Agrodefesa se prepara para iniciar cadastro de equídeos

Proprietários de cavalos, muares e asnos que não possuem propriedade rural vão poder fazer o cadastro de seus animais pelo seu CPF


Há 20 anos Syllas Costa Araújo, de 47 anos, cria cavalos no quintal de sua casa. No início era tudo rudimentar, hoje o quintal se transformou num estábulo. Os animais também evoluíram, agora ele tem cavalos Manga Larga Paulista. Alguns deles no valor de R$ 40 mil. O mais antigo, Estilo, é praticamente da família. Quando o dono viaja e fica muitos dias fora de casa, o animal adoece. Quando ouve a voz de Silas, ele logo relincha. O momento anual de realização do dono é o mês de setembro, período em que participa com os animais das tradicionais Cavalhadas de Corumbá de Goiás. Ele participa das batalhas há 28 anos.

Para contemplar pessoas como Syllas – donos deste tipo de animais, mas que não possuem propriedade rural - a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) se prepara para iniciar o cadastramento e emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA) de equídeos (cavalos, muares e asnos) a partir do CPF de seus proprietários. Até então, para emitir a GTA  esses proprietários o faziam por meio da inscrição estadual de outras pessoas ou simplesmente não emitiam. Com essa nova possibilidade, aumenta-se o controle sanitário e diminui o risco de disseminação de doenças. A medida não vale para criadores.

O presidente da Comissão de Equideocultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Hélio Fábio Nascimento Guerra, afirma que hoje está popularizada a “mania de cavalo”. Qualquer data festiva é comemorada com cavalgadas e eventos equestres. “Todo final de semana tem uma cavalgada para comemorar o aniversário de alguém”, comenta. Esses eventos, que concentram grande quantidade de animais, representam risco de disseminação de doenças e por isso a necessidade de uma maior fiscalização. Doenças como a influenza equina e anemia infecciosa podem ser espalhadas com o simples contato entre os animais.

Com a permissão do cadastro de produtores rurais de equídeos por meio do CPF, a Agrodefesa deve reforçar a fiscalização – que já é realizada. O gerente de Fiscalização Animal da Agrodefesa, Janilson Azevedo Júnior, explica que para o trânsito de animais é necessária a emissão da GTA, exames de anemia infecciosa equina (AIE), e quando ele vai destinado a algum esporte ou evento é necessário o exame de influenza. “E dependendo de onde esses animais vierem, vamos dizer que venham de algum Estado que apresente a enfermidade Mormo, é necessário que tenha esse exame para o trânsito e entrada desses animais no estado de Goiás”, esclarece. A atuação da Gerência ocorre com fiscais agropecuários junto com os responsáveis técnicos de eventos, fiscalizando a entrada de animais em parques de exposição, por exemplo, e na fiscalização de trânsito de animais, com 23 equipes móveis, além dos postos fixos que impedem a entrada de animais no Estado sem a documentação exigida.

“Momentaneamente as cavalgadas não têm a necessidade de um registro, até porque elas não têm um destino fixo. O que nós temos conversado juntamente com a Faeg e a Secretaria da Fazenda – onde nós entramos num prévio acordo do registro e do cadastro dos produtores com CPF – é para que possamos tentar vincular essas cavalgadas aos sindicatos rurais. De alguma maneira o sindicato se torna o organizador da cavalgada, para que a gente tenha um destino – a emissão da GTA seja destinada a esse sindicato, onde os sindicatos já possuem uma estrutura física e um responsável técnico, onde nós podemos tentar regularizar esse trânsito dos animais destinados à cavalgada. E é claro, cabe aos produtores a conscientização sobre a preocupação com a disseminação das enfermidades em um evento como esse”, argumenta Janilson.

O presidente da Comissão de Equideocultura da Faeg  afirma que esse cadastramento via CPF vai permitir conhecer efetivamente a tropa goiana. Há perguntas que necessitam de respostas: Qual o real quantitativo de equídeos? Quantas raças? Qual o comportamento do produtor? E muitas outras. Segundo ele, dados do IBGE apontam que há em todo o País 5.363.182 equinos. Goiás tem hoje 401 mil equinos. É a quarta maior tropa do Brasil. Essa cadeia de produção emprega 3,5 milhões de pessoas, é responsável por 25% do PIB brasileiro e movimenta R$ 8,5 bilhões ao ano.

“Nosso objetivo é organizar o setor”, assegura. Hélio sustenta que essa é uma oportunidade para o produtor se organizar, antes que a Agrodefesa intensifique a fiscalização e inicie as multas. Os maiores criadores de equídeos em Goiás estão hoje em Nova Crixás (para trabalhar com o gado), Rio Verde (esporte) e Padre Bernardo (ambas atividades).

