Sociabilização do gato filhote

A veterinária Mariana Paz Rodrigues dá dicas de como cuidar do seu animal de estimação


As primeiras semanas de vida são as que mais influenciam na definição do comportamento do gato. Desde como ele reagirá quando for acariciado até como se adaptará ao convívio com outros animais. Por isso, devemos aproveitar essa fase crítica do desenvolvimento para preparar bem o filhote para a vida adulta. Um gato acostumado desde muito pequeno a outros gatos, pessoas, barulhos e ambientes diferentes será um adulto mais aberto a novas amizades e experiências.

Numa ninhada há gatinhos mais corajosos e extrovertidos que outros. As diferenças de temperamento são influenciadas pela genética. Por isso, quanto mais anti-social e medroso for o gatinho, mais importantes serão os procedimentos de sociabilização. Embora não seja o único fator que determinará se o bichano será ou não mais amigável quando se tornar adulto, o procedimento contribui bastante para isso. Mesmo um filhote brincalhão e corajoso, pode se tornar medroso se não for bem sociabilizado com várias pessoas, com outros gatos e animais de outras espécies.

A socialização gradativa deve acontecer bem cedo, entre os 10 primeiros dias e a sétima semana de vida, que é quando o gatinho termina de desenvolver seu instinto de caça e também o medo de animais, como dos cães. É a hora de pegá-lo no colo (com muito cuidado), massageá-lo, apresentá-lo a todos da família (inclusive cachorros e outros bichos) e aos barulhos da casa. O gato deve vivenciar experiências boas com pessoas, outros gatos, outros bichos, sons, objetos e odores. A partir da sétima semana, essa socialização gradual é mais difícil. Apesar dessa fase de sociabilização ter enorme influência no comportamento do filhote, não quer dizer que podemos controla ou determinar o comportamento futuro do animal. Tanto filhotes como animais adultos podem se beneficiar de atividades de socialização durante a vida inteira.

Os filhotes também precisam se acostumar a passar um certo período de tempo sozinhos, afastados tanto de pessoas como de seus companheiros de ninhada. Isto ocorre por meio de um processo gradual em que começam passando períodos muito breves (cerca de dois minutos), cuja duração vai sendo gradualmente aumentada para períodos mais longos.

É importante recordar que, apesar de possuírem uma grande quantidade de energia, filhotes também se cansam muito depressa. Além de todos os períodos de socialização e de brincadeiras que lhes são designados, os filhotes também devem ter tempo suficiente para permanecerem sem seres perturbados, durante o qual podem dormir ou simplesmente descansar.

Estudos demonstraram que brincadeiras aproximam o gato das pessoas. Mas brincadeiras feitas com o uso do próprio corpo podem estimular a agressividade do gato para com as pessoas. Por isso, ao brincar prefira fazê-lo com algum objeto. Em vez de estimular o felino a morder ou a caçar a sua mão ou pé, use um cordãozinho ou uma bolinha, por exemplo.

Gatos acostumados a receber carinho nas primeiras semanas de vida tendem a procurar mais carinho quando adultos e a gostar de recebê-lo. Se ele não for muito fã de afagos, procure acariciá-lo durante as refeições ou enquanto a estiver preparando. Outro momento propício é quando ele estiver acordando ou quase dormindo, pois a ansiedade estará bem baixa.

Ensina-se o gato a tomar banho nas primeiras semanas de vida. Mas com muito cuidado para não transformar a experiência em trauma. Um erro clássico é tentar dar banho completo ao gato que nunca passou pelo processo antes. Se ele for contido por vários minutos contra a vontade, esfregado, enxaguado e secado, isso, além do pavor que a água é capaz de causar, pode fazê-lo associar o banho a algo odiável. O truque é acostumar o gato às fases do banho antes de dá-lo por completo, associando-as a coisas agradáveis, como brincadeiras e petiscos. Antes de molhar o felino, procure habituá-lo também com a toalha e o secador.

Tenha em mente que, mesmo uma intensa sociabilização do filhote, não há uma garantia de que o comportamento do adulto será amistoso, pois isso pode variar muito devido a fatores genéticos, maternos, manipulação precoce e as próprias experiências do gato. A sociabilização é um dos fatores de um conjunto que contribui para que o gato se sinta confiante e mais amigável em suas relações sociais.

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