Em entrevista, Caiado fala sobre problemas e soluções para Goiás

“Em Goiás, implantei a mesma metodologia do presidente Jair Bolsonaro. Busquei pessoas tecnicamente em condições de fazer uma gestão em que haja parceria do Estado com o Governo Federal”, disse o governador


Em entrevista o  governador Ronaldo Caiado falou ao programa GloboNews Em Ponto, conduzido pelo jornalista José Roberto Burnier, na manhã desta quarta-feira. O governador do estado de Goiás falou sobre os principais problemas do estado.

Visão geral
Estamos assistindo a uma deterioração completa do quadro econômico do país. Nos deparamos com um quadro semelhante no meu estado de Goiás, mais ou menos uma cópia do que ocorreu no cenário nacional. Só que, aqui, por um período maior, por 20 anos.

Corrupção e vandalismo administrativo
Em Goiás, foi um processo associado à corrupção e, também, ao vandalismo administrativo, em que a máquina para reeleição era usada de maneira totalmente irresponsável para colocar pessoas que fossem lideranças de todos os municípios, comprometendo a receita e causando um colapso financeiro total.

Para ser ter uma ideia, eu recebi o governo com R$ 11 milhões em caixa e uma dívida de R$ 3,4 bilhões. É um processo de colapso completo, que levou o estado a um processo de concordata, de falência. Esse é o quadro que estamos recebendo, e a sociedade espera de nós soluções. Vamos ter que tomar medidas duras, romper com o processo anterior e instalar um governo que tenha competência administrativa e saneadora.

Salários dos servidores
Esse é o ponto nefrálgico, é a situação crítica. O ex-governador, para livrar o seu CPF, não empenhou a folha de dezembro. Veja a que ponto chegou. Então, essa dívida não existe. Ele, para não ser penalizado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, já que teria que deixar o depósito, ou seja, a receita do pagamento do salário de dezembro, sequer empenhou. Assim, estamos hoje com um problema que, do ponto de vista legal, precisa ser regularizado, mas não temos receita. Herdamos uma dívida de R$ 3,4 bilhões para saldar.

Saúde em colapso
Ao lado desse problema, temos outro grave: o colapso nas estruturas hospitalares do estado. O que se vê hoje são os pacientes internados e as distribuidoras não aceitam sequer repassar o medicamento. Esse é outro problema sério. Estamos lidando com vidas. Existe o Hospital Materno Infantil: é preciso ver o colapso daquela unidade, onde há crianças recém-nascidas com lesões graves. É algo avassalador. É insensibilidade. A pauta do governo era totalmente desumana. Era no sentido de se beneficiar politicamente.

Incentivos fiscais
Já fui ao Paulo Guedes, ao Tesouro Nacional. Goiás foi rebaixado para a letra D, não tem aval, não tem como contrair novos empréstimos.  Acredito que tenha sido o único governador que já conseguiu aprovar uma lei na Assembleia Legislativa, em menos de 30 dias, no ano passado, podendo aí recuperar R$ 1 bilhão na receita do estado com a redução dos incentivos fiscais para as empresas.

Auditoria nas secretarias
Implantei medidas de Compliance, um sistema de auditoria direta em todas as secretarias, no modelo em que foi feito pela Controladoria Geral Federal. Fiz com que 1.300 policiais retornassem às suas atividades. Realizei um corte de mais de 20% na máquina pública. Tenho feito um trabalho dia e noite.

Rodovias precárias
Nesta semana, estarei no interior do estado onde várias rodovias já estão intransitáveis. Começa o período da safra, e nós não temos mais estrada. Não é que estejam esburacadas, estão intransitáveis, por elas não se caminha mais. Estarei com os prefeitos da região, com os produtores rurais, com o que resta de máquina do estado, para poder dar trânsito a essas rodovias.

Reforma da previdência
Defendo a reforma da previdência com conhecimento de causa e com total convicção. Não tem espaço mais para o populismo, não tem espaço mais para tergiversar sobre esse tema, maquiar a crise. Essa é a realidade. Ou nós, governadores, vamos colocar a cara e assumir responsabilidades neste momento, ou todos os estados vão se transformar no Rio de Janeiro. Ou seremos um país como Portugal, que teve que cortar aposentadoria, cancelar pagamentos de aposentados. Como a Espanha, a Grécia. Nós estamos em marcha batida para isso.

Vivemos num momento em que não se pode fazer gestos que não condizem com a realidade. O diagnóstico do que foi praticado no país, nu e cru, é duro. Temos que ter a independência moral e intelectual para mudarmos a conduta e a prática no Estado. Ou, então, fica o cidadão brasileiro trabalhando 24 horas por dia, 365 dias no ano para pagar a máquina pública.

O quadro é esse a que estamos assistindo. Nós precisamos fazer com que haja conscientização por parte da sociedade. Ao não fazermos a reforma da previdência, ao não cortarmos na carne, o cidadão vai conviver com situações de desigualdade muito maiores, sem educação e sem empregos.

Máquina pública
As corporações precisam entender que é fundamental termos os servidores e as instituições, mas é essencial que o cidadão tenha garantias de saúde, educação e segurança, como também a sua aposentadoria, o seu salário. O Estado não pode ser máquina partidária, muito menos máquina eleitoral. A reeleição trouxe esse processo de total colapso na máquina pública, em que o governante não governa para o estado e nem para o seu povo. Governa visando exatamente a sua reeleição, e isso leva a essa situação, como a de Goiás, um estado rico, com grandes potenciais, geograficamente bem localizado, terras férteis, capacidade de industrialização superior à de muitos outros no Brasil. E chegou a uma situação como essa.

