Coronavírus em Goiás: marca de 104 mortes por Covid-19 confirma pior cenário no Estado

Estudo da UFG do mês passado, que projetava 106 óbitos pela doença em 26 de maio, prevê pico de casos em julho, acima da capacidade do sistema de saúde


O número de mortes em Goiás chegou a 104 nesta terça-feira (26), exatos dois meses após o primeiro registro de óbito, o da técnica de enfermagem aposentada Maria Lopes de Souza, de 66 anos, em Luziânia. O Estado foi o 22º a atingir o patamar de 100 mortes e o que mais demorou até o momento para isso: 62 dias. O Distrito Federal, por exemplo, demorou 57 dias, e São Paulo, 14. Até agora apenas 5 Estados não chegaram a 100 mortes: Acre, Tocantins, Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

Quando se compara com o resto do País, o cenário goiano parece bom, mas ao se olhar para os cenários futuros, a situação do Estado não é tão boa. Modelagens feitas por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) desde abril e confirmadas pelos números de óbitos registrados até agora apontam para mais de mil mortes até o final de junho e para o pico de casos de infecção do novo coronavírus em meados de julho, em um nível que colocará o sistema público de saúde goiano em colapso. 

A projeção feita em abril dentro do chamado “cenário vermelho”, o pior do quadro de modelagem do grupo da UFG, era de 106 mortes por Covid-19 nesta terça-feira (26). O biólogo e professor Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, que fez parte do levantamento, diz que o modelo desenvolvido por eles ficou sempre dentro da margem de erro de 3 óbitos para mais ou menos nos últimos 30 dias. 

“Espero que isso seja suficiente para convencer as autoridades. O vírus não é uma tempestade de um dia. Fica cada vez mais claro que desde abril estamos no pior cenário e o pico em julho é completamente insustentável”, afirma Thiago, referindo-se ao número de leitos de UTI e de enfermaria existentes para atender a demanda que o cenário aponta. 

Thiago explica que a curva de óbitos projetada na modelagem e confirmada pelo boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) está diretamente relacionada com os índices de isolamento social no Estado, que foram muito bons na segunda metade de março e começaram a cair em abril, chegando a ficar entre 35% e 38% durante os dias úteis desde o final do mês passado. 

Em entrevista no dia 15 de maio, Thiago havia dito que Goiás tinha 20 dias para fazer subir o indicador de isolamento, o que não ocorreu até agora. O prazo é porque a partir dos primeiros dias de junho a escalada de internações e óbitos será numa velocidade maior que a atual, segundo a projeção, e as medidas de isolamento tem impacto após duas semanas. 

“Esse prazo está praticamente acabando e o nível de isolamento ainda está baixo, continua caindo, ainda que menos do que antes, mas segue em queda em algumas cidades. Até junho precisa voltar a 50%”, comentou. 

Evolução rápida 
O superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Yves Ternes, afirma que as mortes por Covid-19 apresentam algumas situações mais graves do que outras infecções por vírus respiratórios, como uma maior velocidade na evolução do quadro clínico até o óbito e a forma mais agressiva com que ataca as comorbidades dos pacientes. 

Ternes conta que mais da metade dos casos de óbitos em Goiânia por Covid-19 são de pacientes que ficaram menos de 10 dias internados em um leito de UTI. Além disso, segundo ele, muitos dos pacientes com comorbidades que contraem Covid-19 que morreram chegaram ao óbito por agravamento das doenças pré-existentes diretamente relacionado ao vírus. “A Covid-19 acelera a comorbidade”, diz o superintendente, mais do que outros vírus, como a Influenza. 

Levantamento feito pelo POPULAR mostra que apenas 10 pessoas que morreram com Covid-19 não tinham comorbidade, mas, segundo Yves, é provável que estas pessoas tivessem algum outro fator que complicou o quadro clínico, como obesidade ou mesmo desnutrição. Ele conta que em um dos casos o paciente estava passando por uma dieta restritiva quando contraiu o vírus. 

O superintendente também destaca casos em que pacientesque vieram a óbito demoraram para procurar ajuda médica ou que num primeiro momento apresentaram sintomas leves ou características que não estão entre mais comuns de Covid-19 e, de repente, evoluíram rapidamente para um quadro grave. 

No site da SES-GO, Goiânia aparece com 43 das 104 mortes no Estado, seguido por Aparecida de Goiânia (9), Planaltina (5), Águas Lindas (4), Goianésia (3) e Luziânia (3).

O Popular

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