De acordo com Hélio Guerra, ainda faltam informações ao produtor. Para ele, ampliar o controle sanitário é importante para aumentar a competitividade do equídeo goiano. E acrescenta: “A gente acha que cadastrando esses animais vai organizar melhor esse setor. Para parte de sanidade, de competitividade, de exportação de animais. Hoje a gente vê que o Estado está com grande número de equídeos e há várias festas, várias  cavalgadas e esporte equestre, e gira muito dinheiro em torno disso. Então, existem animais caros participando junto com animais um pouco mais baratos. E a parte de sanidade é muito importante. Nós queríamos que esses animais estivessem corretamente: vacinados, com seus exames de anemia, para que eles pudessem participar desses eventos.”

O ‘imperador mouro’ Syllas conhece bem os riscos para seus animais. Por isso, ele cumpre à risca a vacinação de seus cavalos. “Todo mês de janeiro eu vacino os animais. Acho muito importante que haja essa fiscalização, tenho medo do meu cavalo pegar Mormo, por exemplo”, comenta. Cavaleiro que integra o time dos mouros ou cristãos nas Cavalhadas cuida bem de seu animal. É comum encontrar em Corumbá de Goiás produtores que tratam dos seus cavalos no quintal de casa. A maioria tem seu animal para poder participar das festividades de setembro.

“Eu já criava antes, só que com o cavalo aqui a gente tem um contato melhor. Aqui perto da gente fica mais dócil, mais calmo,  não tem tanto perigo de cobra, de animais peçonhentos, e nessa época de seca ele não tem muito o que comer, você tem que dedicar um trato melhor para eles. Aí que apareceu essa necessidade de criar em casa, mais perto. Hoje o tempo está muito corrido e aqui é mais prático”, afirma o empresário Fábio Joviano Fleury.

Os animais de Fábio custam de R$ 10 a R$ 30 mil. Com um custo médio de um salário mínimo para manter o animal em baias, o produtor não tem dúvidas sobre a importância de um controle rígido de doenças. “Às  vezes acontece, de principalmente as fêmeas para cruzar, não terem exame”, exemplifica. Na avaliação dele, o risco não vale a pena. Os cavalos que possui, assim como os de Syllas, também já são parte da família. Ele conta que os animais ficam na baia construída nos fundos de sua residência durante todo o ano e no período das Cavalhadas ele traz outros animais. “Eles ficam o ano todo aqui e na época das Cavalhadas eu trago mais cavalos para cá. E durante o ano para eles não ficarem ociosos a gente faz cavalgadas, a gente vai para a Serra dos Pirineus, o Salto do Corumbá…”, afirma.

Há 20 anos Fábio participa das Cavalhadas como soldado cristão. “A Cavalhada é a principal festa da cidade. Já é uma tradição, eu não me vejo fora das Cavalhadas. Meu avô correu Cavalhadas, meu irmão correu Cavalhadas, então acaba que eu não me vejo fora dessa festa.  É um hobby que virou amor”, garante. A festa tradicional, que remonta o período das Cruzadas em que mouros se renderam aos cristãos, é encenada em três dias. São dez soldados, um embaixador e um rei de cada lado. A festa concentra além das batalhas, terços, jantares, shows e ensaios que movimentam a cidade durante todo o mês.

Além dos ‘exércitos’ dos dois lados, participam os mascarados, que representam o povo na encenação. Nesse período o fluxo de animais é intenso e mais uma vez evidencia a necessidade que todos os animais estejam com os exames em dia. “Acho importante esse controle, porque vem animal de todos os lados”, conta Syllas. Caso identificada a presença de anemia infecciosa equina é obrigatório o sacrifício do animal. Com animais tão caros e que já fazem parte da família, Syllas prefere não arriscar, e a contaminação por doenças, está fora de cogitação.

Conscientização
A conscientização do produtor ainda é uma dificuldade para a fiscalização. “É necessário que tenha-se com mais ênfase uma educação sanitária pra que a gente possa fazer com que o produtor se conscientize e faça o trânsito devidamente documentado”, alerta Janilson. A coordenadora do Programa Estadual de Sanidade de Equídeos, Luana Batistella, declara que a nova possibilidade de cadastro de equídeo aumenta a independência dos proprietários desses animais.

Ela afirma que com o início desse cadastro e emissão da GTA pelo CPF, o controle sanitário vai melhorar. ”O objetivo principal é sanitário. A gente tem que manter  um controle de onde o animal movimenta (de onde está saindo, para onde vai e quando ele retorna) e se tiver foco de qualquer doença de notificação obrigatória, e no caso nós estamos falando principalmente de anemia infecciosa equina, mormo – que é um problema que está bem próximo da gente, e influenza. E principalmente em eventos agropecuários. Você tem animais de várias origens aglomerados em feiras, parques de exposição, cavalgadas, os eventos agropecuários são os maiores disseminadores de doenças”, conclui Luana.

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