Os motivos da troca de liderança

André Furquim analisa a saída de Nilton Lamas da liderança de Juraci Martins


Todos, de alguma forma ou de outra, gostariam de possuir o dom da adivinhação para prever os acontecimentos e até mudar aqueles fatos que seriam malignos. A adivinhação busca determinar o significado ou as causas ocultas dos acontecimentos, predizendo às vezes o futuro, por meio de práticas variadas. Mas, como nós, pobres mortais, não possuímos tal atributo, restam-nos como jornalistas analisar a história e os acontecimentos para tentar antecipar algum fato e, quem sabe, conseguir um “furo noticioso”. Quando o profissional é de jornal interiorano com periodicidade quinzenal (nosso caso), ainda é mais difícil conseguir furo jornalístico. Ficamos ainda mais dependentes de uma excelente intuição e de muita sorte.

Na verdade toda essa introdução é para argumentar que bem antes da oficialização da troca do líder do governo de Rio Verde na Câmara, o editorial sobre esse assunto já estava pronto. Com a divulgação da substituição do vereador Nilton Lamas (PPS) pelo vereador James Borges (PSDB) na liderança de Juraci Martins no Legislativo, fiz algumas modificações. E, para servir de conforto para meu ego jornalístico, tenho a única certeza de que adivinhei, ou previ, como queiram, essa mudança bem antes de acontecer.

Diante da substituição na liderança de governo na Câmara, começo com uma pergunta bem trivial: qual a missão de um líder de governo numa câmara? Obviamente, que separadas as devidas proporções é a mesma de um líder de um governador ou do Presidente da República. Ou seja, essa função é bastante complexa. O líder obrigatoriamente necessita estar em sintonia com o projeto político do mandatário do executivo, tanto com as questões de ordem política como com as administrativas.

O termo “obrigado” é imperativo e não combina com democracia, contudo para toda regra existe exceção. E um líder de um prefeito, governador ou presidente tem muitos direitos, menos o de discordar de uma mensagem ou criticar em público, ou em plenário, esse ou aquele órgão do executivo. Ele é agente partícipe na defesa de todo e qualquer ato ou ação do prefeito. Questões que por ventura o desagradem devem ser resolvidas internamente. São ossos do ofício. “Quem não pode com o peso não pega na rodilha”, diz um ditado popular. Assim é que seja vereador, deputado ou senador, este deve estar ciente do desgaste natural do cargo. Se um vereador, pelo simples fato de ser de uma base de apoio a um gestor já enfrenta o desgaste natural do vínculo político, imagine o líder? Isso é bê-a-bá na arte de fazer política.

Diante do exposto e levando em consideração que o ex-líder de governo, vereador Nilton Lamas, em alguns momentos, destoou da equipe de governo, criticando secretários e pontuando algumas reclamações, a troca seria inevitável. Mas, em minha análise, o principal problema de liderança enfrentado por Lamas foi o excesso de brincadeiras em plenário. Suas defesas, na maioria das vezes, eram recheadas de “piadas” e graças que arrancava risos dos parlamentares e dos presentes às sessões, contudo, não eram feitas com segurança, por isso não transmitiam a confiança necessária para o contraponto das críticas oposicionistas. Em vários momentos, suas defesas serviam de munição para a arma da oposição fazer o papel que lhe é cabido. Por isso, o acontecido já estava prenunciado ainda no ano passado.

De maneira nenhuma quero tirar os méritos do vereador Nilton Lamas. Mesmo porque desde 1994, quando comecei acompanhar a vida política rio-verdense, nenhum líder de governo durou tanto tempo na posição como ele. Nilton ficou 25 meses nessa espinhosa função e como o próprio prefeito Dr. Juraci divulgou através de nota oficial: “palavras são insuficientes para agradecer o inestimável apoio recebido por Vossa Excelência desde o início da empreitada que culminou na vitória por nós conquistada, levando-nos à árdua, porém, gratificante tarefa de conduzir os destinos de Rio Verde”. É bom também lembrar que Lamas é “marinheiro de primeira viagem” no ramo político, e apesar dos pesares, realmente teve uma participação relevante nessa função.

Em nota oficial o prefeito enalteceu o trabalho de Lamas como líder, argumentando que mudanças são salutares para o bem da democracia. Mas, é bem verdade, mesmo com a sinceridade nas palavras escritas no documento, que Dr. Juraci, apesar de sua eleição com 34.402 votos, mais de 7 mil sufrágios de frente, não elegeu nenhum vereador do seu partido, o DEM. Isso representa 44,55% dos votos válidos. É voto demais para um prefeito e de menos para um partido. Isso é matemática. E, sendo assim, o prefeito ficou refém de seus aliados, não tinha outra escolha e na oportunidade escolhera Nilton Lamas, eleito pelo aliado PPS ou o vereador Doutor Oduvaldo, eleito pelo PTB. Optou pelo primeiro e, por coincidência ou não, teve grandes divergências com o trabalhista no início de mandato.

Agora, passados 25 meses, é realmente a hora de mudanças. Primeiro pelos vários motivos que citei, causando um desgaste natural na ex-liderança. Entretanto, o principal motivo é o pensamento em 2012. Com uma candidatura à reeleição eminente, Dr. Juraci precisa fortalecer sua base e o PSDB, partido do governador Marconi Perillo, sem dúvida é o alvo principal. E o novo líder, vereador James Borges, além de representar o prefeito na Câmara, terá a função de elo entre os tucanos e os democratas visando às eleições municipais.

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