Crônicas rio-verdenses: a praça do Zero Grau

Histórias de quem é novo demais para contar histórias


Não sei o motivo, mas todo dia 21 de junho eu volto no tempo. Mais precisamente 25 anos atrás, quando o Brasil perdeu para França na Copa do México justamente neste dia. Eu era só uma criança nesta época, mas lembro de detalhes bem vivos daquele dia. O empate no tempo normal. Fernando Vanucci (ainda uma promessa na Globo) pedindo a todos que fizessem figa para ajudara a Seleção a garantir mais uma vitória.

O resultado, como vocês já sabem, foi ruim para o Brasil. Perdemos por 4 a 3 nos pênaltis e fomos eliminados. Ainda esperaria mias 8 anos antes de ver o Brasil levantar uma taça, mas isso não vem ao caso. Quero falar sobre a Rio Verde que conheci naquela época.

Em 1986, a cidade de Rio Verde era bem menor do que essa cidade que conhecemos hoje, aspirante a potência regional. Éramos uma cidadezinha pacata. Eu ia sozinho para a escola, a pé. Não havia nada de absurdo nisso. Todo mundo ia sozinho e a pé. Mesmo alunos da pré-escola. Não havia trânsito perigoso e todo mundo meio que se conhecia.

Nesse ano, estourou por aqui o filme “Top Gun – Ases Indomáveis”, e começamos a ver os Ray-Bans estilo aviador pipocarem por todo o lugar. Foi o ano de “Eduardo e Mônica”, da Legião Urbana e de “Alagados”, dos Paralamas do Sucesso. Quem reclama da vida noturna hoje em Rio Verde deveria então conhecer como era aqui 25 anos atrás. Nessa época, um lugar reinava praticamente sozinho como “o point” da juventude local: o Zero Grau. Um bar localizado na Praça Rodezir Baylão, mais conhecida como praça da Vila Carolina. No Zero Grau, encontrava-se toda a fauna da juventude de Rio Verde. Ali era o lugar para ver e ser visto.

O bar, que não era grande, ficava lotado. E os que não podiam entrar, ficavam fazendo a famosa "soca" na praça, com carros no último volume (Gol GTi e Escort XR3 eram os que mais faziam sucesso). A praça se transformou em uma aglomeração inacreditável de pessoas. Não sei se existe hoje um bar aqui em Rio Verde que consiga atrair tanta gente como o Zero Grau já atraiu. Meu pai costumava me levar lá nos finais de semana. Assisti show do Marcelo Barra e vi muita gente legal lá.

Falando assim, nem acredito na decadência do local. Em poucos anos, deixou de ser referência na noite da cidade. Virou autorama, alugavam Mega Drive e aquelas micro-motos. Foi lavajato. Mas nunca o sucesso do lugar se repetiu. Deve estar fechado há anos. De alguma maneira, a lembrança daquele local está associada à minha infância e à de muitos rio-verdenses.

Por Tizzo Neto

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