O bicho: 'doença do carrapato'

A veterinária Mariana Paz Rodrigues dá dicas de como cuidar do seu animal de estimação


Os cães são suscetíveis à infecção por vários agentes transmitidos por carrapatos. As chamadas “doenças do carrapato” são hemoparasitoses, ou seja, são doenças causadas pela colonização de células sanguíneas por agentes parasitas.

Os agentes que costumam causar a maior parte das “doenças do carrapato” são Babesia spp., Hepatozoon spp., Ehrlichia spp. e Anaplasma spp., que são parasitos intracelulares obrigatórios (vivem dentro das células dos animais).

As hemoparasitoses têm grande relevância na clínica médica veterinária devido à alta frequência em que ocorrem. Tratam-se de doenças muito mais comuns do que anteriormente reconhecidas e, quando não tratadas, podem resultar em sinais clínicos graves e morte.

Os fatores que podem afetar a severidade clínica e a progressão da doença nos cães podem estar ligados à raça, diferenças individuais na resposta imune e carga infectante (número de carrapatos). Além disso, deve-se levar em consideração a idade e a possibilidade de doença concomitante.

Na doença aguda (surge logo após a picada), as “doenças do carrapato” são caracterizadas por progressão rápida, geralmente acompanhada de febre, anemia, emagrecimento, depressão, diminuição do apetite e queda no número de plaquetas, que são as células do sangue responsáveis pela coagulação. Por isso, as hemorragias na mucosa oral, ocular e genital, manchas roxas ou pontos avermelhados na pele, sangramento nasal e sangue nas fezes e na urina podem aparecer em animais severamente afetados. Também pode ocorrer aumento do tamanho do fígado, baço e linfonodos, distúrbios cardíacos e respiratórios e doenças oculares. Os sinais neurológicos são observados em cerca de 43% dos casos e incluem andar cambaleante, paralisia, hipersensibilidade generalizada ou localizada, tremores de cabeça e convulsões. Em estágios terminais da doença podem ocorrer coma e colapso cardiovascular.

Alguns animais, após serem picados e adquirirem um ou mais dos parasitos causadores das “doenças do carrapato” não desenvolvem sintomas imediatamente e a doença crônica surge após alguns meses da picada do carrapato e pode apresentar-se numa forma leve ou severa e seus sintomas são os mesmos da doença aguda.

O diagnóstico é através do exame de sangue (pesquisa do parasito) ou através de exames imunológicos que verificam a presença de anticorpos.

É imprescindível iniciar o tratamento imediatamente após a colheita das amostras para diagnóstico, de modo a obter uma boa resposta clínica. O tratamento é através de antibióticos específicos e, em casos mais graves, até transfusões de sangue são necessárias.

O prognóstico depende grandemente da progressão da infecção quando da instituição da antibioticoterapia, bem como da eficácia da terapia de suporte. Após o início do tratamento em animais sem sintomatologia neurológica ou grave disfunção de órgãos, a resposta clínica é rápida. Caso haja desenvolvimento de sinais neurológicos, a recuperação pode ser retardada e os déficits podem tornar-se permanentes.

A prevenção da doença tem um caráter de suma importância. Devido à inexistência de vacina contra esta enfermidade, a prevenção tem que ser realizada através do controle do vetor da doença, o carrapato. Para tanto, produtos acaricidas ambientais e de uso tópico são eficazes. Todo animal novo deve ser mantido em quarentena e realizado o tratamento adequado contra os carrapatos. Caso este for positivo para a enfermidade, deverá ser tratado antes de ingressar na criação. E evitar o acesso do cão à rua e/ou ambientes com muitos animais também pode evitar que seu animal adquira estas doenças que têm atingido tantos animais e causado tantas mortes.

Compartilhe

Comente: O bicho: 'doença do carrapato'