É deprimente o que fizeram com nosso povo e com nosso Estado. Então, é hora de assumir responsabilidades. Assumo a posição favorável de estar com a nossa bancada junto ao governo federal para implantarmos a reforma da previdência, como outras reformas que deverão vir, como a tributária, o mais rápido possível.

Reeleição
Nunca me interessei por reeleição. Sempre encabecei o movimento do Congresso Nacional para que cancelássemos a reeleição. Essa sempre foi a nossa proposta no Congresso, para que os mandatos tivessem cinco anos e que não tivesse reeleição no Brasil. O que nós estamos assistindo, na maioria das vezes, é aquele governante que realmente se ocupa em fazer a tarefa de casa, e aí dizem que ele não tem condições de ser reeleito. Os que usam a máquina de Estado e fazem todo tipo de populismo, maquiam as informações e, ao mesmo tempo, abrem espaço para que a máquina absorva todos os seus aliados e todos os municípios, esse aí tem perspectiva de ser reeleito. E, no final, é isso que estamos assistindo. Precisamos fazer com que haja um processo de moralização.
 
Equipe de governo
Em Goiás, implantei a mesma metodologia do presidente Jair Bolsonaro. Busquei pessoas tecnicamente em condições de fazer uma gestão em que haja parceria do Estado com o Governo Federal, que buscou ministros com representatividade em suas áreas de atuação.

Nova política
Se eu perguntar o nome dos ministros das gestões anteriores, a maioria da população não sabe. Eram indicados para cuidar desse ou daquele partido. Isso não é correto. Ministros têm que ser técnicos especializados em suas áreas. As urnas já mostraram isso, e quem não acordou não vai sobreviver politicamente.

A prática antiga já foi rejeitada pela população. É a voz do povo. É preciso governar com pessoas preparadas, voltando o olhar para a população. Em Goiás, eu estava contra a máquina estadual e contra a máquina federal. De 246 prefeitos, só 14 me apoiaram. Disputei contra o poderio, mas o sentimento de mudança falou mais alto.

Ministro da Economia
Minha vida sempre foi no parlamento. Na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, tive a oportunidade de falar com vários ministros da Fazenda. Agora, tive uma conversa com nosso atual ministro da Economia. O que me impressionou foi o seu “papo reto”, para usar a linguagem da juventude. Não tem enrolação. Ele é direto. Senti total confiança no ministro Paulo Guedes. Me encantou a maneira como ele assumiu, sabendo das dificuldades e com metas para resolvê-las. Não está enxugando gelo. Ele veio para resolver e acredito que terá a simpatia de todos os governadores, senadores e deputados para aprovar as reformas que o país precisa.

Congresso Nacional
Rodrigo Maia rapidamente colocará as pautas em votação. Então, não é a mudança da estrutura, é alguém que já conhece a rotina e que a vida toda priorizou a pauta econômica, que hoje também está sendo defendida pelo governo. Não existe interlocutor melhor para o presidente da República do que o deputado Rodrigo Maia. Eu acredito que na presidência, logo no primeiro semestre, ele vota na reforma da previdência. Ele tem habilidade para costurar o processo.

A segunda Casa legislativa vive um momento que jamais viveu. De 54 senadores da República, 46 são novos. Então o que existe no perfil do Davi Alcolumbre (senador/DEM-AP)? É um perfil aglutinador, perfil simpático. É um parlamentar que já tem experiência na Casa. É um interlocutor que chegará lá com total independência, que não vai utilizar o cargo para se proteger. Se trata de uma pessoa que estará em sintonia direta com esse movimento nacional, que é o de implantar mudanças importantes para o Brasil. Ou seja, para que não haja o engavetamento de projetos maiores e dificuldades na tramitação de matérias.

Partidos
Neste momento, nós temos que ter um sentimento muito maior, um ponto de concórdia, e nisto eu vejo um sentimento no Senado e na Câmara Federal. As urnas não escolheram partidos, mas, sim, candidatos que, muitas vezes, a maioria não sabia nem qual era o seu partido. Então, a consolidação da candidatura do Rodrigo Maia é pela competência, capacidade e méritos. É pela capacidade de aglutinar, ser interlocutor.

Segurança Pública
Vamos criar um núcleo para combater o crime organizado e a corrupção. Este é um núcleo de Inteligência que já tive oportunidade de apresentar ao ministro Moro (ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro). O que estamos assistindo é um acovardamento por parte do Estado Brasileiro para enfrentar o crime. Esta é a realidade.

As pessoas sabem quais são as cabeças responsáveis pela expansão das drogas nos estados e no país. Sabem quem são aqueles que comandam o roubo de carga, de armas e de gado. A Inteligência da polícia sabe quem são. Então, o que precisa é ter amparo e apoio do Governo para que possamos combater estes focos, que são determinantes no quadro de deterioração a que chegou o país. Goiás será o Estado mais seguro do país. Eu quero convidar quem mora no Rio de Janeiro e em São Paulo a se mudar para Goiás, que aqui vão ter segurança.

Entorno do Distrito Federal
Nós não podemos mais deixar que na região do Entorno do Distrito Federal porta de escola funcione como mercado de venda de droga. Eu não posso deixar que toda feira livre de meu estado também seja banca de mercadoria de droga. Mas, para coibir isto, é preciso ter a mão forte de um Estado para dizer que agora vai ter lei. E se o Estado não assume, e o policial vê o Estado se acovardando diante do crime, ele também não vai fazer nada. Por isso, no presidencialismo é fundamental que o governante tenha credibilidade moral. Se ele não tem, ninguém o respeita.

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