Do Rio Verde para Uber

A vida nada glamourosa de Bruno Paraíba, ex-atleta do Verdão do Sudoeste


Deixar suor e sangue em campo, muitas vezes, não é garantia de receber o princípio básico de toda profissão, o salário. Jogador tem família. Tem bocas pra alimentar e muitas pessoas que dependem dele. Quando o futebol não é mais fonte de renda, é hora de usar a cabeça não para pensar jogadas, mas sim garantir uma forma de sustento para si e seus entes queridos. Mesmo que seja uma decisão difícil, mais complicada que escolher em que lado  bater um pênalti decisivo, largar o futebol parece ser uma consequência natural após tanto tempo de descaso dos clubes com seus empregados.

Esse foi o caso de Bruno Paraíba, lateral-direito com passagens por Santa Cruz, Sport e Democrata. Mesmo conquistando títulos e recebendo propostas, ele decidiu dar um basta em vários anos de salários não pagos e promessas vazias dos dirigentes.

”Antes de entrar no futebol, pensei que seria bem de vida. Não chegou a ser um choque de realidade mas pensei que a vida de jogador fosse outra.”

O sonho de menino logo vira pesadelo quando as contas começam a chegar e o salário que deveria ser mensal, é pago sem um dia certo.

”Os salários nos clubes quase sempre atrasam. Não tem luxo, e a estrutura que se tem é simples. A alimentação não segue uma dieta para priorizar os jogadores, é algo bem básico.”

”O Rio Verde de Goiás foi o clube que mais passei por problemas em receber. Foi quase 1 ano jogando e nada de salário. Tudo era ruim, desde a estrutura até a comida. Não se tinha preocupação com os atletas que ali estavam. Foi uma época difícil.”

A situação se arrastou pelos clubes que Bruno ia passando, somando o total de quatro anos com salários atrasados.

”Sempre que saia de um clube, tinha a esperança de ir para um próximo e receber nos conformes. Mas era sempre a mesma decepção. Decidi parar porque de uns quatro anos pra cá, todos os clubes que passei não recebi.”

Diante de tanta estabilidade, o ex-jogador, que é pai de duas filhas, decidiu deixar o futebol em 2017 aos 30 anos, e buscar uma renda fixa, contando com a ajuda de um amigo para conseguir um emprego formal.

”Um amigo perguntou se eu queria trabalhar fazendo entregas. Não pensei duas vezes. Estava sem receber jogando em Brasília, e precisava de uma renda, já que minha esposa estava grávida. E te digo que valeu a pena. Não tem sensação melhor que você ter a segurança de em um dia certo ter dinheiro na sua conta. Sem precisar brigar com dirigente, nem ameaçar entrar na justiça. Fazer seu trabalho e receber deveria ser um direito básico de todo jogador.”

Buscando complementar sua renda, Bruno aproveitou a implementação do Uber em Campina Grande para aumentar seus ganhos.

”Quando não estou fazendo entregas, tô no Uber. Junto com meu emprego, o aplicativo me dá uma segurança de ter uma renda todo mês, algo que não tinha com o futebol. Antes temia realizar compromissos pois não tinha certeza de receber. No futebol tudo era incerto. Um dirigente de Natal me ligou perguntando se queria jogar no seu time, mas minha vida está nos eixos agora e não penso em bagunçar tudo de novo”.

Apesar de certo desgosto, o ex-jogador ainda pensa em voltar a calçar as chuteiras e contou do que sente falta nos gramados.

”Sinto falta do reconhecimento do trabalho. Do carinho da torcida. Isso era muito gratificante para mim. Já pensei em voltar, claro, pelo fato da saudade sempre existir. O futebol tem um lado muito bonito e apaixonante. E quem já viveu lá dentro é difícil conter essa paixão. Mas agora é bola pra frente e vida que segue.”

Sendo jogador, Uber, ou qualquer outro emprego, toda forma digna de sustentar sua família é válida. E dentro ou fora dos campos, Bruno Paraíba é o retrato de um brasileiro que apesar das dificuldades, busca sempre batalhar, nunca abaixando a cabeça e sempre buscando dar a volta por cima.

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