Teste em massa conteve surto de coronavírus em Rio Verde
Município é o que mais aplicou o exame na população para detecção de vírus em Goiás. Proporcionalmente ao total de habitantes, foram 10 vezes mais testes RT-PCR que em Goiânia
Rio Verde é, disparadamente, a cidade de Goiás que mais testou os moradores para descobrir quem estava com Covid-19 tanto em números absolutos como proporcionalmente ao tamanho da população. Foram cerca de 12,5 mil testes RT-PCR, usado para detectar se a pessoa está infectada com o novo coronavírus (Sars-CoV-2) no momento do exame. É mais até do que os analisados pelo Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros em Goiás (Lacen-Goiás), para onde são encaminhados os testes RT-PCR liberados pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).
A maioria desses testes em Rio Verde foi feita entre os dias 5 e 7 de junho e financiada pelas indústrias locais após negociação com a vigilância epidemiológica municipal. Havia uma preocupação com o avanço da Covid-19 na cidade após ser constatado um aumento no número de trabalhadores destas empresas com sintomas. A testagem em massa foi eficiente para conter o surto, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), e evitar que se perdesse o controle da doença.
Um novo inquérito sorológico feito pela prefeitura de Rio Verde e concluído nesta quinta-feira (18) mostra que o percentual de moradores que já contraíram a doença se manteve estável nos últimos 15 dias. Algo em torno de 11 mil pessoas. O titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Eduardo Martins, disse que o novo relatório apontou 4,6% da população já com anticorpos. Há 15 dias, havia dado 4,8%, dentro da margem de erro. “O primeiro deu 0%, 15 dias depois foi para 4,8% e agora está em 4,6%, o que quer dizer que estamos conseguindo manter com viés de baixa”, disse.
Martins conta que a testagem em massa permitiu que a prefeitura identificasse não apenas as pessoas contaminadas no começo do mês como também todos seus contatos, deixando-os todos em isolamento e, assim, interrompendo um processo de transmissão da Covid-19. “Identificamos e bloqueamos a transmissão em cascata, que era o que estava acontecendo aqui. Em média, cada contaminado estaria passando o vírus para até 6 pessoas, de acordo com levantamento feito aqui. Conseguimos isolar estas pessoas e cercar a contaminação.”
O secretário também acrescenta outras três medidas como importantes para segurar o novo coronavírus em um momento no qual ameaçava ficar fora do controle: o fechamento temporário das principais indústrias da cidade, o recuo na flexibilização das atividades econômicas e o aumento no índice de isolamento social, que estava sempre abaixo de 40% e chegou por três dias a ficar acima de 50% (atualmente encontra-se acima de 40%).
“Podemos dizer que estancamos uma hemorragia. Localizamos quem estava contaminado, seus contatos, familiares, isolamos estas pessoas, e no momento a situação está sob controle”, disse Martins.
Para o titular da SMS de Rio Verde, entretanto, os próximos dias serão de possíveis notícias tristes ainda, pois é o período que coincide com o qual as pessoas que estavam com o vírus há duas semanas aparecem com os quadros clínicos mais graves, podendo resultar em mais óbitos. Nos últimos 10 dias, o número de internados em leitos de UTI na cidade (públicos e privados) subiu de 19 para 30 e de mortes, de 4 para 18.
Aparecida aparece em segundo entre as cidades goianas que mais testaram, mas lá a estratégia é diferente, pois a testagem começou há mais tempo, no final de abril. Foram até agora 11.184 exames feitos ao longo de um mês e meio, o que dá uma média de 19 testes para cada mil habitantes. Em Rio Verde, essa média estava em 53. Em Goiânia, onde foram feitos 7,1 mil testes pela Prefeitura, são apenas 5 testes por mil goianienses.
O professor e pesquisador do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), João Bosco Siqueira, que tem discutido junto ao Centro de Operações de Emergências (COE) de enfrentamento ao novo coronavírus da SES-GO a aplicação de testes RT-PCR e testes rápidos (que detectam anticorpos), diz que ação em Rio Verde foi importante para conter um surto que estava ocorrendo nas indústrias com grande reflexo na cidade. Entretanto, ressalta que este tipo de procedimento, feito de forma pontual e sem uma estratégia a longo prazo, funciona para um cenário específico e que não é suficiente para enfrentar o avanço a Covid-19 em um município.
Autoridades públicas alegam não haver testes do tipo RT-PCR em volume suficiente para aplicar nas cidades a estratégia da testagem em massa para conter o vírus. Siqueira acredita que ações como a de Rio Verde serão mais rotineiras em casos como surtos identificados em indústrias ou em ambientes fechados, como asilos de idosos e cadeias, para impedir um descontrole da contaminação.
Uma cidade em que se estuda a aplicação de testagem em larga escala é Anápolis, com características semelhantes às de Rio Verde (grande flexibilização das atividades econômicas e concentração de grandes indústrias). Em Anápolis, um inquérito sorológico recente identificou que até 7,8% da população já teria contraído Covid-19, porém apenas 4 de cada mil pessoas foram testadas.
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