A economia e os serviços ecossistêmicos

A atividade econômica depende, exclusivamente, dos recursos da natureza para o seu funcionamento


A economia “funciona” por dentro do sistema ecológico, por dentro da biosfera que serve de suporte ao processo econômico. Por isso é intensa a relação existente entre a economia (um subsistema) e a ecologia (o sistema maior).

A atividade econômica depende, exclusivamente, dos recursos da natureza para o seu funcionamento. "Sem recuperar o meio ambiente, não se salva a economia; sem recuperar a economia, não se salva o meio ambiente", contextualizou o ecologista norte-americano Berry Commoner (1917-2012).

Embora a economia tradicional, em seus modelos convencionais, faça questão de não contemplar as restrições ambientais (limites ecológicos), uma vez que a visão predominante do sistema econômico como um todo enaltece loas ao fluxo circular da riqueza, imaginando com isso a economia como sendo um sistema isolado das relações ambientais, não há como negar o enorme grau de dependência da economia em relação ao ecossistema, uma vez que a natureza fundamental da atividade econômica está toda concentrada em extrair recursos (da natureza), produzir mercadorias (para disponibilizar no mercado), consumir bens e serviços (pelas famílias) e descartar os resíduos (na natureza).

Logo, não se pode perder de vista que o sistema econômico é um sistema aberto que troca energia com o meio ambiente. Nessa troca, recebe (da natureza) energia e matéria (limpas) e a devolve para a mesma de forma degradada (suja).

É essa interação que ajuda a realçar a importância de todo o conjunto de serviços ecossistêmicos que faz com que a economia “funcione”.

Cabe antecipadamente, nesse pormenor, uma explicação daquilo que se convenciona chamar de ecossistema: trata-se, portanto, de um conjunto de seres vivos e do meio ambiente em que eles vivem, com todas as interações desses organismos com o meio e entre si. Exemplos de ecossistema: uma floresta, um rio, um lago ou um jardim.

A própria camada ao redor da Terra onde vivem todos os organismos vivos, chamada de biosfera, é considerada por alguns cientistas um único e enorme ecossistema.

O fluxo de benefícios produzidos por um ecossistema inclui funções essenciais para a sobrevivência dos humanos e de outras espécies. Nesse sentido, quem, de fato, sustenta a vida na Terra são os ecossistemas.

Sem esses serviços ecossistêmicos (disponibilidade de água potável, regulação do clima, biodiversidade, fertilidade do solo etc), não há produção de absolutamente nada. Sem energia e matéria, como já apontado anteriormente, não há trabalho. Sem a existência de sistema ecológico, não há sistema econômico; sem ecossistema, nada acontece.

Ainda sobre a importância dos ecossistemas, cumpre apontar que esses apresentam dois componentes básicos: as comunidades vivas (bióticos) e os elementos físicos e químicos do meio (abióticos). A parte biótica é formada por plantas, animais e microorganismos. A porção abiótica é o conjunto de nutrientes, água, ar, gases, energia e substâncias orgânicas e inorgânicas do meio ambiente.

O que a atividade econômica tem feito com toda essa riqueza natural? Nos últimos 60 anos, cerca de 60% dos serviços ecossistêmicos da Terra foram degradados. Em busca da expansão industrial, o ritmo alucinado do crescimento das economias modernas nos últimos 250 anos tem violentado a natureza em várias frentes. A entrega à natureza de lixo (resíduos) pós-produção industrial é um dos casos mais paradigmáticos.

Por sinal, gera-se todo tipo de lixo: doméstico, industrial, químico, eletrônico, sobrecarregando o meio ambiente. No Pacífico Norte, por exemplo, a maré vermelha (crescimento exagerado de algas do mar, superalimentadas pelo material orgânico do lixo doméstico) é um lamentável fenômeno de poluição marítima, uma vez que essa ocorrência impede a passagem da luz e libera substância tóxica, pondo em risco a sobrevivência de variadas espécies aquáticas.

Estimativas apontam que a produção de lixo domiciliar, para ficarmos apenas nesse exemplo, gira em torno de 730 milhões de toneladas ao ano; são dois milhões de toneladas por dia.

Nas últimas duas décadas apenas, 35% dos mangues desapareceram. Alguns países perderam até 80% por meio da conversão para aquicultura, superexploração e tempestades, as florestas desapareceram por completo em 25 países e outros 29 países perderam mais de 90% de sua cobertura florestal.

A sociedade moderna, no afã em reproduzir o modelo centrado na excessiva produção para atender um nível de consumo cada vez mais exagerado, esquece o “valor que a natureza tem” e prefere enaltecer o som da buzina dos automóveis do que o canto dos pássaros.

Nessa sociedade de consumo, a fumaça das fábricas, desde o início da expansão industrial, passou a ter muito mais importância que o cheiro do mato pós-chuva. Monitorados pela ordem vigente da economia tradicional que “endeusa” as elevadas taxas de crescimento econômico como imperativo supremo de ascensão social, o deus-mercado grita em alto e bom som que a palavra de ordem é: crescer. Pouco importa se a consequência seja destruir.

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