Histórias de quem é novo demais para contar histórias

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Se existe um lugar onde eu passei um bom tempo da minha vida, foi ali na Banca Tio Patinhas, na Rua Rafael Nascimento. Desde muito pequeno, sempre fui incentivado por meus pais a ler. Eles sempre viram aquilo como um "investimento".

Então era comum, logo que fui alfabetizado, a ver meu pai chegando em casa com um monte de gibis do Donald, Mickey e etc. em casa. Com o tempo, quando já tinha idade pra andar sozinho na rua, meu pai abriu uma conta lá na Tio Patinhas. Para mim, aquilo era o paraíso. Graças a essa conta, fiz a coleção "Mundo Animal", a "Biblioteca do Escoteiro-Mirim" e tantos outros.

Um pouco mais tarde, passei a colecionar os gibis da Turma da Mônica. Foi logo que passaram da Editora Abril para a Editora Globo, em 1986. Aliás, acho que essa foi a primeira publicação de peso na área de quadrinhos que a Editora Globo teve no seu escrete.

Pois bem. Mais que um lugar de comprar revistas, para mim, ir na Tio Patinhas era como estar em um parque de diversões. Passava horas ali, folheando o que iria comprar para ler com mais calma em casa. Já na adolescência, tive a oportunidade de comprar revistas importadas. Lembro que todas as importadas tinham um selo escrito "Fernando Chinaglia Distribuidora".

Durante a minha infância, a banca também fez muitas vezes o papel de minha babá. Era comum meu pai me deixar ali por algum tempo, enquanto ele ia ao banco ou fazia qualquer outra coisa. Ele tinha a certeza que dali eu não sairia. Uma vez o Edson (dono da Tio Patinhas) queria fechar, já era tarde, e meu pai não aparecia. Ele esperou até meu pai voltar e me buscar. Nesse dia, devo ter lido quase todos os gibis que ali estavam. Era proibido folhear as revistas, mas eu era um cliente tão bom que ninguém reparava.

É uma pena que a banca hoje não exista mais. Hoje as pessoas lêem cada vez menos. Pior para a gente e para a nossa cidade.