O bicho: Insuficiência cardíaca em cães e gatos

A veterinária Mariana Paz Rodrigues dá dicas de como cuidar do seu animal de estimação


A insuficiência cardíaca é uma síndrome em que o coração não é capaz de responder às necessidades do organismo. Um animal com doença cardíaca não tem necessariamente insuficiência cardíaca, mas todo animal com insuficiência cardíaca tem alguma doença cardíaca anterior, que pode ser doença do miocárdio (o músculo do coração), sobrecarga de pressão sanguínea (animais hipertensos) e alterações no ritmo cardíaco.

Em pequenos animais, a insuficiência cardíaca é geralmente um problema crônico e tem efeitos prejudiciais em longo prazo e a falta de oxigenação celular leva aos sinais clínicos e morte. Os cães com insuficiência cardíaca geralmente apresentam tosse, alteração na frequência respiratória, intolerância ao exercício e aumento do diâmetro abdominal. Os gatos, por outro lado, normalmente têm dificuldade respiratória ou paralisia das patas traseiras. Nas duas espécies pode ocorrer a caquexia cardíaca, que é a perda de gordura corporal e massa muscular associada à doença cardíaca, fraqueza, fadiga, extremidades frias e membranas pálidas. A morte súbita é possível em qualquer animal com doença cardíaca.

A partir destes sintomas e da suspeita de insuficiência cardíaca, seu veterinário procede ao diagnóstico através de exame clínico e exames complementares como hematologia e bioquímica sanguínea (marcadores cardíacos no sangue), eletrocardiograma, monitorização Holter, radiografia torácica e ecocardiograma. Confirmada a suspeita, começa o tratamento, que é baseado na identificação e tratamento da doença primária. Procedimentos cirúrgicos podem ser curativos em algumas situações e algumas doenças podem ser tratadas medicamente. No entanto, o tratamento médico da insuficiência cardíaca é, na maioria dos casos, apenas paliativo e tem como objetivo prolongar e melhorar a qualidade de vida do animal. O principal objetivo da terapêutica da insuficiência cardíaca é aliviar os sintomas decorrentes da doença primária. Dessa forma, a terapia deve ser individualizada e para isso é importante determinar a causa e a gravidade. Episódios repetidos de insuficiência cardíaca aguda necessitam de hospitalização e são comuns em pacientes com insuficiência cardíaca crônica progressiva.

A dieta é um ponto importante no tratamento da insuficiência cardíaca. No passado, o tratamento significava dietas com baixos níveis de sal. Hoje em dia, conhece-se o papel de vários nutrientes importantes no tratamento (como a taurina, a L-carnitina e os ácidos graxos ômega) e sabe-se que tanto a deficiência como o excesso de certos nutrientes na dieta pode causar ou contribuir para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Outro aspecto importante relacionado à questão nutricional do paciente é a condição corporal, quer pelo excesso de peso (obesidade) ou pela carência em massa muscular (caquexia cardíaca).

Devido a cronicidade e progressão características da insuficiência cardíaca a reavaliação periódica é essencial. O tratamento deve ser ajustado com o evoluir da doença, alterando doses, adicionando ou retirando fármacos, modificando o estilo de vida ou a dieta. As medicações, doses, frequência, administração e qualquer sinal de toxicidade devem ser avaliados com o dono em cada visita ao veterinário, assim como a resposta ao tratamento, apetite e atividade do animal.

A educação e comprometimento do dono são fundamentais no tratamento da insuficiência cardíaca, pois é do dono que depende a regularidade da administração e, por isso, o sucesso da terapia instituída. Mas acima de tudo é o dono o responsável por identificar qualquer sinal de descompensação ou evolução da doença, julgar a eficácia do tratamento e levar o animal para as revisões periódicas. Para evitar a descompensação do quadro, cuidado ao deixar o animal cardiopata aos cuidados de outra pessoa não habituada à administração da medicação e lembre-se que não é porque seu animal está há tempos sem apresentar sintomatologia clínica que ele pode deixar de tomar a medicação!

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