.

Brucceli esteve nos Estados Unidos no ano passado e acredita que no Brasil a realidade do trabalho no campo seja idêntico ao do país norte-americano. "Lá praticamente não se encontra trabalhadores rurais, quem manuseia as lavouras, ordenha as vacas, são os filhos e proprietários de roças e animais", acentuou.

O temor de Brucceli se transformou na realidade do vigilante Nilton Lemes Cardoso, de 48 anos. Ele não trabalha no campo há mais de 10 anos. Cardoso começou a trabalhar em fazenda por volta dos 16 anos. Segundo ele fazia de tudo, plantava, capinava e tratava de animais. Com pouco estudo, permaneceu na área até os 38 anos. "Naquela época eu trabalhei porque não tive oportunidade. Hoje o serviço melhorou bastante, antes era tudo braçal, agora quase tudo se faz com máquinas, mas mesmo assim, eu não quero trabalhar mais em roça", atestou o vigilante, que disse só voltar para o campo se não tiver alternativa.

Luziano Esteves de Jesus, 46, é trabalhador rural desde os 10 anos e até hoje nunca mudou de profissão, no total já são mais de 36 anos que atua no campo. Ao contrário de Cardoso, Jesus gosta do trabalho e não pretende deixar a carreira. "Eu comecei porque não tive oportunidade, mas eu gosto do que faço", narrou. Segundo o trabalhador, a vida no campo tem melhorado. "Antes nem carteira assinada tinha e, agora, já faz 18 anos que eu trabalho registrado", acrescentou. Jesus trabalha com um grande produtor que possui fazendas no município de Acreúna e Paraúna. E segundo ele, o patrão todo ano, ao final da colheita, realiza churrasco para os funcionários.

João Felipes dos Santos tem 66 anos, somente na região de Rio Verde trabalha há quase 30 anos. Santos vive sozinho no campo. "Gosto muito de música", disse o caseiro que praticamente só tem como companhia o rádio. O reconhecimento dos funcionários nem sempre é explícito. Mas Simão Brasil expressa o prestígio pelo caseiro que toma conta dos seus 58 equitares a 30 quilômetros da cidade. Ele até brinca que praticamente pegou seu funcionário para criar.

Mas Simão Brasil revela que encontrar trabalhador não está nada fácil. Proprietário da chácara há 11 anos, foram poucos que trabalharam para ele.  "Agora tem sete meses que o senhor João trabalha comigo, mas já é a quarta vez que eu o contrato. Ele foi meu primeiro funcionário", revelou, acrescentando que, embora esteja difícil encontrar trabalhador, tem aqueles apaixonados pelo campo, como o senhor João. "Ele nunca vai a cidade, já tentei várias vezes levá-lo, mas ele sempre rejeita. No máximo ele vai no vizinho", narrou.

Por Taffareu Tarcísio - publicado no jornal Tribuna do Sudoeste

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